Ana Castro & Cosette Castro
Brasília – O envelhecimento começa cedo. Principalmente para as mulheres. E particularmente no Brasil, que prefere se enganar dizendo que continua sendo um país jovem. De jovens.
Quem não ouviu falar nas balzaquianas, as mulheres de 30 anos? E se a mulher não casou? E se decidiu não ter filhos? E se… Esta é uma cultura que está mudando, ainda que lentamente.
Seguimos sendo o primeiro país do mundo em cirurgias estéticas. Um país onde o espelho e os outros ditam normas estéticas. Um Brasil onde a velhofobia, o capacitismo e a gordofobia caminham de mãos dadas. Um país que não se reconhece preconceituoso.
No mercado de trabalho, a discriminação segue escandalosa. Querem “gente nova”, esquecendo que equipes mistas trabalham melhor e rendem mais. Energia + experiência.
Aos 40, sim aos 40, 42 anos, homens e mulheres, (mais mulheres que homens) começam a ser preteridos em diferentes cargos.
Uma das desculpas mais cruéis ocorre quando um contratador diz: “seu currículo é muito bom para esta vaga”. E contrata alguém mais jovem.
E isso não acontece apenas no acirrado mercado de trabalho…
Na academia, algumas bolsas de mestrado são para pessoas até 40 anos. Como se acima de 40 se tivesse obrigação de ter dinheiro para pagar uma pós-graduação. Ou como se apenas jovens tivessem direito a uma bolsa de estudos.
Instituições nacionais e estrangeiras que oferecem bolsas de estudo para pós-graduação também colocam barreira da idade (40 anos para mestrado). Consideram a idade como impedimento para o aprendizado e para o bom desempenho.
No caso nacional ocorre em um país com mais de 14 milhões de desempregados e outras 39 milhões de pessoas com trabalho informal.
Nas instituições estrangeiras, a medida define a vida e as possibilidades de futuro de estudantes de diferentes países, penalizando quem já chegou aos 40.
Atualmente, segundo o IBGE, a expectativa de vida dos brasileiros é de 76,8 anos para homens e 79 anos para mulheres. Mesmo que seja possível encontrar tantas pessoas ativas aos 80 e 90 anos.
O pensador francês Edgar Morin que o diga. Completou 100 anos em 2021 em plena atividade, assim como o arquiteto Oscar Niemayer que chegou aos 100 anos.
A situação vai além da crise de trabalho no Brasil. Trata-se de uma questão estrutural. Um preconceito estrutural.
Mesmo para vagas de cotas, que tentam reduzir os danos históricos causados às pessoas negras e indígenas, à população LGBTQIA+ e às mulheres, a questão da idade nunca é tratada. E, na hora da seleção, a preferência recai nos mais jovens.
Até quando a velhofobia, o idadismo, o ageismo e o etarismo, diferentes nomes para o mesmo preconceito, vai continuar em todos os setores sociais?
É uma discriminação que está tão enraizada dentro de nós que chamar uma pessoa de velha é ofensivo.
Algumas pessoas têm tanto medo de envelhecer que se afastam e afastam as pessoas idosas do convívio, do mercado de trabalho, das festas, das fotos, do campo amoroso e sexual. Do mundo em geral.
Paradoxalmente, o mundo é comandado, em diferentes setores, por pessoas com 60+. Essas sim, vistas como bem sucedidas.
Não estamos falando da vovó ou do vovô do coração, que faz todas vontades dos netos e que povoa nosso imaginário.
Não nos referimos a minoria de funcionários públicos cuja aposentadoria cobre seus gastos e de outras pessoas da família.
No caso dos 60+, estamos nos referindo a pessoas como a vizinha da porta ao lado. A conhecida, cuja aposentadoria não alcança os gastos mensais e precisa seguir trabalhando. Ou de quem ainda precisa garantir o sustento de da família, porque o desemprego bateu na porta dos mais jovens.
Também nos referimos ao envelhecimento acelerado de quem cuida. Que deixa de lado seus projetos pessoais e profissionais para cuidar de um familiar. E depois de anos de cuidado, da dor e da morte, encontra muita dificuldade de se reinserir no mercado. Quando consegue.
Na década do envelhecimento saudável, precisamos de campanhas nacionais e internacionais para reverter o preconceito. O preconceito que existe na sociedade e também dentro de nós (“eu não sou velho/a”).
Nós, do Coletivo Filhas da Mãe, seguimos defendendo e praticando as relações intergeracionais, onde todos aprendem e todos ensinam. Somos pessoas velhas, sim, com muito orgulho!