Cosette Castro
Brasília – Parece que foi ontem, mas em 20 de março as comemorações do dia internacional da felicidade completaram 12 anos.
Em 2011 a Organização das Nacões Unidas (ONU) definiu a felicidade como um direito humano. E, a partir de 2012, o Indice de Felicidade Interna passou a ser medido por seus países membros através de uma pesquisa internacional.
A ideia de medir a percepção da felicidade subjetiva e também como política pública surgiu há 52 anos no Butão (1972). Até então a felicidade e o bem-estar não eram levados em consideração na tomada de decisões de políticas públicas. Depois disso, passou a ser considerada uma responsabilidade dos Estados.
De 2012 para cá, a ONU estimulou seus 193 países membros a participarem da pesquisa medindo o índice de felicidade interna de suas cidadãs e cidadãos. E, a partir de 2013, o relatório passou a ser realizado anualmente.
Em 2024, mais de100 mil pessoas de 143 países participaram da pesquisa organizada pela Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável da ONU.
Os dados são coletados pela empresa Gallup Word Poll, composta por instituições e universidades voluntárias. Os pesquisadores se baseiam na economia da felicidade em contraposição à valorização apenas da riqueza, do rendimento e do lucro. Para além da economia, o estudo da felicidade inclui outros campos do saber como a Sociologia e a Psicologia.
O Relatório Mundial da Felicidade de 2024 (leia aqui) avalia a percepção individual de felicidade e também dados econômicos e sociais. Os estudos realizados até então mostram que a percepção de qualidade de vida não está restrita apenas à questão individual.
Para além do desejo de cada pessoa, em termos coletivos, viver com qualidade de vida gera satisfação, segurança e motivação. Isso aumenta a sensação de bem-estar e se reflete na percepção positiva sobre o próprio país.
A noção de felicidade cresce em países onde a qualidade de vida vem acompanhada da redução das desigualdades econômicas e sociais. Ou seja, o bem-estar coletivo gera a sensação de felicidade, como mostram os resultados obtidos pelos países do norte europeu. Entre eles a Finlândia, país que é considerado o mais feliz do mundo pelo sétimo ano.
Pela primeira vez a pesquisa leva em consideração o bem-estar e a satisfação das pessoas jovens, adultas e pessoas idosas. Ou seja, avalia os ciclos de vida. Este ano o cruzamento dos dados permitiu analisar diferentes gerações e também questões de gênero.
O estudo ainda leva em conta o processo de envelhecimento mundial e o aumento da longevidade que os países estão passando. Entre as pessoas 60 mais, a Dinamarca é o país mais feliz do mundo.
Este é um passo importante para olhar a vida como um todo, com seus diferentes momentos. E pode contribuir para reduzir o preconceito por idade, também conhecido por idadismo, ageismo ou velhofobia.
Pela primeira vez também o Relatório incluiu um capítulo sobre demências. Nele, os pesquisadores apontam o bem-estar e a qualidade de vida como fatores de prevenção.
As demências são doenças neurodegenerativas progressivas e sem cura que aparecem em geral por volta de 65 anos. Elas entristecem e também adoecem todo o entorno familiar, particularmente as cuidadoras.
E o Brasil?
O Brasil está um pouco mais feliz ao subir cinco posições no ranking e ocupa o 37o. lugar entre as pessoas acima dos 60 anos.
Você já imaginou em que posição poderíamos chegar se: 1. o Estatuto da Pessoa Idosa fosse integralmente cumprido, 2. se as aposentadorias do INSS tivessem um valor digno e 3. se houvesse campanhas nacionais sistemáticas de valorização do envelhecimento saudável e ativo e também de valorização das 32 milhões de pessoas idosas que vivem no país?
No mínimo melhoraria os níveis de esperança no futuro das 55 milhões de pessoas que se encontram na faixa dos 50 anos.
Ainda assim, no Coletivo Filhas da Mãe temos motivos para nos sentir esperançosas. Embora ainda vivamos em uma Sociedade da Violência, em termos coletivos estamos caminhando para construir uma Sociedade do Cuidado intergeracional. Essa caminhada está ocorrendo com participação social e com compromisso do Executivo, do Legislativo e do Judiciário. Algo inédito no país em termos de políticas de cuidado.
PS: Entre as pessoas até 30 anos o Brasil ficou em 60o. lugar no Índice de Felicidade Interna. Esperamos que o Plano Juventude Negra Viva lançado dia 21/03 pelo governo federal colabore para reduzir a desigualdade racial no Brasil.