Cosette Castro
Brasília – Não é todo dia que sou tomada pelo extraordinário, mas foi exatamente assim que me senti depois de ler o livro “A Natureza da Mordida”, da escritora mineira Carla Madeira.
Logo eu que, quando adoeço, prefiro livros policiais ou romances históricos. E filmes leves, como comédias ou filmes de aventura, em geral situados na Idade Media ou em locais indefinidos, como a Terra Media.
Em recuperação por Covid-19, em pleno isolamento obrigatório, ainda com dores no corpo, sono e falta de fome, recebi de Celinha Neves, da Coordenação do Coletivo Filhas da Mãe, um presente deixado na portaria de casa. E que presente! Uma pequena obra prima de 228 páginas, consumida avidamente no fim de semana.
Já o título suscita curiosidade.
Qual a natureza da mordida que o livro poderia mostrar, ainda mais que a divulgação anunciava uma história que se passava a partir de encontros dominicais entre uma psicanalista e uma jornalista em um sebo improvisado em uma banca de revistas de Belo Horizonte?
A partir da pergunta “O que você não tem mais que te entristece tanto?”, a autora convida não apenas a personagem Olívia, mas a todas nós a pensar em nossas perdas e dores. Mas é um livro que vai além de pequenos e grandes lutos.
A cada página é possível descobrir que há muitas mordidas no livro e que elas têm natureza diferente.
Há historias dentro de historias. Segredos que mordem e que vão sendo revelados aos poucos, seja nos encontros de domingos, seja nas anotações de Biá, apelido inventado pela psicanalista.
O livro também é um relato sobre demência que, pelos sintomas – esquecimentos, transtorno de humor, não reconhecer familiares e pessoas conhecidas, perder o senso de direção e de realidade – parece ser Alzheimer. Mas a autora não se propõe a escrever um livro sobre a doença.
“A Natureza da Mordida” é um livro sobre esquecimentos. E sobre tentativas de não esquecer.
Principalmente é um livro sobre dor, sobre amor e sobre a impossibilidade de seguir amando. Sobre historias interrompidas e sobre a dúvida se é melhor saber o motivo ou se doi mais o desconhecimento.
O relato também é uma homenagem a escritores, a várias obras primas e, especialmente a quem ama ler. E lembra como a leitura pode nos salvar em vários momentos, mesmo que não impeça a vida em si, com seus altos e baixos.
Aniversário
No Coletivo Filhas da Mãe temos muito a comemorar. Este é o terceiro ano de publicações do Blog no Correio Brasiliense, onde começamos em 05 de março de 2021, em plena pandemia por Covid-19. Esta é a nossa edição 239. Que venham muitas outras mais!
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