Você Já Ouviu Falar em Eutonia?

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Ana Castro, Cosette Castro & Convidada

Brasília – Práticas que contribuem para a melhora das condições de vida das pessoas  60+ são bem-vindas neste Blog.

Convidamos a fonoaudióloga Felomenia Pinho, de São Paulo, para contar sua experiência em tentar aliviar as dores do corpo e da alma de pessoas 60+, dores que foram ampliadas durante a pandemia.

Felomenia já participou de outros projetos do Coletivo Filhas da Mãe, como a Campanha Vacinas Já, realizada no primeiro semestre de 2021. Nesse projeto, profissionais de todo país cederam seu tempo e enviaram vídeos gravados no celulares contando sobre a importância da vacinação contra o Covid-19.

Hoje vamos conhecer de perto as práticas de Eutonia que Felomenia desenvolve, práticas que podem promover o cuidado de pacientes e o autocuidado entre cuidadoras.

Felomenia Pinho – “Tenho 57 anos e trabalho como Fonoaudióloga há 33 anos. Também sou Terapeuta e Educadora Somática com formação em Eutonia e no Método Corpo Intenção, técnicas quais potencializam a Fonoaudiologia e me possibilitam uma visão integrativa do ser humano.

O meu olhar é para a saúde e para o bem-estar na busca da melhora da qualidade de vida das pessoas. Nestes últimos dois  anos, notei que as pessoas necessitam ainda mais de atenção e de cuidados. Estão sensíveis e tiveram comprometimento da saúde biopsicossocial.

Recentemente, eu conversei com a Dalila*, uma aluna de Eutonia, abordagem corporal psicossomática criada por Gerda Alexander em meados do século 20. Dalila tem 80 anos e conta que está com dificuldades de memória. Ela ficou confinada em casa até recentemente, quando saiu com a filha para dar uma volta de carro pelo bairro que mora em São Paulo.

Sentiu um estranhamento e não reconheceu o próprio bairro. Disse: “Filha, que rua é essa?”

Ao longo desses meses pandêmicos, muita coisa mudou. Empresas fecharam ou mudaram de endereço, e outras abriram. Famílias mudaram de local de residência e muita gente faleceu. A partir dessa realidade, penso: Qual é o “buraco” deixado na vida desses seres humanos?

O que resultará do medo de perder amigos e parentes? do medo de falecer e deixar filhos, netos e amigos?; do medo de tocar e ser tocado?

Fico emocionada e sem palavras ao escutar a Dalila. Penso que temos que escutar ainda mais as pessoas com 60 anos ou mais. Muitos ficaram deprimidos por ficarem afastados fisicamente dos seus entes queridos. Creio que dar-lhes o direito de escolha seja uma boa opção. Talvez assim, eles possam estar mais presentes e integrados, sem precisar chegar ao ponto de perguntar: “Filha, que rua é essa?”

Enquanto a nossa sociedade se recupera dessa pandemia, creio ser importante oferecer às pessoas 60+ práticas corporais que possibilitem o contato que pode ocorrer pelo olhar, pela fala, pela pele, etc.

A Eutonia, por exemplo, mostra-nos  que é através da pele que temos os primeiros contatos com uma outra pessoa- a nossa mãe. A pele é o maior órgão do corpo, ela nos traz a memória do que vivemos e que pode ser acessada quando nos tocamos de forma consciente. Assim, entramos em contato com as nossas emoções. A pele do idoso é fina e delicada, tem história e tem VIDA!

Os benefícios da Eutonia são inúmeros.  Entre eles a redução do estresse, o respeito às  possibilidades do corpo e ao próprio ritmo, a promoção  do bem-estar, a redução dos esforços físicos e o estímulo  da gentileza consigo e com os outros, assim como o estímulo à pausa e à busca do conforto físico.

Há mais benefícios:  alívio das dores crônicas, flexibilização do tônus , melhoria da postura e da respiração, ampliação do contato com o seu corpo no aqui e agora (o chamado estado de presença na meditação), percepção dos limites e do espaço, atualização das emoções e da percepção, e promoção do movimento espontâneo.

O corpo nos traz a consciência do nosso mundo interno e externo. É a ponte entre o ambiente e a nossa mente.

Cuidar do corpo de uma pessoa 60+ através da Eutonia, que valoriza o afeto por si, pode ser um “caminho” interessante para estimular o autocuidado e ampliar o autoconhecimento, melhorando a cognição e as relações humanas.

O contato e a troca são caminhos de grande aprendizado! Dar oportunidade de dialogar é imprescindível para tratar as dores do corpo e as da alma. O valor disso é inestimável. Oferece uma possibilidade de rever a vida e a tornar mais saudável.

As vezes alimentamos tanto a mente que esquecemos que ela está integrada ao corpo. Também esquecemos que ele precisa ser cuidado diariamente. A Eutonia é uma possibilidade de reencontro com o que é mais próprio de cada ser humano e merece ser conhecida. É uma experiência de cuidado e autocuidado a ser feita e multiplicada.”

*nome fictício

Desejamos que em 2022 se multipliquem as práticas de cuidado de pessoas idosas e também de autocuidado entre cuidadoras familiares.

PS: Em 2022 seguiremos falando e escrevendo “cuidadoras familiares” no feminino porque as mulheres representam 96% da atividade de cuidado no Brasil. Desejamos que em 2022 muito mais homens se envolvam nas práticas cotidianas de cuidado.

Cosette Castro

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