Ana Castro & Cosette Castro
Brasília – Pessoas idosas negras constituem mais de 50% da população 60+ do Brasil, mas essa realidade pouco aparece na mídia e nas redes sociais digitais.
Nesta edição, abrimos espaço para lembrar o cotidiano de violência histórica e apagamento que tem sido imposto à população negra.
De acordo com a coleção “Brasil 500 anos”, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), estima-se que 4 milhões de pessoas negras escravizadas foram trazidas ao Brasil.
Deste total, dois milhões morreram durante o trajeto em alto mar. As demais foram assassinadas ou morreram em consequência de maltratos.
Foram mais de 300 anos de violência cotidiana, que não terminou com a abolição da escravatura. As pessoas negras até então escravizadas, não receberam nenhuma ajuda após a libertação. Foram abandonados à própria sorte.
Não tinham formação profissional, estudo, casa ou trabalho assalariado. Quando conseguiam trabalhar, recebiam salário menor por causa da cor da pele, preconceito que segue ocorrendo até hoje.
Passados 133 anos, a desigualdade social e econômica entre pessoas brancas e pessoas negras segue gritante.
Segundo o IBGE, mais de 70% das pessoas mais ricas do país são brancas. E mais de 75% das pessoas mais pobres no Brasil são negras. Uma situação que vem aumentando com a crise econômica e a pandemia.
Mais pobreza significa menos possibilidades e menos tempo de estudo.
Enquanto 79% da população branca chegam à universidade, entre a população negra apenas 50% acessam formação de nível superior.
O atual governo, por sua vez, dificulta cada vez mais a entrada de jovens carentes à universidade através do Enem, assim como reduziu as demais políticas sociais voltadas para população negra.
Ao chegar no mercado de trabalho, a diferença de oportunidades se torna mais marcante. 70% dos cargos de gerência e direção de empresas são ocupados por pessoas brancas, majoritariamente homens. E não são poucos os casos de empresas que sequer consideram candidatos e candidatas negras para postos mais altos, embora não admitam isso formalmente, já que racismo é crime.
Com relação aos salários, as diferenças são brutais.
Dados da Pesquisa Desigualdades Sociais por Cor e Raça do IBGE publicada em 2019 apontam que homens brancos ganham 44% a mais que mulheres negras. Em relação aos homens negros, as mulheres negras recebem um salário 23% menor.
O tratamento desigual não para por aí. Homens e mulheres negras ganham menos que mulheres brancas.
Durante a pandemia, a situação de desemprego atingiu com força a população brasileira, mas a situação foi muito mais grave entre pessoas negras.
No primeiro semestre de 2020, de acordo com o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-Econômicos (DIEESE), dos 8,9 milhões de desempregados, 6,4 milhões eram homens e mulheres negras.
Essas diferenças salariais se repetem também no mercado informal, obrigando a maior parte da população negra a morar em bairros pobres, vilas e favelas, onde o transporte público é precário e caro.
Dessa forma, não dá pra comparar diferentes grupos sociais como se vivessem em condições de igualdade. Mulheres negras com fragilidade social, por exemplo, enfrentam muito mais desafios exatamente porque são mulheres, negras e pobres.
O cuidado profissional tem cor no país. É mal pago e até hoje não foi reconhecido como profissão, já que o atual presidente se negou a assinar a lei do reconhecimento.
As mulheres negras e pardas são as que mais trabalham em atividades de cuidado.
Elas são cuidadoras profissionais de pessoas enfermas ou idosas, diaristas, babás ou domésticas. Em tempos de pandemia, a maior parte delas necessitou seguir usando transportes coletivos para garantir a sobrevivência, sem que fossem oferecidas máscaras, álcool gel, nem que houvesse um rígido controle no número de pessoas que poderiam ser transportadas.
Com isso, a população negra apresentou mais casos de contaminação e mortes. Em maio de 2020, segundo pesquisa realizada por pesquisadores independentes em 5.500 municípios do país, 55% dos casos graves de Covid-19 foram registrados entre pacientes negros hospitalizados contra 34% de pacientes brancos.
Segundo o Ministério da Saúde (2021), 57% das mortes por Covid-19 ocorreram entre a população negra.
A discriminação oficializada, embora não reconhecida no Brasil, inclui também os dados sobre saúde pública. Na saúde primária, não são coletados dados por raça/cor ou etnia, apesar de 54% da população se autodeclararem negros ou pardos.
Uma maioria minorizada, como lembra o pesquisador Richard Santos. Até quando?
PS: Neste texto utilizamos o termo negros, conforme categorização do IBGE, que inclui as pessoas pretas e pardas.
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