Cosette Castro
Brasília – Em teoria, o Natal é uma das épocas mais felizes e alegres do ano. Tempo de estar com a família. De sonhar com dias melhores.
Ou de decorar a casa com enfeites natalinos. De aumentar os níveis da cor vermelha e das luzes pela casa, nas portas e janelas. Ou no jardim, quando eles existem.
Tempo de lojas cheias e de comprar presentes. Muitas vezes em excesso. Mesmo prejudicando o orçamento dos próximos meses. Mesmo que as crianças e adolescentes não necessitem. Nem o filho ou filha de 35, 40 anos que ainda mora na casa dos pais.
Há pessoas que só compram presentes para os outros, esquecendo de ofertar um mimo para si mesmas. Esquecem de ser sua própria Mamãe Noel.
Por outro lado, dezembro pode ser o tempo de somente passar em frente às lojas, porque não há orçamento sobrando para presentes e gastos extras na família. Esta é a realidade de milhões de pessoas vivendo na informalidade, sendo chefes de si mesmas. Onde não existe a garantia do 13o. Salário nem direitos trabalhistas. Ou das pessoas que estão à procura de um emprego.
O período pode ser um tempo de felicidade forçada onde há um apagamento de quem não se sente feliz e contente. Muitas vezes não notamos os sintomas de tristeza nas pessoas que vivem ou trabalham ao nosso lado.
Há momentos em que a chamada alegria natalina existe apenas nos comerciais de televisão, no rádio ou na Internet. Ou na casa da vizinha onde, em geral, imaginamos que a grama é mais verde e isenta de problemas.
Em outras ocasiões, o Natal representa uma alegria que só existiu quando a família de origem era grande e todos se reuniam em volta da mesa e trocavam presentes sem brigas, comparações ou discussões políticas. Ou que existiu quando os filhos eram crianças.
Nessas situações, pode haver um luto contido. Uma negação da dor, perdida em meio às boas lembranças do que já não existe mais.
Mas e quando não há família? Filhos ou netos? E quando eles moram longe e a saudade só pode ser reduzida durante os encontros virtuais? Em geral, há um luto em vida, determinado pela distância e pela dor. Ainda que, racionalmente, seja possível entender as escolhas dos filhos, nem sempre nossa saudade tem o mesmo nível de compreensão.
Às vezes, o tempo de Natal e Ano Novo passa a ser uma triste lembrança. Há casos em que alguém perdeu um ente querido nessa época. E as festas de fim de ano podem significar reviver aquela dor.
Há quem tenha se separado no Natal. E os sonhos de uma vida feliz se desfazem, abruptamente ou aos poucos.
As separações nem sempre ocorrem de forma amigável e, em geral, dividem as famílias tanto na vida cotidiana como na emocional. É possível que essas pessoas, de diferentes gerações, ainda estejam de luto, mesmo que sequer se dêem conta disso.
Nestes casos, a pessoa adulta ainda pode estar lidando com a divisão da casa, de objetos, negociando o cuidado de filhos, animais de estimação e até a perda de amigos comuns, divididos entre um e outro lado.
Todos os exemplos acima podem ser consideradas micro ou grandes dores que deixam marcas no corpo, física e emocionalmente.
Não é por acaso que projetos como o do Centro de Valorização da Vida (CVV) aumentam o número de plantonistas voluntários durante as festas de Natal e Ano Novo atendendo 24h no número 188 e também no serviço virtual (Link aqui).
Essa época pode escancarar a tristeza e sensação de não pertencimento por não sentir alegria. Ou pela sensação de desespero e falta de esperança. Principalmente para as pessoas que moram sozinhas. Algumas delas não têm com quem partilhar as festas de Natal e Ano Novo. Não recebem presentes e nem têm alguém especial para presentear.
Entre as cuidadoras familiares, por exemplo, há aquelas que passam as festas de fim de ano sozinhas com um ente querido com demência. Nem sempre são lembradas por outras pessoas da família e nem mesmo pela pessoa que cuidam diariamente.
As festas de Natal e Ano Novo podem ser difíceis para quem não sabe lidar com os términos (de ano, por exemplo) e sentem vazio existencial.
Pensando nisso, o grupo inFinito, que desenvolve projetos para tratar da finitude, criou um Calendário de Advento para o Luto com duração de 22 dias. O calendário está disponível no Instagram e também na página no Facebook.
Caso você esteja passando por um momento como os que foram citados acima, vale a pena pedir apoio na sua rede de acolhimento, para pessoas conhecidas, amigas ou vizinhas. Ou para grupos especializados.
PS: No sábado, dia 16/12, comemoramos os quatro anos do Coletivo Filhas da Mãe e fizemos a assembleia de formalização. Veja aqui as fotos e vídeos.
PS2: No domingo, dia 17,12, realizamos a Trilha Fungi, a última caminhada de 2023 do grupo Caminhantes do Coletivo, com muito aprendizado e contato com a natureza. Vejas as fotos e vídeos aqui.
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