Ana Castro & Cosette Castro
Brasília – Nos últimos dois anos e meio, brasileiras e brasileiros têm vivido uma crise econômica sem precedentes, vivenciaram milhares de mortes desnecessárias durante a pandemia e seguem acompanhando o aumento do desemprego e do trabalho informal. E, como se fosse pouco, assistem ou sentem na pele, o aumento da insegurança alimentar e nutricional.
Em meio a essa crise coletiva, os casos de demências seguem aumentando em todo o país. Mas muitas outras pessoas continuam ainda sem diagnóstico, ampliando os problemas familiares e a adaptação necessária em meio a dura realidade nacional. Ainda assim, a população voltou às ruas para se manifestar no dia das trabalhadoras e dos trabalhadores.
O texto de hoje, diferente das manifestações do domingo, resgata a memória emocional e mostra a importância do registro por escrito de quem convive com um familiar com demência. Independente se foi guardado em uma gaveta ou publicado em redes sociais digitais, estes relatos mostram os anseios do momento, as dúvidas e a realidade da época.
Trazemos um texto da Ana Castro publicado no Facebook (link aqui) há cinco anos, onde relatava lembranças do cuidar. Ana nos mostra soluções temporárias ou permanentes encontradas ao longo do caminho do cuidado. E também nos trazem aprendizados, como a importância de buscar informações e dividir as dúvidas, em público ou no privado.
No cuidado de familiares com demências descobrimos na prática que não existe uma única resposta. Cada caso é um caso.
Convidamos nossas leitoras e leitores a acompanharem a atualização das informações que aparecem entre parênteses no texto. Como um diálogo interno entre passado e presente, agora compartilhado.
Ana Castro – “Hoje pensei sobre o cuidar. São tantas lembranças de pessoas que me apontaram caminhos os mais diversos nessa jornada de mais de uma década!
Levar ao médico, comprar remédios e garantir que sejam tomados, é o básico no cuidado de um familiar. (Há muito mais trabalho e preocupações no nosso cotidiano).
Onde e como morar? Este é um exemplo importante. Não existe uma solução única e depende do orçamento de cada família.
Ir morar junto, muitos viram como a melhor solução, né Mori, Fatima, Dhara Lucia? Internar em uma Instituição de Longa Permanência (ILPI) também é uma forma de amor, como mostram amigos aqui do FB. (E mais recentemente, em 2019, com a mãe da Cosette Castro).
Ou morar no mesmo prédio, não é, Maria Salles? Há a possibilidade de construir uma casa pra atender às necessidades da mãe, como fez a Gislaine Peres Pacheco. Ou construir um pequeno apartamento para a sogra manter a privacidade, como fez a mãe da Erika Lisboas.
Toda família busca soluções criativas e, às vezes solitárias, para driblar os desafios da dependência no envelhecimento, pois o tema está fora da agenda pública e privada. (Isso ocorre até hoje. Segue fora da agenda das escolas de nível básico, intermediário e também das universidades).
Não há geriatras suficientes, não há instituições públicas ou centros-dia públicos. E tampouco há protocolos para exames ou atendimento hospitalar voltados para pessoas idosas fragilizadas. (Passados 5 anos, essa realidade segue igual no Distrito Federal. A maior parte das equipes de saúde ainda desconhecem os procedimentos necessários sobre como proceder em caso de pessoas com demências).
Sonhei fazer um centro dia, testar produtos , influenciar políticas, fazer blog, mas ando cansada. Talvez mais tarde encontre energia para compartilhar alguma coisa do que aprendi. (Em 2019, criamos o Coletivo Filhas da Mãe e, desde 2021, temos o Blog semanal no Correio Braziliense. Também temos um projeto de aplicativo para celulares que inclui o teste de produtos ainda em fase de desenvolvimento. Então, sim, sigo fazendo muitas coisas, agora no Coletivo).
Como perdemos tempo buscando soluções para problemas que outros países já resolveram faz tempo!
Minha mania de logística e de otimizar recursos talvez ajude a vencer a inércia…
Mas uma lição já dividi aqui: estar próximas às crianças. Sejam netos, bisnetos, amigos dos netos e bisnetos! Energia boa para quem vivencia ou assiste! (Para além da vivência familiar, a intergeracionalidade é importante para quem está crescendo e também para quem está envelhecendo. Por isso, essa é uma das pautas presentes nas atividades do Coletivo Filhas da Mãe).
Como temos escrito neste Blog, falar (ou escrever) diminui o peso de perder um ente querido cotidianamente e mostra como, para além do individual, em rede, no coletivo, podemos nos ajudar mutuamente.
É preciso acabar com o silêncio e com a falta de informações sobre as demências. Como apontamos na campanha sobre demências de 2021, falar (ou escrever) alivia a dor.
6 thoughts on “Pensando Sobre o Cuidar”
Muito bom seu artigo Parabéns pelas informação
Olá, gratidão pelo retorno.
Muito bom seu artigo Parabéns
Ficamos felizes em saber que você gostou. Abs
MUITO BOM
Grata pelo comentário, Barbara.