O Que Muda na Alimentação na Fase Final da Demência

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Ana Castro, Cosette Castro & Convidada

Brasília – Damos continuidade hoje às dicas da fonoaudióloga Manoela Dias, que na  edição da última sexta-feira começou a apresentar as  diferentes fases da alimentação na evolução das demências, entre elas o Alzheimer. O texto apresenta  agora as dificuldade de alimentação e deglutição que aparecem na etapa final da doença.

Manoela Dias – “Na última fase da demência é necessário liquidificar os alimentos sem grãos ou sem pedaços porque a função motora e sensorial dos pacientes estará alterada. Com isso vamos garantindo que a alimentação aconteça  de forma exclusivamente oral na medida do possível.

Os pacientes terão mais dias de sonolência. Outros dias de maior agitação e dias menos colaborativos. Nesta fase a intervenção de uma nutricionista é muito importante, pois os entes queridos começam a emagrecer de forma mais visível, porque já não estão exercendo a mesma atividade motora de antes, ficando mais restritos ao leito, a cadeiras de rodas ou poltronas.

Quando a doença avança ainda mais,  é possível observar outras dificuldades relacionadas a função da alimentação e da deglutição com novas perdas funcionais.

A mastigação fica mais lenta, sendo substituída por um breve amassamento. Há uma modificação no desempenho de força e mobilidade, de velocidade dessa região da boca e pescoço. Os pacientes ficam com a boca mais aberta e a saliva escorre mais facilmente, porque diminui muito a frequência de deglutição da saliva.

Nesse momento o comprometimento cognitivo está maior, prejudicando o nível de atenção e alerta das pessoas enfermas. Os engasgos com a saliva e a comida começam ficar mais frequentes e é necessário identificar os riscos e, se necessário,  solicitar ao médico medidas de controle de salivação. Também é preciso ter atenção rigorosa com a postura correta para iniciar a alimentação.

Nesta última  fase da doença os pacientes estão totalmente expostos aos engasgos e dependem totalmente de outra pessoa para serem alimentados. Por isso é importante verificar o volume da oferta, o ritmo e velocidade da alimentação. Esses detalhes podem ser acompanhados pela fonoaudióloga. Dessa maneira,  familiares cuidadoras serão treinadas para ter um olhar mais apurado e técnico durante a deglutição.

A refeição e hidratação nesse período tende a ser mais reduzida em quantidade e volume, levando mais tempo para serem concluídas. Isso  exige mais paciência das cuidadoras na hora de oferecer alimentos e hidratação. Quanto às medicações já deverão estar maceradas.

Muitas vezes  os medicamentos são retirados das prescrições por não terem mais o efeito esperado nos pacientes. Além disso, várias medicações começam ser desmamadas na fase avançada.

É nesse momento que começamos a compreender o que esse “novo corpo” está mostrando. Quais são suas reais necessidades. A oferta de alimentos passa a não ser mais somente nutritiva.  Passa a ter a função  de ser palatável e prazerosa na medida do possível.

É nesse período que é preciso incluir pequenas refeições ao longo do dia. Já não haverá mais a convenção temporal das refeições: café da manhã, almoço e jantar. Durante o dia, será preciso aproveitar o momento em que cada paciente estiver alerta e mais colaborativo para fazer a oferta, respeitando seus tempos e possibilidades.

Dessa maneira, será possível chegar até o fim da doença com uma alimentação de menor volume e quantidade, mas suficiente para o familiar que se aproximada do final da sua jornada da vida.

Saber respeitar o momento da terminalidade é ético, decente, pertinente e necessário. Ocorre uma transformação no no organismo da pessoa doente. Ela já não sente mais fome ou vontade de comer como antes. Esta é uma resposta naturalmente esperada de um organismo que está lidando com a finitude”.

Nós, do Coletivo Filhas da Mãe, sabemos que não é fácil lidar com a finitude de uma pessoa querida. É um luto diário que, às vezes, perdura por anos.

Não fomos educados para aceitar a morte como parte do processo de viver. Ao contrário. Somos estimuladas a negar a morte, como se isso tornasse possível ampliar a vida. Não é.

Tampouco sabemos lidar com nossa própria finitude. Algo que precisamos urgentemente aprender.

PS:  Neste sábado, 13 de agosto, o Coletivo Filhas da Mãe vai realizar um ato inter-religioso às 10h, na Igreja Anglicana, na SQS 309, em Brasília. Diferentes representantes religiosos vão estar presentes, em um diálogo pela  cultura do cuidado, pela cultura da paz e pelo fim do preconceito e da violência contra as pessoas idosas.

Cosette Castro

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