Ana Castro & Cosette Castro
Brasília – Esta semana acompanhamos várias cenas de etarismo no Brasil. E não podíamos ficar caladas.
Cena 1, Brasília (DF) – no grupo de WhatsApp do Coletivo Filhas da Mãe uma cuidadora familiar postou um vídeo do Tik Tok “engraçado”. Ele se referia à “decadência” física e de memória de um homem idoso e estava repleto de “emojes” de risadas.
Cena 2, Bauru (SP) – vídeo com fala preconceituosa de três jovens universitárias contra uma colega de 40 anos viralizou na internet. “Ela deveria estar aposentada”. (Veja aqui)
Cena 3 – Rio de Janeiro (RJ) – Duas pessoas idosas estão na parada de ônibus e fazem sinal para o motorista. Ele não para, ignorando a existência das idosas (uma cena que se repete diariamente no Brasil).
Cena 4, Belo Horizonte (MG) – Uma pessoa com 62 anos vai a um evento e pede ajuda para localizar determinada pessoa da organização da cerimônia. A jovem pega a mão da pessoa que perguntou e diz: não se preocupe. Vou “ajudar” a senhora. E a leva segurando pela mão como se a pessoa tivesse algum problema de locomoção ou de direção.
Estes são quatro exemplos de etarismo, também conhecido como velhofobia, idadismo e ageismo (do ingês ageism). São diferentes formas de nominar o preconceito de idade. As situações relatadas ocorreram esta semana em diferentes cidades do país, em diferentes grupos sociais.
Trata-se de um paradoxo. Vivemos em um dos três países que envelhecem mais rapidamente no mundo. Os outros dois países são China e Tailândia, de acordo com pesquisa da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE, 2022). Mas seguimos fazendo de conta que “somos um país jovem”, onde apenas corpos jovens e sarados (outro preconceito: gordofobia) têm validade.
Isso segue ocorrendo apesar de estarmos vivendo a Década do Envelhecimento Saudável da Organização Mundial da Saúde (OMS). Os relatos de preconceito chegam todos os dias. E é crime, como consta no Estatuto do Idoso (Lei 10.741/2003) no artigo 96 (leia aqui).
Precisamos urgentemente de campanhas permanentes de âmbito nacional que estimulem as relações intergeracionais e mostrem o envelhecimento como uma etapa da vida que vale a pena ser desfrutada.
Enquanto isso não ocorre, o idadismo atinge também os cofres públicos. De acordo com relatório da Organização Mundial de Saúde (2021), a velhofobia contribui para a redução da autoestima das pessoas idosas e aumenta os casos de depressão (leia aqui).
Estima-se que 6,3 milhões de casos de depressão no mundo sejam atribuíveis ao envelhecimento. Ao idadismo, junta-se outros tipos de preconceito como os de raça e gênero, o que amplia a dor das pessoas atingidas pelo preconceito dentro e fora de casa.
Novidades de Março
Esta semana começam as atividades mensais de 2023 do Coletivo Filhas da Mãe.
Quarta-feira, dia 15, às 19h,
Estaremos na Câmara Legislativa-DF na entrega do prêmio Marielle Franco de Direitos Humanos. Estamos honradas por termos sido contempladas!!
Consideramos o cuidado e o autocuidado como direitos humanos.
Quinta-feira, dia 16, às 19h – Online
Rodas de Conversa online 2023. Um espaço para falar e trocar ideias sobre demências sob a coordenação da fonoaudióloga Manoela Dias.
A partir de abril, o projeto será realizado na primeira quintas-feira de cada mês.
Tempo de duração: 1h30
Terça-feira, dia 21, às 19h – Online e Presencial ( Beco da 507 na Asa Sul)
Programa Terceiras Intenções, Ano 2.
Na edição especial de março, o programa irá ao ar em formato híbrido com o tema Mulheres e Envelhecimento e coordenação de Juliana Lira.
A primeira entrevistada do ano será a socióloga Guacira Oliveira, da ONG Cfemea.
Parceria: Loja Colabora no Beco da 507 Sul.
Tempo de duração: 1h
Quinta-Feira, Dia 30, às 19h
Roda de Conversa Presencial Mulheres que Cuidam e os Desafios do Cuidado
Local: Beco da 507 Sul, o Beco da Inclusão. Tempo de duração: 1h
OSCAR 2023
A noite teve momentos históricos.
Michele Yeoh, 60 anos, foi a primeira mulher asiática a receber o prêmio de melhor atriz. Jamie Lee Curtis, 65 anos, ganhou o prêmio de atriz coadjuvante. Brendon Fraser levou o prêmio de melhor ator, representando uma pessoa com peso mórbido e Ke Huy Quan, que viveu em campo de refugiados, recebeu o prêmio de ator coadjuvante.
A melhor música foi para a contagiante Naatu Naatu, da Índia. Ruth Carter levou pela segunda vez o Oscar de melhor figurino por Pantera Negra. E Sara Polley ganhou o prêmio de roteiro adaptado por Entre Mulheres, filme que trata de abuso e união de mulheres.
O melhor filme foi “Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo”, metáfora da sobrecarga física e emocional de uma mulher que precisa de várias versões de si mesma para sobreviver. Quem nunca?…
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