Ana Castro & Cosette Castro
Brasília – Este mês de dezembro, o Coletivo Filhas da Mãe completa 02 anos de existência e resistência. Apoiamos cuidadoras e cuidadores familiares de pessoas com demências, entre elas o Alzheimer, estimulamos o cuidado e o autocuidado e propomos políticas públicas para pessoas idosas e seus familiares.
Entre vários outros projetos on line, fizemos campanha nas redes socais digitais em defesa da vacina contra Covid-19 e em defesa do SUS. Neste espaço reiteramos nosso apoio à ciência e aos serviços públicos, embora nem todos consigam ter atuação de excelência, apesar dos esforços pessoais das suas equipes.
Este é o caso do Centro Multidisciplinar do Idoso (CMI) que vive momentos de precariedade e sucateamento. Uma precariedade que atinge diretamente a qualidade do atendimento ao público que necessita: pessoas com demências e seus familiares.
Neste sentido, como prática democrática, temos aberto espaço para diferentes olhares. O primeiro texto tratou dos problemas de estrutura física do CMI, que urgem ser resolvidos.
No segundo texto, demos espaço para os profissionais das equipes de reabilitação. Apontamos a falta de uma equipe multidisciplinar robusta e atendimentos que deixam a desejar pela falta de condições.
Isso penaliza pacientes e familiares, mas também os profissionais e a direção do setor, que segue trabalhando apesar de todas dificuldades.
Hoje abrimos espaço para escutar as cuidadoras familiares. Seria injusto deixar pra trás o lado mais frágil em todos os sentidos. Escolhemos uma pessoa – preservando seu anonimato – que já foi cuidadora e atualmente é paciente do CMI.
Nossa intenção não é difamar os serviços do CMI, que reconhecemos essenciais, nem diminuir os esforços diários da pequena equipe de especialistas que lá atua. Queremos, sim, mostrar a dimensão e a complexidade do problema desde diferentes abordagens. E garantir também serviço de excelência durante a formação dos futuros profissionais que hoje atuam em meio a esses problemas.
Cuidadora – “Eu conheço o CMI desde a fundação, quando era jornalista, divulgando o pioneirismo do Dr. Renato Maia. Depois levei minha mãe, diagnosticada com Alzheimer, para fazer tratamento. Naquele momento tinha coral, artesanato e reuniões de familiares.
Agora sou paciente. Confesso que, a cada dia, volto mais triste.
Na primeira consulta em 2019 caiu um pedaço de gesso do forro na maca onde me mandaram sentar pra aferir a pressão. Agora há problemas de infiltração e quando chove o chão fica molhado. Um risco.
As cadeiras são velhas e muitas são esburacadas. E as novas, são duras, não comportando as horas de espera a cada consulta.
Nas consultas não há um mínimo de intimidade. Nem me refiro a quantidade de alunos em formação que nos olham e observam enquanto expomos nossa vida, dificuldades e fragilidades.
Existe um problema de falta de privacidade e acústica nos consultórios que tanto os profissionais quanto familiares e pacientes (como eu) cansam de tanto reclamar. E isso se repete há anos. Eu já estive em avaliação ouvindo duas consultas simultâneas nas salas ao lado. Da pra imaginar alguém conseguir se concentrar assim? Quando não era uma aula ocorrendo ao lado da sala de consulta.
Falta um olhar mais delicado sobre as necessidades da pessoa idosa e seus acompanhantes, que as vezes também são pessoas idosas ou com dificuldades físicas.
Não há, por exemplo, local onde trocar uma fralda geriátrica. E isso ocorre desde que minha mãe foi a primeira vez na consulta. Apesar dos vários pedidos para contemplar essa necessidade básica dos pacientes. Mas ainda há tempo de mudar.
Mesmo pra quem tem mobilidade, como eu, é uma aventura entrar no cubículo do banheiro. (Será que algum profissional da saúde utiliza os mesmos banheiros?). Para fechar a porta, precisamos quase saltar sobre o vaso sanitário para fechar e não tem acento! Imaginem uma pessoa com sobrepeso.
Sou voluntária em uma pesquisa sobre cognição e atividade física que foi adiada por conta da pandemia. É admirável o empenho de professores e alunos, mas é tudo muito difícil dentro do CMI.
Desde que voltei a ser atendida presencialmente este ano, não tem copos para pacientes e acompanhantes tomarem água. E são horas de espera pelo atendimento e posterior reunião com médico e seus alunos.
Ainda estou a espera da avaliação final. Da para imaginar a ansiedade que isso gera em quem aguarda um diagnóstico?
Nas paredes, há cartazes anunciando atividades que não existem há anos, como se não olhássemos para os lados. Isso agride os olhos. Não há cor no CMI. É a imagem do abandono. Por que isso é aceitável para pessoas idosas, principalmente aquelas com demência?
É precária e constrangedora a falta de estrutura física e de equipe multidisciplinar completa. Ainda não tive coragem de ir lá com minha família. Na próxima consulta, será inadiável que conheçam o CMI. Já sofro por antecipação”.
O ambulatório é parte do Hospital Universitário de Brasília (HUB), um dos mais respeitados hospitais públicos do Centro-Oeste. Embora façamos críticas, respeitamos e reconhecemos os esforços dos profissionais do CMI, que poderiam ter equipe maior e mais espaço de formação e pesquisa, pois é um hospital universitário.
Em respeito ao Hospital, estamos deixando o link das Nota 01 e Nota 02 enviadas pelo HUB, que não considera suficiente utilizar o espaço para comentários do Blog.
Da nossa parte, estamos solicitando publicamente através do Blog e também oficialmente, via e-mail, uma reunião com a diretoria do HUB/Ebserh, espaço disponibilizado pela assessoria do Hospital na Nota 01.
Não se trata de uma reunião apenas do Coletivo Filhas da Mãe com a direção do HUB, mas em conjunto com diferentes instituições do Distrito Federal interessadas na plena recuperação do CMI. E, principalmente, que o CMI possa expandir seu potencial, ofertando serviços de excelência.
De um lado, pode melhorar a qualidade do ambiente de trabalho e de outro, contribuir para a qualidade de vida dos pacientes com demências e seus familiares.
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