Cosette Castro
Brasília – No último domingo (18/02) antes de começar oficialmente o ano, o Bloco Filhas da Mãe saiu às ruas da Capital Federal.
Na festa de Pós-Carnaval não andamos nem brincamos sós. Desde 2020 estamos juntos com o Bloco do Rivotrio e, desde 2023, passamos a atuar como Coletivo de Blocos da Saúde Mental do Distrito Federal, que conta também com a presença de pessoas e grupos culturais do DF.
Damos visibilidade à questões de saúde mental em forma de folia e brincadeira. Ao sair às ruas saímos de nossa bolha, anunciando em alto e bom tom que “Ninguém Solta Mão de Ninguém”. E participamos de campanhas que vão além das demências, como a luta antimanicomial.
Em um mundo que incentiva as soluções individuais e a competição, realizar atividades em grupo é um exercício amoroso. E de muita organização.
Atrás da festa de Pós-Carnaval existe um trabalho conjunto que começou em outubro de 2023. Foram reuniões presenciais e online para construir um espaço de cuidado para quem vai participar da festa.
Em 2024, sob a coordenação do Bloco do RivoTrio, acrescentamos protocolos importantes no Pós- Carnaval.
Um deles diz respeito ao cuidado com o trajeto do cortejo e sua acessibilidade para diferentes pessoas e necessidades. Também levamos em conta as chuvas praticamente diárias nesta época do ano e o risco de galhos obstruirem a passagem dos foliões.
O segundo protocolo diz respeito a manejo de crise.
Todas as pessoas que participaram da Concentração de Pós-Carnaval receberam um cartão com perguntas sobre a saúde física e mental, medicamentos que utiliza e nome de uma pessoa de contato em caso de não se sentir bem. Esse cartão ficou guardado com cada pessoa e pode ser usado em outros momentos da vida diária.
A atenção com o cuidado coletivo e o manejo de crise foi mais ampla. Incluiu a organização de equipes móveis e uma tenda de acolhimento, sob a coordenação do Coletivo Bateu, especializado no tema.
A tenda foi instalada no final do cortejo, na quadra 208 Norte do Eixão. Já as equipes móveis de voluntários multiprofissionais atuaram durante a Concentração e também no trajeto do Cortejo.
Ainda durante a Concentração, contamos com uma equipe móvel da Campanha “Folia Com Respeito” que distribuiu materiais informativos e adesivos sobre assédio às mulheres no Carnaval, lembrando que “Não é Não”.
Há quem pense que Carnaval é só festa. Mas muito antes da folia começar houve um cuidado coletivo que, no domingo, começou antes do horário oficial da brincadeira.
Carnaval também é emoção.
Bastava ver pessoas com demências e suas cuidadoras (familiares e profissionais) brincando de roda, se dando a mão, se apoiando. Ver crianças e adolescentes com deficiência rindo e dançando conosco. Ou pacientes dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) participando deste momento de festa e inclusão.
A emoção cresce ao acompanhar pessoas de todas as idades se divertindo. Elas são a prova que as barreiras da idade e da diversidade valem a pena ser rompidas.
Merecemos ampliar nossas fronteiras todos os dias, apesar dos medos, das crises e dos desafios cotidianos de quem cuida, independente de quem cuida. Isso também é autocuidado.
PS: Hoje o Blog chega mais tarde, depois de um merecido descanso.
PS 2: Esta semana voltamos a dar palestras sobre demências dentro da campanha nacional de conscientização sobre Alzheimer, Lúpus e Fibromialgia.