O Cuidado Como Cultura

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Ana Castro & Cosette Castro

Brasília – O final do ano representa algo mais do que um momento de festas. É tempo de repensar a vida, fazer balanço e se recriar.

De um lado temos o Brasil, um país que vai começar 2023 com a esperança de tempos melhores. De outro, temos o Coletivo Filhas da Mãe que vai completar 3 anos em dezembro fazendo balanço.

Da nossa parte, acreditamos que o Brasil precisa de cuidado. As brasileiras e brasileiros também.

O cuidado, como conta o teólogo Leonardo Boff, pertence à essência do humano e de toda a vida. Para o filósofo, “sem o cuidado adoecemos e morremos. Com cuidado, tudo é protegido e dura muito mais.”

A ideia de que “com cuidado, tudo é protegido e dura muito mais” vale para o país e para a sociedade com seus diferentes grupos sociais. Vale para a natureza, seja a Amazônia ou o Cerrado. Vale para as diferentes gerações, da infância ao envelhecimento. Vale para nós e para você.

Levamos em conta que o cuidado não se restringe a dimensão individual ou a apenas um projeto do Coletivo Filhas da Mãe. Cuidado tem dimensão estrutural e perpassa todas as áreas.

O Brasil e sua população precisam de cuidado. Cuidado coletivo. Solidário. Que envolva uns aos outros. Em um grande e caloroso abraço nacional que proteja contra diferentes tipos de violências e abandonos.

Consideramos o direito a ser cuidado como um direito humano. E o direito a cuidar também. Mas o direito a cuidar e ser cuidada não cai do céu. Precisa ser estimulado, como um cultivo, uma cultura, seja como política pública, seja no convívio social e familiar.

Como pensar uma cultura do cuidado que integre todas as idades, celebre todas as vidas? Inclusive aquelas que fogem do padrão  e se manifestam, por exemplo, em forma de corpos em envelhecimento, de demências ou outras enfermidades?

Fizemos esta pergunta em 2022 no texto “Por uma Cultura do Cuidado”. O artigo foi publicado no Blog no mês de junho. Também escrevemos em agosto. E seguimos refletindo sobre o tema.

Vivemos em um país que foi deixado de lado em plena pandemia. Segundo reportagem da BBC de final de 2021, em pesquisa realizada entre 98 países, o Brasil ficou em último lugar no enfrentamento ao Covid-19. Isso levando em conta o total de mortos, aplicação de vacinas, políticas públicas e testagem.

E o governo federal segue deixando o Brasil de lado um mês antes do final do ano, as vésperas da Copa do Mundo. Os cientistas e pesquisadores  anunciaram a chegada de uma nova variante da ômicrom, a BQ.1, que já vem causando mortes no país. Mas segue o silêncio e a falta de informações oficiais.

Como consequencia do descaso, do Covid-19, do medo e do luto, somos o país com maior preocupação com a saúde mental e o que apresenta os maiores índices de depressão e ansiedade.

Em um país que segue abandonado no que diz respeito ao cuidado, à saúde coletiva e à educação, pensar a cultura do cuidado é urgente. Principalmente para construir um novo futuro em tempos de transição.

Uma cultura do cuidado não cai do céu. Ainda mais em uma sociedade incentivada a encontrar soluções individualizadas para seus problemas. E onde pensar solidariamente ocorre pontualmente, em situações extremas, como as catástrofes. Ela precisa urgentemente entrar na pauta nacional em 2023. Em diferentes níveis, no executivo, no legislativo e no judiciário. E na sociedade também.

A cultura do cuidado pressupõe, por exemplo, a corresponsabilidade do Estado em relação à prevenção da saúde em diferentes idades.

Nela, os mais fragilizados estarão representados em todos espaços sociais, na estrutura do Estado. E não somente em quadradinhos identitários que não dialoguem entre si.

Uma cultura do cuidado inclui o autocuidado, incentivando as pessoas também a se responsabilizarem pelo cuidado de si mesmas.

Ou seja, a ideia de cuidado é composta de 50% do direito a ser cuidado (pelo Estado, pela comunidade, pela família, pelos amigos). E 50% de autocuidado (cuidado de si), em um país que desconhece seus sentimentos, se informa mal e não costuma checar informações.

Como instituição em processo de ser formalizada, a missão do Coletivo Filhas da Mãe é  apoiar cuidadoras familiares, incentivando a prevenção da saúde, valorizando o processo de envelhecimento e longevidade, cultivando o cuidado e o autocuidado. É uma missão de fôlego. Convidamos você a participar conosco.

PS: A Roche anunciou esta semana que os resultados dos estudos da terceira fase sobre uso de gantenerumabe não foram os esperados. A expectativa era que a molécula apresentasse resultados positivos para as pessoas que estão na fase de Declínio Congnitivo Leve da Doença de Alzheimer.  (link aqui)

Cosette Castro

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