Ana Castro & Cosette Castro
Brasília – Envelhecer ainda é tabu no Brasil. Não por acaso muitas pessoas escondem a idade. Outras consideram um elogio dizer “mas você está tão bem para sua idade”. Da nossa parte, ficamos escandalizadas, pois se trata de um típico preconceito de idade.
Sempre que escutamos esse tipo de frase nos perguntamos como a pessoa imaginou que estaríamos nessa fase da vida? Quietinhas? Sem objetivos? Sentadas na frente da TV ou do computador? Sem projetos de trabalho, afetos ou atividades?
Com o conceito de juventude se estendendo até os 30 anos e a longevidade mostrando que é possível refazer a vida e recomeçar em todas as etapas, a ideia cristalizada de vovós e vovôs paralisados no tempo tende a cair por terra. Principalmente quando as pessoas cuidam de sua saúde, fazem exercícios semanalmente e estão com os exames médicos atualizados.
No entanto, a maioria dos brasileiros e brasileiras acima de 60 anos não consegue focar no autocuidado. Elas e eles precisam seguir trabalhando para ajudar suas famílias. Particularmente em tempos de fome (33 milhões de brasileiros), desemprego (11%) e trabalho informal (39,3 milhões, segundo o IBGE, 2022).
Muitos deles vivem com contratos temporários, sem direitos trabalhistas. Ou viram empreendedores, chefes de si mesmos, sem direito a adoecer ou a férias.
A maior parte dessas pessoas, não conseguem pagar planos de saúde privada. Dependem do SUS e das medicações da Farmácia Popular, que vem sendo enfraquecida pelo governo federal.
Há ainda aqueles que estão empregados. Entre as 37,8 milhões de pessoas idosas no Brasil, conforme o Dieese, 7 milhões são pessoas acima de 60 anos. Deste total, 1,2 milhão possui mais de 70 anos, de acordo com estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) deste ano. E os números tendem a crescer, dado o envelhecimento populacional acelerado no país.
Projeção da FGV aponta que, em 2040, ou seja, daqui a 18 anos, o Brasil terá 57% dos trabalhadores com mais de 45 anos.
Apesar de ser terceiro país no mundo a envelhecer mais rapidamente e estarmos dentro da Década do Envelhecimento proposta pela Organização Mundial da Saúde (OMS), ainda não há políticas públicas implementadas para prevenção da saúde nem para o envelhecimento ativo e cidadão no país.
Medo de Envelhecer
Em entrevista ao Programa Terceiras Intenções do mês de outubro, o pesquisador Vicente Faleiros conversou com Ana Castro sobre os desafios do envelhecimento. No programa que foi ao ar no nosso canal do You Tube dia 18, ele contou sobre os medos de envelhecer no Brasil (assista aqui).
De acordo com o professor emérito da UnB, existe o medo de ficar feio pelas rugas, marcas da idade, perda de cabelo e flacidez. “Há o medo da perda cognitiva e também o medo de se tornar uma pessoa dependente, de perder a funcionalidade”.
Há o medo do preconceito de idade, também conhecido como velhofobia, idadismo, etarismo ou ageismo que ocorre em todos os setores da vida social. Em casa, no clube ou no trabalho. Mais ainda: há o medo da violência, medo da exclusão e do abandono.
Faleiros lembra que existe a ideia de que a pessoa idosa é um peso. Isso faz com que muitas famílias excluam a pessoa idosa, ainda que não se deem conta disso. Excluem dos almoços, das festas, viagens e das comemorações. Em algumas situações, as pessoas idosas ficam cuidando dos netos, sem participar das reuniões e da vida familiar.
Nós, do Coletivo Filhas da Mãe, nos posicionamos diariamente contra todos os tipos de preconceito. De idade, como citado anteriormente. De raça, como ocorreu esta semana em Porto Alegre com o cantor Seu Jorge (veja aqui). Ou por origem (xenofobia), como aconteceu esta semana na Capital Federal, contra uma professora da UnB, por ser baiana/nordestina (veja aqui).
PS: Nesta sexta-feira, 21/10, pacientes, familiares e médicos protestam contra a resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) que proíbe a prescrição do canabidiol, fitoterápico de uso medicinal, e restringe o uso a apenas duas enfermidades. O canabidiol é utilizado por 100 mil pacientes no país, segundo a Anvisa. O protesto vai ocorrer em frente as sedes do CFM em Brasília (SGAS, Quadra 915, Lote 72 – Asa Sul), Rio de Janeiro e São Paulo a partir das 9h.
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