Ana Castro & Cosette Castro
Brasília – Quanto tempo vamos seguir fazendo de conta que o tempo não está passando?
Estamos todos envelhecendo, cada um na sua fase. Alguns têm tanto medo da própria idade que são capazes de colocar o corpo em risco para disfarçar o que consideram uma “decadência”.
Temos ouvido comentários de diferentes pessoas que tentam disfarçar o avanço da idade. Algumas na faixa dos 18, 20 anos, em uma verdadeira distorção do sentido da vida, de viver bem, desfrutar as experiencias e buscar qualidade de vida.
Há jovens que estão usando botox, uma toxina que paralisa temporariamente os músculos da face, para “prevenir o envelhecimento”. Um discurso que a indústria da beleza repete diariamente e ouvimos desde a infância.
Tal atitude mostra o nível do medo da velhice em um país que renega as pessoas idosas. Mesmo que no Brasil existam 37,8 milhões de pessoas com 60 anos ou mais e outros 50 milhões de pessoas na faixa entre 50 e 59 anos. Ou seja, algo em torno de 87, 8 milhões de brasileiros e brasileiras estão envelhecendo.
A negação da idade transpassa todas faixas etárias expondo a cultura de medo e preconceito à idade no Brasil. Um dos indicadores desse preconceito é fato do país ser o “campeão” em cirurgias estéticas no mundo desde 2019.
Relatos não faltam. O medo se revela pelas caras e bocas deformadas de homens e mulheres pela tentativa de parar o tempo.
Ontem uma amiga nos contou que estava pensando em colocar fios de ouro para “sustentar” o rosto. Outra contou que estava pensando em usar botox (mais uma vez). E tem os amigos que pintam cabelo, sobrancelha e bigode como se isso fosse barrar a passagem do tempo.
Há aqueles que não saem da academia. E o tempo passado lá dentro não é destinado a melhorar a qualidade de vida, mas sim a esconder os sinais da idade.
Não é por acaso que o Brasil era o segundo mercado fitness das Américas em 2019, com uma arrecadação de 2,1 bilhões de dólares. Um mercado que, com a redução do risco do Covid-19, tende a voltar a esquentar rapidamente.
Para além do medo há o preconceito. Um preconceito que começa pela estrutura dos governos ao invisibilizar as pessoas mais velhas e tratá-las como inúteis.
Esse mesmo preconceito está presente em todos os níveis da sociedade.
Aparece nas famílias nas constantes “brincadeiras” sobre velhice (“Uhm! Está ficando velha, heim?!?!” Ou ” Você vai usar essa roupa? Com a sua idade?”).
Está presente nas ofensas de motoristas no trânsito (” vai pra casa, sua velha!” Ou ” sai, velho babaca”). Na falta de paciência de atendentes de todos os setores, públicos e privados e no descaso de gerentes e chefias em relação a essa situação.
O que dizer do diário desrespeito de motoristas de ônibus à pessoas com mais de 60 anos? Um desrespeito que se repete de Norte a Sul do país sem que os governos locais tenham a iniciativa de multar as empresas e motoristas a cada denúncia. Ou exigir cursos sobre idadismo para barrar o preconceito de idade. Simplesmente deixam acontecer…
Não é a passagem do tempo que nos faz viver melhor ou pior. Mesmo em um país repleto de desigualdades, como o Brasil. É o preconceito em todos os níveis sociais e o nosso preconceito, que não aceita o próprio corpo e a nova fase.
As rugas não são feias. Elas lembram nossas vivências e são a garantia que temos histórias para contar. Mesmo que as empresas e as agências de publicidade sigam nos oferecendo cremes “mágicos” para “impedir”a idade.
Velhice não é doença. Nossos corpos e vidas têm beleza. Podem e devem ser mostrados. É falsa a disputa entre gente nova e gente velha. Temos que parar com esse falso binarismo.
Feio é o preconceito de idade que alimenta outros preconceitos (racismo, preconceito de gênero, gordofobia, homofobia, xenofobia) e impedem a vida plena.
PS: Aguardem no dia 06 de abril lançamento de campanha nacional contra o preconceito de idade que o Coletivo Filhas da Mãe faz parte.
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