Disfagia e Relação Com o Alzheimer

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Ana Castro, Cosette Castro & Convidada

Brasília – No mês de aniversário do Coletivo Filhas da Mãe desta vez quem ganha o presente são nossas leitoras e leitores. Convidamos especialistas em diferentes áreas para escreverem no Blog.

Nossa primeira convidada é a fonoaudióloga Manoela Dias, da equipe de coordenação do Coletivo Filhas da Mãe. A especialista em Gerontologia  conta que “ao envelhecer todo o organismo saudável passa por transformações fisiológicas e naturais próprias da idade, caracterizado por decréscimo de força, da velocidade, da estabilidade, da coordenação e da resistência”.

Manoela Dias – “Essas transformações ocorrem também nas estruturas da mastigação e da deglutição, dos órgãos orofaríngeos. Ou seja, a base da língua, o palato mole, as amígdalas, assim como a parte lateral e posterior da garganta.  Tais mudanças podem interferir na biomecânica da deglutição de diferentes formas, diminuições das percepções táteis, térmicas, gustativas e olfativas.

Ocorre ainda redução da flexibilidade no controle neuromuscular, com declínio na força muscular e maior lentidão dos movimentos. Nesse sentido, é compreensível a reação de muitas pessoas idosas ao estranhar o gosto da água ou quando deixam de ingerir proteínas como as carnes vermelhas, selecionando alimentos mais macios e úmidos.

Elas também podem reclamar que a boca fica mais seca ou de engasgos com a própria saliva, que igualmente sofre modificações e tende a ficar mais grossa. Pensando nessa “avalanche de transformações e perdas” não seria estranho ocorrer um impacto direto na função da deglutição.

Há duas possibilidades. A Presbifagia que é uma mudança fisiológica natural  no processo de envelhecimento. E a Disfagia,  um sintoma de que algo deve ser investigado.

Em pessoas idosas saudáveis, a Presbifagia apresenta alterações que são percebidas como adaptações do organismo às condições presentes, sem prejuízo importante na execução das funções. E pode ser corrigida sem perda funcional grave. O engasgo com a saliva, por exemplo, pode ser solucionado com alguns exercícios de fortalecimento da língua e resultam em recuperação rápida.

Entretanto, quando há doenças associadas, o quadro tende a se agravar e o organismo pode perder a capacidade de adaptação. Isso pode levar a complicações no processo alimentar. Muitas doenças podem iniciar a Disfagia de forma silenciosa. É o caso da sarcopenia (alteração da musculatura esquelética pela redução da força e da massa muscular), também conhecida como síndrome da fragilidade. Ou em alterações gástricas e esofágicas e nas doenças neurodegenerativas que costumam ter  início lento e progressivo, como a Doença de Alzheimer (DA).

Nestes casos, os pacientes  vão, em algum momento, passar por dificuldades e alterações da mastigação e deglutição respondendo com engasgos mais frequentes que não cessam rapidamente. Há sérios riscos de desnutrição, desidratação e complicações respiratórias.

O caso de perda de peso em estágios iniciais do Alzheimer por exemplo, ocorre por  alterações sofridas na região do hipocampo e a amígdala. Elas podem causar perda de peso e alterações no comportamento alimentar. Também colaboram para o surgimento da anorexia (transtorno alimentar onde a pessoa vai deixando de comer), para o aumento das necessidades nutricionais e consequente carência de vitaminas e micronutrientes.

É comum presenciar uma alimentação com excesso de carboidratos. Com “alimentos de cor bege” como pão, bolachas, mingau, batata, arroz, macarrão ingeridos de forma repetitiva e mal distribuídos ao longo do dia. Ou jejum prolongado e sem prescrição de suplemento alimentar colaborando para a perda de peso.

Este é um sinal da evolução da doença que pode provocar danos à saúde da pessoa idosa e sinaliza para a necessidade de uma atenção primordial  para  cuidadoras familiares e para o Sistema Único de Saúde (SUS). Trata-se de um tema de política de saúde para evitar a sequencia de perda de peso. Essa perda amplia o risco da síndrome da fragilidade, o risco de quedas, acelerando a progressão da doença e as internações hospitalares. Nesta fase é importante ter o apoio interdisciplinar de profissionais que poderão criar estratégias de cuidados eficazes para um cardápio alimentar rico.

As alterações de saúde mais encontradas são hiperfagia (aumento desenfreado do apetite) ou a recusa alimentar, a diminuição do apetite, a incapacidade de expressar verbalmente sinais de sede ou fome, autonegligência (por esquecer de se alimentar), o estranhamento dos sabores dos alimentos e as misturas de alimentos não convencionais “como bolacha recheada com alface”. Este último caso ocorre não por preferência pessoal, mas pela pessoa perder a noção de  como combinar os alimentos de forma saudável.

É comum também a seleção de alimentos ou objetos que não são feitos ou que não estão prontos para comer, situação conhecida como “perversão do apetite”, a fala exagerada durante a alimentação. Ou refeições muito demoradas até pela perda de habilidades no manuseio dos talheres. Verifica-se ainda o aumento do gasto energético pela perambulação (inquietação ou andar sem parar) e alterações de sono e vigília, com intensa exaustão.

Nesse momento a prescrição de fármacos pode ajudar  a diminuir a agitação, a irritabilidade ou o humor depressivo. Mas o uso de medicações deve ocorrer  junto com a mudança estrutural na organização da rotina: casa com horários adequados para as refeições, ambiente mais silencioso e confortável, evitando as distrações visuais e ruídos durante a alimentação”.

Cosette Castro

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