Ana Castro & Cosette Castro
Brasília – Muita gente tem pedido para que publicássemos um post sobre o uso terapêutico da cannabis. Até então, evitamos tratar de um assunto que desperta reações diferenciadas, apesar do aumento considerável de pessoas com demência, Parkinson, dores crônicas e autismo ao nosso redor que vêm usando canabidiol como terapia para melhorar a qualidade de vida.
Esta semana, ao assistir o geriatra Otavio Castello, ex-presidente da ABRAz-DF, no programa O Que Rola na Geronto, consideramos que está na hora de compartilhar informações sobre o tema. Aliás, quando o assunto é o canabidiol como possibilidade terapêutica o mundo se divide entre aqueles que são contra ou a favor.
Esta é uma discussão tabu que ainda se encontra envolta de medo e preconceito na sociedade e que gera polêmica entre a comunidade científica.
Derivado da cannabis sativa, mais conhecida como maconha, o canabidiol é um dos mais de 400 derivados da planta. Cerca de 150 deles são produtos que interagem no sistema nervoso.
O uso do canabidiol como potencial terapêutico para tratar algumas doenças neurodegerativas começou com o Parkinson e depois foi pensado para o Alzheimer, o tipo mais comum de demências. No mundo ocidental, atualmente há estudos para tratar insônia e outros distúrbios do sono, dor crônica, ansiedade, depressão, epilepsia, Parkinson e autismo, entre outros.
Mas o uso medicinal da cannabis não é recente. Há registros antigos na Índia, na China e no Egito para tratar epilepsia e dores de cabeça, entre outras doenças.
O registro mais antigo data do ano 2.737 A.C. É um livro sobre medicina escrito pelo imperador chinês Shennong, que também era farmacologista. A obra incluía a cannabis como tratamento para diferentes doenças, como gota e reumatismo.
Do Egito vem o registro mais antigo no uso terapêutico da cannabis para o tratamento do câncer e aparece no papiro Fayyun Medical, do século II.
Vale lembrar que terapia com canabidiol é diferente de estimular as pessoas a fumar maconha.
Os dois produtos mais usados para terapias na medicina são o canabidiol (CBD) e o tetra-hidrocanabinol (THC). No uso terapêutico, a concentração utilizada é diferente de um cigarro de maconha. Enquanto a quantidade de THC na medicação é de 0,3%, no cigarro de maconha a concentração pode chegar a 10 e 15%.
O uso da cannabis medicinal é controlado e estudado de acordo com as necessidades de cada paciente. É usado via oral, em gotas. Começa com baixas doses e vai sendo aumentado aos poucos, sendo monitorado pelo especialista.
Diferente de alguns estados nos Estados Unidos onde é possível obter uma receita médica para usar cannabis fumada em casos de enxaqueca, no Brasil a legislação é restrita.
Ainda não existe uma lei que normatize a questão. Há projetos de lei que esperam votação no Congresso Nacional, mas há resoluções da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Essas resoluções apontam critérios a serem observados para produção local ou exportação do produto. Inclusive há resolução para o plantio para consumo próprio em alguns tipos de doença.
Nos Estados Unidos há ainda o livre uso de canabidioide como suplemento alimentar. Em geral é sintético e possui dosagem menor de concentração. Embora não seja considerado um remédio, se confunde com uso medicinal.
O canabidiol, de acordo com relatos médicos e das famílias com pacientes que utilizam a medicação, não causa dependência química e quase não causa efeito colateral nos pacientes. É um produto que, na maioria dos casos, melhora a qualidade de vida dos pacientes.
E o Alzheimer? Assim como os outros tipos de demências, trata-se de uma doença sem cura. Mas têm tratamento. As medicações utilizadas são sintomáticas. Ou seja, auxiliam nos sintomas que aparecem nas diferentes fases. E, nesse sentido, o canabidiol tem contribuído para melhorar o sono, as variações de humor e comportamento. Em alguns casos, inclusive ajuda na relação familiar.
Mas como lembra o geriatra Otavio Castello, não temos medicamentos que impeçam a evolução da doença. Não há medicações modificadoras. “Os remédios desaceleram a doença de forma moderada. O canabidiol, que ainda necessita de muitos estudos, vem ajudando. Mas cada caso é um caso é precisa ser analisado em sua particularidade”.
Em meio a uma doença com tantos desafios e sem cura, encontrar medicações que contribuam com a qualidade de vida dos pacientes e com pouca contra indicação é um passo importante. Encontrar profissionais que se abram para essas novas possibilidades e ousem afirmar publicamente que o Conselho Federal de Medicina precisa se atualizar e atender as novas demandas, é um passo gigante.
Em tempo: damos as boas-vindas ao Instituto da Parentalidade Prateada (IPP), a mais nova ONG do Distrito Federal criada para defender os direitos da pessoa idosa.
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