Ana Castro & Cosette Castro
Brasília – Nesta terça-feira, 08 de março, será comemorado o dia internacional da mulher. Mas não é um dia só de dar flores ou enviar cartões simpáticos.
Aliás, é mais que um dia. É um mês inteiro para debater o aumento da violência contra mulheres de todas as idades. Uma violência que, muitas vezes, culmina no feminicídio e em famílias totalmente destroçadas.
É tempo também de contar sobre o racismo que vem se repetindo com frequência e de forma aguda em todo o país. De lembrar sobre salários desiguais entre homens e mulheres que ocupam o mesmo cargo. Uma injustiça que ainda segue ocorrendo, mas os governos estaduais, distritais e Federal fecham os olhos.
Acrescente-se ainda o idadismo, o ageismo e o etarismo, diferentes nomes para o preconceito contra a pessoa idosa, em especial contra as mulheres 60+ cobradas para se manterem jovens desde cedo. Ou o capacitismo, preconceito contra pessoas com algum tipo de deficiência. Como se todos fôssemos perfeitos e perfeitas.
Mas também é tempo de olhar para o passado e celebrar vitórias.
No final de fevereiro comemoramos 90 anos do voto feminino. As mulheres brasileiras votaram antes que as francesas, mas enfrentaram várias restrições. Se fossem casadas, precisavam da permissão do marido e se fossem analfabetas não podiam votar. Isto é, o voto estava fora do alcance da maioria das mulheres negras, impedidas pela falta de estudo.
A partir dos anos 2000 aumentou o número de mulheres de todas as etnias, idades e diferentes locais de origem nas universidades. Algo impensável no Brasil dos final dos anos 50 e mesmo nos anos 60 do século XX, onde cada vaga era uma conquista difícil em cursos com maioria de homens nas salas de aula.
Hoje podemos ter contas individualizadas no banco. Algo impossível até o começo dos anos 60. Foi preciso mudar a Constituição para que as mulheres tivessem a sua própria conta bancária.
Se fossem casadas, as mulheres precisavam de autorização do marido para abrir uma conta ou movimentar dinheiro. Se fossem solteiras, precisavam de autorização do pai ou do irmão mais velho. Nossas mães e avós abriram caminhos hoje praticamente naturalizados por nós.
Sem independência financeira, como sair da casa dos pais e fazer planos que não fosse o casamento? E depois de casada, mesmo tendo conseguido fazer um curso superior, muitas vezes eram impedidas pelo marido de trabalhar “fora”.
A vida se restringia a casa, aos filhos e aos cuidados. Passados mais de 60 anos, rompemos muitas barreiras. Saímos de casa, conseguimos independência financeira, mas seguimos cuidando. Da casa, dos filhos e de outros familiares. Seguimos com duplas e triplas jornadas.
Segundo estudo da Oxfam (2020), 75% das mulheres no mundo, a partir dos 14 anos, realizam atividades de cuidado sem receber remuneração. E a atividade de cuidado gratuito não para com o avançar da idade.
Mesmo após a aposentadoria (quando conseguem se aposentar), as mulheres seguem cuidando familiares idosos, familiares enfermos e/ou netos e netas. Apesar do cansaço. Apesar dos anos sem parar de trabalhar dentro e fora de casa.
No Brasil, como aponta o IBGE, as mulheres representam 96% da atividade de cuidado, incluindo as cuidadoras profissionais, as familiares e as informais (vizinhas e amigas).
As cuidadoras familiares, que trabalham gratuitamente dia após dia, representam 82% da atividade de cuidado. Ou seja, há um exército de mulheres espalhadas pelo Brasil que constituem mão de obra sem remuneração.
Não é por acaso que precisamos urgentemente políticas nacionais de cuidado que incluam as cuidadoras. Políticas públicas que incluam a co-responsabilização do Estado no cuidar. Precisamos também de campanhas públicas contínuas contra o idadismo, pois quem cuida também envelhece.
Em tempos de redução de direitos sociais e corte de políticas públicas, nós, do Coletivo Filhas da Mãe, estamos aqui para lembrar da existência das cuidadoras e de seus direitos.
Mesmo cuidando, seguimos resistindo. Nenhum direito cai do céu.
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