Cuidado Para Toda Vida, Inclusive na Velhice

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Ana Castro & Cosette Castro

Brasília – Esta semana participamos da Audiência Pública na Câmara Federal sobre os “Avanços e Perspectivas para o Estatuto da Pessoa Idosa”.

Cosette representou o Coletivo na mesa sobre Política Nacional para o Cuidado Integral. A sua fala reflete algumas propostas do Coletivo sobre o tema.

Cosette Castro – “Consideramos o cuidado, o direito a ser cuidada e ao autocuidado como direitos humanos. Até brincamos que o mantra do Coletivo Filhas da Mãe é  cuidado e autocuidado.

Consideramos o envelhecimento saudável e ativo como um direito humano para vida digna. E o direito à informação como um direito humano a ser exercido todos os dias.

Sem informação e campanhas permanentes continuaremos sem que a população conheça, por exemplo, o Estatuto da Pessoa Idosa. Ou que ele seja totalmente implementado.

Sugerimos que o Estatuto seja ensinado nas escolas e  precisamos campanhas nacionais para a população.

É preciso informar sobre a política nacional de cuidado integral para a pessoa idosa e a futura política nacional de cuidado. Assim poderemos estimular a co-responsabilidade do cuidado, combater o preconceito por idade e estimular as relações entre diferentes gerações.

Sugerimos a criação nas universidades de uma disciplina obrigatória em todos os cursos de graduação levando em conta a transversalidade do tema envelhecimento.

Uma disciplina que contemple o cuidado  e autocuidado como direito humano, o envelhecimento saudável e ativo, as relações intergeracionais e o  Estatuto da Pessoa Idosa. Também precisamos multiplicar o conhecimento sobre demências e outras doenças sem cura,  sobre cuidados paliativos e finitude.

Sugerimos a formação  permanente  e contínua dos servidores públicos para que aprendam a exercitar o cuidado integral das pessoas idosas, respeitando a diversidade do envelhecimento.

Precisamos urgentemente sair da Sociedade da Violência para  construir a Sociedade do Cuidado. Sair das violências cotidianas, da negligência, do abandono e do etarismo contra pessoas 60+.

Recentemente um juiz de direito negou proteção a uma mulher idosa que havia sofrido violência doméstica pela Lei Maria da Penha. A justificativa é que ela é uma pessoa idosa.

Esse juiz tirou o direito dessa senhora ser uma mulher porque ela envelheceu. Esse apagamento é mais um exemplo das violências que as mulheres idosas sofrem cotidianamente em casa e em instituições públicas que deveriam protegê-las.

No que diz respeito às cuidadoras familiares, gostaríamos de lembrar que elas estão adoecendo física e mentalmente, estão endividadas e empobrecendo cada vez mais. E estão envelhecendo sem nenhuma visibilidade e com pouca proteção social.

Cuidadoras familiares, independente de quem cuidam,  têm direito a uma remuneração mensal. O cuidado é um trabalho invisível. E elas têm direito à aposentadoria, levando em conta os anos do cuidado familiar. Nos casos de demência, por exemplo, uma pessoa doente pode necessitar cuidados por 20 anos ou mais.

Sobre cuidado integral, lembramos a transversalidade do envelhecimento. Sugerimos a articulação das políticas existentes no Estatuto, como as de saúde, previdência, assistência social, alimentação transporte, educação, cultura, tecnologia, etc.

Aqui há outro preconceito contra pessoas idosas: o discurso que apenas pessoas 60+ têm dificuldades tecnológicas.

Somos um país com 30% de analfabetos funcionais (que não entendem o que lêem)  e outros 5,6% de analfabetos totais. Temos um grande número de analfabetos e semi-analfabetos digitais.

Quase toda população têm celulares, mas somos um país que usa aparelhos pré-pagos e têm  internet precária. Isso ocorre em todas as idades. Sugerimos uma grande campanha de alfabetização e inclusão digital.

Sugerimos o estímulo urgente à intergeracionalidade com a construção de creches e escolas públicas perto de centros dia e Instituições de Longa Permanência para Pessoas Idosas (ILPIs) públicas, possibilitando a convivência e projetos entre diferentes gerações.

E sugerimos a realização de um Censo Nacional sobre Cuidado, seja ele Remunerado ou Não Remunerado. A proposta é colocar (e manter) a questão do cuidado no centro do debate nacional.

Além das questões de raça, gênero, classe social e local de moradia, é urgente incluir cruzamentos com o número de chefes de família entre quem cuida e o número de mães e avós solo. E avaliar categorias fundamentais como saúde física e mental /adoecimento, endividamento e envelhecimento de quem cuida.”

PS: Hoje é o dia internacional de luta contra a AIDS, instituido há 35 anos pela Organização das Nações Unidas (ONU) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, mais de um milhão de pessoas convivem com a doença. Mas quase 200 mil ainda não se tratam, especialmente mulheres.

PS 3: Nesta sexta-feira a ONG Eternamente Sou vai realizar o 6o. Seminário Velhices LGBT, com o tema Velhices Possíveis. O Seminário estará disponível no Instagram ou pelo Canal do YouTube da Eternamente Sou.

PS 2: Estamos preparando a festa de quatro anos do Coletivo  para o dia 16/12. No mesmo dia, faremos a assembleia de formalização, a partir das 14h. Edital com local retificado aqui. Esperamos vocês!

Cosette Castro

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