Ana Castro, Cosette Castro & Convidada
Brasília – Um dos temas mais comentados nas redes sociais desde a semana passada é o filme da Barbie (trailer aqui). Portanto, não estranhe se encontrar na rua, no ônibus ou no metrô grupos de mulheres usando rosa.
O filme, dirigido por Greta Gerwig, aproveitou a memória afetiva que a boneca mais vendida do mundo provoca em diferentes gerações para se tornar um êxito mundial de marketing.
A história mostra o posicionamento cada vez mais contemporâneo da Mattel, empresa que comercializa a boneca. No filme aparecem várias Barbies, dando espaço para a diversidade de mulheres que existe no mundo.
Mas o que Barbie nos diz sobre cultura popular e envelhecimento feminino? Para refletir sobre o tema convidamos a médica gerontóloga Andrea Prates, que há cerca de 40 anos estuda envelhecimento.
Andrea Prates – “Barbie, a personagem do momento, tem a minha idade – 64 anos.
Lançada em março de 1959, na feira anual de brinquedos de Nova Iorque, foi um sucesso imediato com seus cabelos loiros, olhos azuis e corpo esguio. O modelo branco de perfeição.
De lá para cá, tornou-se ainda mais alta, mais esbelta, mais loira. E faz ainda mais sucesso. Um verdadeiro ícone da cultura pop, ela já apareceu em múltiplas versões que fazem a alegria de colecionadores.
Hoje é possível encontrar do modelo mais tradicional à Barbie sem gênero definido, passando por homenagens como a feita à cientista brasileira Jaqueline Goes de Jesus (responsável pelo sequenciamento do genoma da Covid-19). Há ainda a Barbie cadeirante, a transexual e as de diferentes tons de pele, inclusive com vitiligo.
A boneca ampliou, e muito, a representatividade das mulheres. Ganhou vida profissional em diversas áreas, apoiou causas sociais e, ao mesmo tempo, segue exibindo sua versão mais glamourosa em vestidos de gala. Em meio a esta diversidade, o que nunca vimos foi a Barbie envelhecer…
Ela se mantém jovem e esbelta, o ideal imaginário de perfeição, com o qual gerações e gerações de meninas cresceram. Elas se atormentaram para tentar atingir um padrão irreal de status e aparência – o suplício de gerações de morenas, negras, baixas e gordinhas. E das menos afortunadas que não podiam ou ainda não podem adquirir um exemplar da boneca mais famosa do mundo.
Vivemos boa parte da vida em meio a essa cultura que reforça a objetificação feminina por parte de uma sociedade machista que cultua um padrão despótico de beleza e juventude. Ainda bem que Barbie já está disponível com outros tipos de corpos, etnias e altura, indicando uma mudança importante para as novas gerações.
No entanto, após a vida reprodutiva, somos ainda fadadas ao (eterno) cuidado de tudo e todos. Sem tempo para cuidarmos de nós mesmas e de nossa saúde física e mental. Além disso, sofremos pressão estética ao envelhecer, o que afeta nossa autoimagem e autoestima.
Mas somos muitas.
Equivalemos a 51,1 % da população brasileira de 212,6 milhões de pessoas. E, com a tendência irreversível de envelhecimento populacional, confirmada pelo Censo 2022, o número de mulheres com 50 ou mais anos irá crescer ainda mais. Há uma consolidação do superávit do sexo feminino a partir da terceira década, que aumenta progressivamente a cada faixa etária.
Este contingente enorme de mulheres, cada vez mais longevas, precisa estar atento às construções sociais a que fomos (ou seguimos sendo) submetidas. Entre elas as que aparecem através de bonecas. E atentas sobre a necessidade de refletir e criticar essas construções.
Ninguém fica congelado no tempo como a boneca. Mas podemos seguir com beleza, saúde e bem-estar. Com autocuidado, podemos ter uma vida plena. Principalmente se tivermos políticas de apoio e também se enaltecermos a nossa idade e celebrarmos nossas conquistas.
É preciso normalizar o envelhecimento como processo natural da vida. E o cuidado como essência do ser humano, independente de gênero.
Na vida real as Barbies também envelhecem. E precisam ser cuidadas como todas e todos”.
Nós, do Coletivo Filhas da Mãe, acreditamos que bonecas e bonecos devem apresentar diversidade de corpos, etnias e idades. Não somos perfeitas. Aceitar as diferenças começa na infância e na família, o que ajuda na autoaceitação e no cultivo do autocuidado no decorrer da vida.
PS: Hoje é o dia internacional do autocuidado. Você tem encontrado espaço na agenda para você?
Envie para o grupo de WhatsApp do Coletivo ou para o Instagram @blocofilhasdamãe um vídeo (até 1 minuto) ou fotos com pequeno texto (até 1 parágrafo) contando o que é autocuidado para você e como encontra espaço para se cuidar.
PS 2: Hoje começou a participação do Brasil no Campeonato Mundial de Futebol Feminino 2023. Vamos prestigiar! Será a despedida da Marta que recebeu seis prêmios de melhor jogadora do mundo da Fifa.
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