Ana Castro & Cosette Castro
Brasília – Esta semana ficamos muito emocionadas. E este sentimento segue reverberando entre as participantes do Coletivo Filhas da Mãe.
Na quarta-feira, 15 de março, estivemos no plenário da Câmara Legislativa do Distrito Federal. Ao lado de outras 14 pessoas e instituições, recebemos o IV Prêmio Marielle Franco de Direitos Humanos . O prêmio foi entregue pelo deputado Fábio Félix (Psol), presidente da Comissão de Direitos Humanos (CDH).
Ao considerar o cuidado e o autocuidado como um direito humano, a CDH reforça a importância estratégica da saúde metal para uma vida digna e saudável.
Estamos emocionadas pelo prêmio, mas também pelo importante trabalho desenvolvido pelos demais contemplados no Distrito Federal.
Os 15 prêmios foram destinados a pessoas e instituições (veja aqui) que defendem os direitos humanos, promovendo o bem-estar físico e emocional da população. Particularmente aquelas em situação de fragilidade.
Hoje compartilhamos a íntegra do discurso que Cosette Castro leu representando o Coletivo.
“É com muito orgulho que estamos aqui em nome do Coletivo Filhas da Mãe. Estamos muito honradas por esse reconhecimento.
Estamos honradas por receber um prêmio de direitos humanos. Acreditamos que cuidado e autocuidado são um direito humano.
Estamos honradas por receber um prêmio que se chama Marielle Franco, mulher negra, socióloga e política. Uma defensora dos direitos humanos cuja voz segue se multiplicando em cada uma de nós.
Somos um grupo informal que tem 03 anos de existência. Ele foi criado como uma rede de apoio às pessoas que são ou foram cuidadoras familiares de pessoas com demências.
Demências são doenças neurodegenerativas sem cura. A mais conhecida é o Alzheimer. Enfrentamos o desafio cotidiano de assistir um familiar perder a memória e não nos reconhecer mais. Mas a perda da memória é apenas um dos desafios da demência.
No começo, em dezembro de 2019, éramos literalmente 05 filhas da mãe. Nossas mães estavam com Alzheimer.
Naquele momento, sentíamos falta de um espaço que não falasse apenas da doença, mas também de quem cuida.
A nossa pergunta inicial foi: quem cuida de quem cuida?
Vocês vão notar que falamos no feminino. Segundo o IBGE, 96% da atividade do cuidado é realizado por mulheres. Então, sim, seguiremos subvertendo a língua portuguesa que foi escrita por homens no tempo em que as mulheres eram obrigadas a ficar de boca fechada.
Pensamos que, em meio a dor de sermos esquecidas por nossos entes queridos, dos desafios que o cotidiano do cuidado familiar impõe, precisávamos de alegria e diversão para tentar manter a saúde mental.
E daí nasceu o Bloco de Carnaval Filhas da Mãe. E com ele nasceu também a nossa primeira parceria com o Bloco do Rivotrio e com os demais blocos da saúde mental.
Aqui vai nosso primeiro agradecimento. Ao bloco do Rivotrio e à ONG Inverso e através deles, a todas parceiras e parceiros. Em especial ao Fórum Distrital da Sociedade Civil em da Pessoa Idosa.
Cuidado não deveria ter gênero, mas ainda tem. Não nos referimos apenas as cuidadoras familiares de pessoas com demências. Todo o tipo de cuidado recai sobre as mulheres, em muitos casos a partir da infância, passando pela adolescência e segue após os 60 anos.
Por isso, ficamos muito felizes com o anúncio do governo federal de criar uma Política Nacional de Cuidados. Desde já, ministra e autoridades presentes, nos propomos a participar do Grupo de Trabalho e a enviar propostas, para o cuidado familiar e profissional.
É urgente o reconhecimento da profissão de cuidadoras, com devido piso, e garantir a aposentadoria para cuidadoras familiares. Elas trabalham diariamente remuneração.
Em 2021 conseguimos a aprovação por unanimidade da Lei distrital 6926, que dispõe sobre a política distrital da pessoa com Alzheimer e outras demências.
Essa é uma lei inédita no país. Ela trata da prevenção de saúde para cuidadoras e demais familiares. Mas até agora a lei 6926 não saiu do papel.
Precisamos da implementação imediata da Lei Distrital. Somos o terceiro país a envelhecer mais rapidamente no mundo, ao lado da Tailândia e da China.
Não estamos preparados nem para o envelhecimento saudável nem para as demências. E o Distrito Federal tem a oportunidade de ser modelo pro país.
Agradecemos novamente ao prêmio Marielle Franco. Dedicamos este prêmio a todas cuidadoras e ex-cuidadoras.
Acreditamos que é no coletivo que temos força. Gratidão a todas, todos e todes. Boa noite” (assista a cerimônia completa)
PS: Nesta quinta-feira a tarde o Coletivo Filhas da Mãe participou, no gabinete da Deputada Federal Erika Kokay (PT), de reunião com o Secretário Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa, Alexandre Silva.
PS 2: Na quinta-feira a noite recomeçamos os encontros mensais das Rodas de Conversas On Line de 2023. Ali as cuidadoras tiram dúvidas sobre questões relacionadas às demências e ao cuidado.
2 thoughts on “Cuidado e Autocuidado São Direitos Humanos”
Prêmio merecido pela garra de quem abraça a causa. Merecido pelo benefício que cria nas redes de cuidado e autocuidado. Parabéns 👏
Gratidão, Cristina. Abraço,