Um Natal Para Chamar de Seu

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Cosette Castro

Brasília – O Natal está chegando.

Independente da religião que cada pessoa tenha, caso possua uma religião, é tempo de celebrar a  vida.

A graça da vida merece ser comemorada sempre. Todos os dias, apesar dos desafios que enfrentamos.

Algumas pessoas se recuperam de doenças. E isso merece celebração, mesmo que a lista de alimentos possíveis  de comer seja restrita. E que  a ceia se transforme em uma sopa ou caldo.

Outras não vão se recuperar e nem sabem disso. É o caso das demências, entre elas o Alzheimer.

Às vezes, o Natal só tem significado afetivo ou religioso para quem cuida. E já é um grande motivo para comemorar, apesar das dificuldades que a convivência com alguém com uma doença progressiva e sem cura impõe.

Mesmo que a ceia seja realizada mais cedo, para se adaptar aos horários do paciente. Ou que o encontro seja mais silencioso por amor e respeito à pessoa enferma. Pacientes com demência em geral têm sensibilidade a barulhos, televisão  ou música em alto  volume,  gritos ou risadas estridentes.

Há aqueles que sequer conseguem imaginar uma ceia de Natal, porque vivem em situação de fragilidade social. São milhões de famílias que não têm prato de comida diário para sua família. Eles representam 31,6% da população brasileira.

Enquanto isso, há pessoas decidindo para onde vão viajar, qual marca de vinho ou espumante vão tomar ou quantas pessoas virão pra festa de Natal. Há muitos Natais dentro do Natal.

É tempo de acreditar que um outro mundo é possivel. E lembrar que todos os dias há pessoas que saem de casa para ajudar  pessoas desconhecidas sem esperar nada em troca.

Elas participam de mutirões para organizar e  distribuir cestas básicas para famílias e presentes para as crianças. Visitam pessoas doentes, levam lembrancinhas em Instituições de Longa Permanência para Pessoas Idosas (ILPIs). E se tornam Papai ou Mamãe Noel para crianças que vivem em abrigos.

Há quem adote cartas de crianças com pedidos de Natal enviadas pelo Correio, como ocorre há mais de 30 anos pelo Brasil afora.

E tem pessoas que ofertam a sua voz como presente para comunidade, como é o caso dos corais, religiosos ou laicos. Ou do Grupo Serenata de Natal que alegra as noites das quadras do Plano Piloto, na Capital Federal, há 43 anos.

Há milhões de brasileiras e brasileiros anônimos envolvidos nessa rede de solidariedade.

E existe aqueles, como o Padre Júlio Lancelotti, que acolhem todos os dias do ano pessoas que perderam tudo, inclusive suas casas.

Há muito tempo o Pe. Julio deixou de representar apenas a igreja católica. Ele representa o que há de melhor no ser humano: o amor universal por todos seres. E isso é um grande motivo de celebrar a vida.

Para além do significado religioso do cristianismo, também é tempo de abraçar amigas e amigos. E  de ser  grata por eles existirem. Amizades podem surgir das experiências mais diversas e se manter por toda a vida.

Podem ser efêmeras, de curta duração, mas com significado. E só por sua existência, merecem ser celebradas.

Essas amizades também são família. Uma família escolhida, do coração.

Independente do local onde sua família de origem ou  escolhida viva, celebre com ela. Ainda que seja um abraço virtual regado a lembranças de um tempo que só existe na nossa memória.

Neste Natal, faça algo diferente:

– Bata na porta da pessoa que vive ao seu lado no prédio  ou na casa vizinha. Caso ainda não se conheçam, se apresente e deseje boas festas
– Telefone para sua família, mesmo que ainda haja lembranças doloridas das últimas festas
– Mande um beijo para amigas e amigos que moram longe
– Celebre com os porteiros a chuva que finalmente chegou
– Tome um longo e merecido banho. Ou faça um escalda pés
– Comemore o fato de estar viva.

Ainda da tempo de construir um Natal para chamar de seu.

PS: Em Brasília os festejos de Natal se estendem até o dia 01 de janeiro com atrações na Esplanada dos Ministérios, na Praça dos Buritis e também na Praça do Cruzeiro. Há um amplo serviço de acessibilidade: mediadores para a programação de cada dia,  protetores auriculares para autistas, audiodescrição com mediador, cadeira de rodas disponíveis para as pessoas e QR Code com mapas táteis para o acesso.

Cosette Castro

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