Vidas Idosas Importam

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Ana Castro, Cosette Castro & Convidada

Brasília – Esta sexta-feira começamos o Blog  com o convite para a Caminhada Solidária em Defesa das Pessoas Idosas no domingo, 19/11, na Capital Federal.

A Caminhada  Solidária começará  às 8h30,  saindo da Quadra 203 do Eixão da Asa Norte em direção a Quadra 208. A proposta é, além de prevenir a saúde, apoiar o dia nacional em defesa das pessoas idosas lembrando que Vidas Idosas Importam.

Na edição de hoje trazemos o depoimento de Adele Rossi Heudis, de Brasília. Ela é ceramista e sócia do ateliê Encanteria. Também é cuidadora  familiar de sua mãe. Mas isso é pouco para descrever as múltiplas facetas de cuidadora de Adele.

Adele Rossi Heudis – “Hoje a minha funcionária do lar faltou por causa da greve de ônibus. Greve em plena segunda-feira.

Acordei (mais) cedo com a notica da paralisação. Fiz o café para todos. Tenho um filho adulto em casa e, há um mês, minha filha que mora no Canadá está aqui, além de meu marido.

Minha filha já havia descido com os cachorros e arrumado a varanda deles. Ela fez isso e outras coisas sorrindo. Veio do Canadá pra me ajudar. Ela me traz a paz e a saúde mental que preciso. Sempre pergunta se estou bem ou precisando de algo. Ela me abraça.

Fiz almoço para todos, incluindo minha mãe. Lavei roupa, louça, banheiro, varri casa, fui ao mercado e chorei. Tudo pela manhã. São tarefas não remuneraras e constantes que ninguém nota.

A tarde, fui ao ateliê de cerâmica e pintura em porcelana. Tinha um cano havia estourado e estava tudo alagado. Eu e minhas sócias limpamos tudo. Tive de  trabalhar correndo, pois as encomendas para o Natal são muitas.

Além do ateliê, sou curadora da minha mãe. Também sou mãe, madrasta, esposa, sócia, profissional, amiga, vizinha, avó e tutora de animais. Por  último, Mulher, acumulando todas as funções neste dia.

Minha mãe quase não fala mais.  Usa fraldas, come, dorme, toma banho, faz exercícios. Tudo com auxílio. Toma uma infinidade de remédios e recebe cuidado 24h.

São cinco anos de demência mista: Fronto- temporal  (DFT) e Alzheimer já diagnosticados. Fora os demais anos de espera, sem saber direito. Sem  diagnóstico fechado.

Assim que terminei o trabalho no ateliê, fui cuidar da minha mãe e colocá-la para dormir. Como todos os dias. Ela repete e cochicha quase sempre as mesmas frases, segurando minha mão até dormir. Ainda voltei para o ateliê, e só agora, tarde,  escrevo para vocês.

Apesar de todos os cuidados, ela está quase acamada. Não reconhece mais os filhos. Ninguém. Somos cinco irmãos, mas só três moram em Brasília.

Sou a mais velha e curadora permanente, depois de um longo período na justiça, brigando com uma irmã, mas com o apoio dos outros  três irmãos.

Meu marido e meu filho  quase não ajudam. Meu marido está em depressão. Quanto mais  preciso, mais ele afunda nos seus problemas.  Ele foi educado para receber. E fico me sentindo invisível, como se tivesse que cuidar dele também. Isso me assusta.

Tenho me sentido muito cansada, esgotada, com uma imensa demanda de cuidados. Principalmente por ver minha mãe virando uma criança em posição fetal, despendente de tudo aos 86 anos.  Foram muitos anos de sofrimento e depressão ao lado do meu pai, que faleceu em 2020 em  consequência da Covid.

Aproveito para agradecer  por ter uma secretária do lar ao meu lado. Ela é uma companheira e amiga que me ajuda muito. Somos mulheres que se abraçam. Ela tem um carinho enorme por minha mãe e minha mãe por ela. E eu, pelas duas.

Escrevo este texto a convite da Cosette que colocou no grupo de WhatsApp. “Escrevam, Mulheres. Escrevam. Contem suas histórias de cuidadoras”.

PS: Este texto foi recebido um dia após a prova do ENEM 2023, cuja redação tratou sobre o trabalho invisível feito por mulheres no Brasil e mobilizou o grupo de WhatsApp durante todo o domingo (05/11).

PS 2: A partir de domingo começa em Brasília o  XV Encontro Nacional dos Fóruns Estaduais e Distrital da Sociedade Civil em Defesa das Pessoas Idosas.

Cosette Castro

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