Ana Castro & Cosette Castro
Brasília – Algumas pessoas imaginam que cuidado diz respeito apenas ao ato diário de alimentar, higienizar, vestir e medicar a pessoa idosa com demência.
Este é um tipo de cuidado básico que garante a sobrevivência, mas não garante necessariamente qualidade de vida para as pessoas enfermas.
Cuidado é algo que vai mais além. Demanda tempo, atenção, presença. E paciência. Muita paciência.
Inclui o cuidado físico, o cuidado emocional e espiritual, quando a pessoa tem um passado ligado à religião. Inclui afeto, carinho e respeito à história do familiar, sem cair na tendência de infantilizar a pessoa idosa.
Cuidado é prestar atenção na pessoa com demência que aos poucos não consegue mais contar que está com dor, seja de dentes ou nos pés, cujas unhas podem estar encravadas. Cuidado é “ouvir” cada irritação, agressão como um sinal de que algo não está bem. E não como um ataque pessoal contra você.
É observar se o familiar está tomando água suficiente, ainda mais com o começo da estação seca, quando a umidade do ar baixa perigosamente em regiões como o Distrito Federal. É manter os ambientes abertos, ventilados e umidificados, seja com toalha molhada, com bacia de água ou com umidificadores elétricos.
Se você trabalha fora, sugerimos manter uma agenda comum com as cuidadoras profissionais ou demais pessoas da família responsáveis pelo cuidado para acompanhar a rotina do familiar e observar possíveis alterações no paciente. Cuidado é checar se o familiar está indo ao banheiro e fazendo suas necessidades. Quais e quantas vezes ao dia, na semana e no mês.
Esses relatos via agenda comum também são uma forma de cuidado. Fazem parte do cuidado como organização e planejamento, que inclui compras antecipadas de medicações para evitar que faltem, assim como materiais de higiene, de beleza e aquisição de dietas, caso sejam necessárias.
Cuidado é lembrar das coisas que a pessoa doente gostava e proporcionar pequenos prazeres, sem esquecer que as demências alteram os gostos e hábitos. Ou seja, não se assuste se o paladar mudar ou mesmo se aquela comidinha que era a preferida há anos pelo seu familiar deixar de ser do dia para a noite.
Caso você não saiba dos gostos do seu familiar, uma ideia é pedir ajuda para pessoas mais velhas da família e para amigas e amigos próximos. Envolver outras pessoas, se abrindo para novos aprendizados, é um cuidado com o outro e com você (autocuidado).
Cafunés, abraços e beijos são bem-vindos.
Pentear os cabelos, passar creme para manter a pele hidratada e pequenas massagens também. Andar de mãos ou de braços dados pode tornar o dia mais alegre para as pessoas com demências. E para você. Caso a pessoa esteja acamada e não caiba no orçamento a compra uma cadeira de rodas nova ou usada, que tal alugar uma cadeira de rodas no fim-de-semana ou a cada 15 dias e levar a pessoa idosa a passear?
Dependendo da fase da demência, talvez seu familiar estranhe “intimidades” como beijos, abraços, andar de mãos ou braços dados. Ou ainda, talvez não reconheça mais você. Estes casos são sempre dolorosos para quem cuida. É difícil não ser reconhecida. Ou ser chamada de mamãe, vovó, papai, padrinho quando gostaríamos de ser acalentadas por nossos entes queridos.
Algumas pessoas nos contam que seu familiar está muito bem e que, apesar de andar, quase não sai de casa. Sair para tomar o sol ou caminhar na quadra são formas de cuidado que ofertam qualidade de vida às pessoas enfermas. E também uma oportunidade diária de ver outros ambientes, a natureza e outras pessoas, ainda que desconhecidas.
Se for possível levar a um clube ou a um parque, onde o enfermo possa estar em meio a outras pessoas, sem muito alvoroço, melhor ainda, . Mas não espere que o familiar ainda goste de água ou piscina, mesmo que esteja agradavelmente aquecida (no seu gosto).
É possível que a pessoa enferma não compreenda mais o sentido da água, das gotas do chuveiro e tenha a desagradável sensação de frio e corpo molhado. É possível que se assuste e resista a participar de um projeto pensado com boa intenção.
Cuidado inclui ainda o estímulo a aspectos lúdicos, muito além de assistir televisão. Além da música, baixa e calma, o uso de jogos de tabuleiros ou cartas são uma boa opção. Jogos simples que não causem sofrimento nem exijam alto grau de atenção.
Se você for jogar dominó com seu familiar, sugerimos não reclamar se ele não seguir a fila dos números ou quebrar as regras do jogo. Se a pessoa enferma acertar juntar os números, já é vencedora. Não importa a forma como isso ocorre.
Na próxima sexta-feira, seguiremos oferecendo sugestões de atividades lúdicas para as pessoas com demências.
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