Nem Parece, Mas É Violência

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Ana Castro & Cosette Castro

Brasília – Quem são as pessoas mais fragilizadas no Brasil? Segundo a Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos (ONDH), quem mais sofre violência são as mulheres, as crianças e adolescentes, as pessoas idosas, a população LGBTQIA +, os moradores de rua, e as pessoas com deficiência.

Não é por acaso que no mês de junho, quase terminando, é realizada a campanha “Junho Violeta”. Dos 154 mil casos de violência denunciados no ano passado, 22% são contra as pessoas idosas. Ou seja, ocorreram 35 mil denúncias.

Como o número de subnotificações é grande, é possível que esse número possa chegar ao dobro. A maior parte das notificações é feita por parentes e vizinhos.

Poucos idosos dão conta de denunciar a violência, os maus tratos, o abandono e a negligência ( não dar alimento, agasalho, medicamentos, oferecer quartos insalubres, entre outros). Os motivos que levam as pessoas idosas a sofrerem caladas são múltiplos.

Em geral estão relacionados ao medo ( da situação piorar depois), a dependência física, a ameaça de ficar na rua sem ter onde morar e doenças que fazem com que necessitem acompanhamento. Ou a ameaça de afastar os netos.

Outros ainda sofrem a ameaça de serem colocados em uma instituição de longa permanência para pessoas idosas – ILPIs (nome dos antigos asilos). E serem abandonados lá.

Há pessoas idosas que vivem em um ciclo de violência há tanto tempo que não se dão conta que berros, humilhações, infantilização, descaso, impaciência e “brincadeiras” sobre a idade, o corpo ou suas dificuldades físicas são violência, sim.

São violências de outro nível. São aquelas que não deixam marcas no corpo, como a violência física. Não são visíveis, mas doem com a mesma intensidade ( ou até mais). Trazem tristeza, marcando profundamente. E contribuem para a sensação de ser um peso para a família e pessoas do entorno.

A violência contra as pessoas idosas é um dos reflexos da negação do envelhecimento. Da insistência em esconder e marcar corpos que não apresentam mais o mesmo vigor e a mesma agilidade de antigamente. A mesma exuberância da juventude.

Essa raiva transformada em violência – que é um medo em excesso virado contra outra pessoa – reflete o medo da pessoa que agride de envelhecer. E de perder a validade no mercado (do trabalho, da vida, do amor).

Essa violência aponta também para um desejo ( impossível) de controlar o tempo. Mas o tempo está além do nosso controle. E isso também produz muita raiva.

Desumanizar o outro tratando-o como um objeto passível de agressão é uma tentativa distorcida de se colocar em um lugar diferente. E excluir a pessoa idosa. É um crime passível de punição.

Segundo os dados da Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos, as denúncias aumentaram durante a pandemia, quando as pessoas foram obrigadas a permanecer por mais tempo em casa. As denúncias nesse período tiveram um aumento de 40%.

Em 60% dos casos denunciados no país a vítima é uma mulher idosa. Isso revela e reforça uma realidade cruel. As mulheres seguem sofrendo violência doméstica inclusive após os 60 anos. Na maior parte dos casos, os abusadores são filhos e netos homens.

Como no caso de mulheres mais jovens, os maus-tratos ocorrem dentro da casa onde a mulher idosa reside. A violência segue entre e através de gerações. Até que o ciclo de abusos e maltratos seja rompido.

Em tempos de violência, é preciso coibir as tentativas de exclusão e apagamento das pessoas 60 anos ou mais que vivem em um país com tantas desigualdades.

Sugerimos estimular a paz, a solidariedade e o afeto começando por algo simples, como um abraço, presencial ou virtual.

Um abraço pode acontecer de muitas formas. Através de uma chamada de vídeo ou de voz. Através de um bom dia, um sorriso e um olho no olho na rua. Ao chamar pelo interfone e perguntar para vizinha se está tudo bem. Ao parar e escutar uma história. Ou mesmo escrever neste Blog.

E você, já abraçou uma pessoa idosa hoje?

Em tempo: Se você é cuidadora familiar e mora em Brasília está convidada a participar do Projeto Conect@ Mulheres, de cuidado e autocuidado, nesta terça-feira, 28 de junho, das 10 às 11h30. É uma parceria com o Instituto Tocar que vai ocorrer na 601 Sul, 2o andar, na sede do Espaço Longeviver, ao lado da igreja Bom Jesus. Increva- se em   https://forms.gle/anH1kuSBMeZjGgj66.

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