Ana Castro, Cosette Castro e Convidada
Brasília – Neste dia 05 de agosto, dia nacional da saúde, trouxemos um tema relacionado ao cuidado da saúde. Quem tem familiar com demência já passou ou vai passar pelo desafio de lidar com as dificuldades de deglutição que os pacientes enfrentam. E é importante conhecer as possibilidades de cuidado desde cedo.
Nesta edição, abrimos as páginas do Blog para uma convidada especial, a fonoaudióloga Manoela Dias, que faz parte do Coletivo Filhas da Mãe e atua na parte de Comunicação.
Ela vai comentar sobre as diferentes fases da evolução das demências, entre elas o Alzheimer, desde outra perspectiva: a da alimentação e as dificuldade de deglutição que aparecem no decorrer da doença.
Durante a evolução da demência, existe um potencial risco de desnutrição, desidratação, perda de peso, enfraquecimento, sarcopenia (alteração da musculatura esquelética caracterizada pela redução da força e da massa muscular), risco de quedas e pneumonias entre os pacientes.
Essa sequência de problemas, quando ocorre, pode dificultar o resgate das perdas funcionais e, em casos mais avançados da doença, levar ao óbito. Por isso, o acesso à informação e o tratamento precoce ajudam muito a qualidade de vida dos familiares enfermos.
Manoela Dias – “A deglutição inicia com a entrada de qualquer alimento externo em direção a boca ou da própria saliva, seguindo para faringe, esôfago e finalizando no estômago. E quando temos qualquer alteração ou dificuldade em uma dessas fases, chamamos de disfagia.
É importante observar os sinais de disfagia, conhecida como um sintoma desencadeado frente a um estado de doença agudo ou crônico. É possível conviver com a disfagia de forma “controlada” por um período bem longo. Esse cuidado fará toda a diferença para oferecer qualidade de vida às pessoas com demência.
Pensando nas fases da demência e da disfagia, notamos mais distrações e dificuldades de planejamento das próprias refeições. Pessoas com demência em fase inicial podem começar a elaborar um prato, mas sem chegar ao final. Ou se distraem com outra situação e esquecem de continuar a comer. Ou ainda deixam o prato em outro ambiente e começam a preparar novamente a comida.
A seleção dos alimentos em pacientes com demência também fica precária. Algumas pessoas fazem misturas estranhas de doces com salgados, perdendo muito no conteúdo nutricional.
Outros têm dificuldade no manejo dos talheres. Deixam de usar a faca ou ficam separando os alimentos no canto do prato e esquecem de dar continuidade ao ato de comer.
Essa pessoa, que ainda não é disfágica, poderá emagrecer e ter perda de massa magra por não conseguir gerenciar mais a própria vida nos itens básicos de sobrevivência. As consequências podem ser mais fraqueza e desmotivação que pode piorar o quadro geral da pessoa enferma.
A partir desse momento, o ente querido não tem mais condições de ficar sozinho. Será preciso o acompanhamento por parte de uma cuidadora familiar ou profissional, orientada por equipes multidisciplinares formadas por fonoaudióloga, nutricionista, terapeuta ocupacional e fisioterapeuta.
Nesse período, por exemplo, há mais dificuldades para cortar e mastigar as proteínas em especial as carnes vermelhas, os assados e grelhados. Pessoas com demência ficam muito tempo mastigando, podendo guardar uma trouxinha de carne no canto da boca. Isso pode gerar engasgos, recusa alimentar e fadiga. A ajuda profissional mostra o momento certo de substituir os alimentos pelos cozidos com a proteína bem cortada, mais mole e macia, sem antecipar as fases.
Profissionais de fonoaudiologia com experiência na área saberão intervir em cada etapa com orientações no manejo dos talheres, mudanças e adaptações de consistências. Também é importante respeitar os costumes alimentares de cada paciente para a refeição ser atraente visualmente e agradar o paladar. Nessa fase ainda é possível ter bons resultados com exercícios onde o idoso participa ativamente dos comandos. E fazer reabilitação e prevenção de engasgos precocemente.
Com o avançar da doença outras modificações podem ser introduzidas, como tornar o alimento mais pastoso. Nesta etapa, entram os purês, proteínas trituradas e caldos. As folhagens são substituídas por legumes bem cozidos.
É possível encontrar dificuldade inicial na abertura da boca. Alguns pacientes ficam com o alimento parado na boca por muito tempo. E aí são necessárias outras intervenções para ajudar nesse processo. É importante usar a criatividade, incluir combinações exóticas e estímulos intraorais que acabam dando certo. Nesta etapa, muitos pacientes já estarão usando líquidos engrossados para evitar os engasgos (Continua…)”.
PS: O texto da fonoaudióloga Manoela Dias segue na próxima edição contando como atuar na fase mais avançada da doença.
PS2: Nossa homenagem e carinho a todos os profissionais da saúde no país que tem o maior sistema de saúde pública gratuita do mundo.
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