Ana Castro & Cosette Castro
Brasília – Vivemos tempos de apreensão e medo. Em uma semana em que aumentaram os registros de casos de Covid-19 em todo país, esses sentimentos vêm mais forte.
No Distrito Federal os números dispararam. Foram mais de 8 mil casos nos últimos dias, sem que o governo distrital imponha restrições à livre circulação de pessoas ou estimule o uso de máscaras. Restrições certamente mal recebidas em período pré-eleitoral.
O discurso sobre o “fim da pandemia” se consolida, ignorando as novas variantes do Covid-19 e do avanço da de doenças como a dengue, zika e chikungunya.
Em todo o país, inclusive no Distrito Federal, há intensa programação de festas juninas com aglomeração popular. A maioria, sem uso de máscaras.
A chamada quarta onda do Covid-19 retornou como alertavam os cientistas. Ainda que boa parte da população já esteja vacinada com a segunda dose (2,5 milhões de pessoas), com a terceira dose (1,2 milhões) e com a quarta dose (221,5 mil).
A volta às aulas presenciais do ensino fundamental às universidades vem contribuindo para maior circulação do vírus entre crianças, adolescentes e jovens. Isso representa um risco adicional de contaminação para familiares enfermos, pessoas com problemas crônicos e pessoas idosas.
Há um estado de apreensão que nos afeta de alguma maneira. Na TV e nas redes sociais digitais, entre elas o WhatsApp, há um bombardeio de números e casos de doenças. Sem contar as imagens de hospitais lotados, com filas.
É concreta a fragilidade social de 33 milhões de pessoas que não conseguem fazer uma refeição dia. O endividamento de mais de 70% das famílias. O aumento dos preços. A inflação. Como se fosse pouco, acompanhamos pelo noticiário nacional e internacional as buscas e a descoberta do assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Philips.
É uma sensação de perda diferente das demências que vão levando nossos entes queridos aos poucos, ano após ano, roubando suas memórias e identidades. Uma morte a conta-gotas. Mas há similaridades com o caso de Bruno e Dom. As duas situações remetem à vida familiar.
A dor de quem convive com a demência é quase anônima, invisível para a maioria. Já o drama da família britânica se tornou público, com grande repercussão desde o desaparecimento, das buscas com cobranças em nível internacional até a descoberta dos corpos assassinados.
O que essas famílias têm em comum? Elas experimentaram medo e desespero, mas mantendo um resquício de esperança de que a situação pudesse ser revertida.
Em ambas as situações, vive-se uma perda real, uma sensação de impotência e o desejo de “fazer algo mais” para (tentar) mudar uma realidade assustadora.
Bruno e Dom foram tirados de suas famílias e de seus amigos indígenas do Vale do Javari, no Amazonas, de forma abrupta. Houve uma violência física, explícita e uma violência simbólica que revela a ameaça que os povos indígenas sofrem constantemente na Amazônia. As duas violências expõem a falta de proteção em que se encontra o Norte do país.
A violência simbólica também ocorre em outro nível, no âmbito privado, nas famílias que convivem com pessoas com demências. Acompanhar o longo processo de desaparecimento da memória e identidade de um familiar com demência adoece física e emocionalmente quem cuida.
No caso de Bruno e Dom, havia a esperança de que pudessem ser encontrados vivos. Mas o encontro dos corpos e sua identificação só confirmou as denúncias de violações das terras indígenas e o aumento da violência na Amazônia.
Em momentos de medo e apreensão, ressurge um desejo (infantil) de que os super-heróis e super-heroínas possam salvar os desaparecidos, os de longe e os de perto.
Na vida adulta, descobrimos que somos nossos próprios super-heróis. Alguns, heróis e heroínas anônimas, que cuidam diariamente de pessoas idosas. Outros com grandeza suficiente para defender povos indefesos. Nem sempre com final feliz.
Apesar dos tempos difíceis, o Coletivo Filhas da Mãe lança na terça-feira, dia 21, das 19 às 20h, um novo Projeto: Terceiras Intenções, que vai acontecer a cada terceira terça-feira de cada mês no formato híbrido: on line (transmissão no You Tube Filhas da Mãe Coletivo) e presencial (Espaço Longeviver, na 601 Sul, 2o andar, ao lado da igrejinha/ Plano Piloto), com máscara e álcool gel. A convidada de junho é a advogada Thaís Gracindo, com o tema “Quem Tem Medo de Curatela?”
Em tempo: Para ler mais sobre luto e perda, sugerimos cinco textos do Blog: “A Triste Tarefa da Despedida”, “As Diferentes Formas de se Despedir”, “Existe Sim Vida Após a Morte”, “Precisamos Falar Sobre a Morte” e “As Primeiras Férias”.
6 thoughts on “O Luto Nosso de Cada Dia”
Parabéns pelo ótimo texto e pela iniciativa das reuniões sobre temas tão necessários para os cuidadores de familiares com demência. Obrigada!!
Olá Bernardete. Gratidão pelo retorno. Também aceitamos sugestões de temas.
Obrigada
Estamos a disposição. Abs
Obrigada
Ficamos contentes em saber que você gostou. Abs