Ana Castro, Cosette Castro & Convidado
Brasília – O domingo, 10 de dezembro, foi o dia internacional dos direitos humanos.
Há 75 anos, em 1948, foi criada a Declaração Universal dos Direitos Humanos (leia aqui) que ainda é desrespeitada em vários países, inclusive no Brasil. Isso ocorre em diferentes áreas, como no envelhecimento e entre a população LGBT+.
Nesta edição convidamos Luis Baron, presidente da Associação EternamenteSou e autor do livro “O Brilho das Velhices LGBT+”. Hoje ele escreve sobre as diferentes velhices e o apagamento da população LGBT+.
Luis Baron – “Em julho passado, estive como delegado eleito na 17ª Conferência Nacional de Saúde, em Brasília, o que trouxe muito orgulho e alegria. Foi uma experiência que mudou meu olhar sobre a vida e sobre de quem participou. Havia 6 mil pessoas participando, entre elas 4000 pessoas delegadas.
Circulavam pela Conferência muitas representações: dos povos originários do Brasil, representantes das comunidades quilombolas, da comunidade preta, pessoas da área de saúde, assistência social, LGBT+. Enfim, um show de democracia.
Quando a plenária da conferência começou, estávamos, eu e outras pessoas que trabalham com questões relacionadas às velhices e de saberes múltiplos e reconhecidos, tanto pela academia, quanto pela lida diária com o tema, juntos e acompanhando atentamente.
No decorrer do dia, percebemos que, não só as mesas não apresentavam protagonismo de pessoas idosas, como os temas estavam longe de trazer para discussão as questões das pessoas 60+. Foi uma bofetada na cara e, por pura sorte, conseguimos uma fala de 2 minutos para trazer o tema à tona.
O que isso significa? E por que, alguém como eu que trabalha com pessoas da comunidade LGBT+ acima dos 50 anos, começa este texto com essas informações?
Simples, pois isso denota como as velhices são tratadas no Brasil e como muitas vezes sinto que “pregamos para os já convertidos”, como diria meu amigo, o geriatra Dr. Milton Crenitte.
Onde a velhice não é um tema central nas discussões, o que significam, o que representam as velhices, em especial às velhices LGBT+?
As pessoas que chegaram aos 60 anos ou mais tendem a serem demovidas de suas características individuais e do que as fazem seres únicos e brilhantes, para serem tratadas como pessoas velhas, assexuadas e improdutivas.
A velhice é hegemonicamente heterossexual.
E as pessoas cuja sexualidade é divergente do padrão “heteronormativo”?
Aí entra nosso trabalho, cuja complexidade está longe de ser entendida até por nós que dirigimos a Associação EternamenteSou, voltada para o cuidado psicossocial das pessoas LGBT+ com mais de 50 anos. E, no caso de pessoas trans e travestis, com mais de 40 anos.
O que significa ser uma pessoa LGBT+ idosa num país onde a sexualidade das pessoas acima dos 60 anos é apagada?
Significa destituir essas pessoas da orientação sexual que as norteou por uma vida e da identidade de gênero que é uma conquista existencial. Ao chegarem à velhice, muitas delas precisam renunciar a suas individualidades para serem acolhidas, seja por alguém da família ou por espaços/equipamentos públicos ou privados.
Eu costumo dizer que minha sexualidade me trouxe até aqui. Sou quem sou por ser o que sempre fui, nem mais nem menos!
Sou um homem cis, gay de 63 anos, cuja existência tangencia a dos meus pares nessa vida e de pessoas que a vida foi me presenteando ou me impingindo.
Falar sobre velhices divergentes, sobre as questões LGBT+ é falar sobre sexualidade, dentro da sua profundidade e grandeza. Somos um oceano de possibilidades e nossa riqueza reside nisso também.”
No Coletivo Filhas da Mãe acolhemos todas as pessoas. Todas as pessoas que defendem a vida e os direitos humanos são bem-vindas.
PS: Convidamos você a comemorar conosco os 04 anos do Coletivo, no sábado, 16/12, com almoço compartilhado das 12 às 14h. A confraternização vai acontecer no Salão de Festas do Bloco B da SQS 108, Asa Sul, em Brasília. No mesmo local, das 14 às 16h30, teremos a assembleia de formalização do Coletivo (Edital aqui).
PS 2: Foi lançado hoje o Observatório Nacional dos Direitos Humanos que oferece dados sobre populações fragilizadas, entre elas os grupos 60 anos ou mais e grupos LGBT+ ( Leia aqui).
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