Ana Castro & Cosette Castro
Brasília – No contexto de envelhecimento, pandemia e crise econômica que estamos vivendo, seguem crescendo os casos de demências, entre elas o Alzheimer, doenças que possuem tratamento, mas não têm cura.
Também se tornam cada vez mais visíveis os casos de demência precoce, que aparecem antes dos 60 anos, mesmo que representem somente 7% dos diagnósticos.
Embora sejam poucos os casos confirmados, é grande o sofrimento das pessoas que apresentam este tipo de demência durante a vida adulta. Elas não se enquadram no perfil pessoa idosa, o que leva profissionais e familiares a duvidarem do diagnóstico. Enquanto isso, pacientes vão perdendo a memória, funções cognitivas, não conseguem mais dirigir, entre outros problemas.
Do outro lado da pirâmide demencial, há pacientes idosos do nível intermediário e avançado que são agitados e até agressivos, dificultando o cuidado. Tentar melhorar a qualidade de vida dessas pessoas é um desafio diário.
Uma das possibilidades de tranquilizar, melhorar o convívio social e até trazer alegria para esses pacientes, é adotar a terapia das bonecas, usando bonecas mais parecidas possíveis com bebês. Elas podem ser dadas a pacientes, independente de gênero, desde que gostem de crianças ou tenham boas lembranças da maternidade ou paternidade. .
Esta é uma experiência que surgiu em uma instituição de longa permanência para idosos (ILPI) do Reino Unido, a Ashcroft Home Care. A equipe técnica comprovou que cuidar de uma boneca pode despertar lembranças positivas e proporcionar a sensação de ser útil e necessária.
De acordo com a equipe da instituição britânica, a terapia da boneca traz vários benefícios, entre eles acalmar os pacientes, oferecer conforto, aliviar a aflição, reduzir o estado de confusão e agitação. Também estimula a comunicação, a linguagem e a interação, além de possibilitar estímulo sensorial.
Nossas mães, Normita (mãe da Ana) e Carmencita (mãe da Cosette), tinham cursos superiores, eram mulheres fortes que viajavam, gostavam de ler, de cultura e arte. Até ficarem doentes e entrarem na segunda fase da demência.
Normita Castro, mãe da Ana
A Normita ganhou sua boneca bem antes da Carmencita, mas o resultado foi igual. Elas, que nunca se conheceram, ficaram contentes e mais tranquilas com o bebê. Abraçavam, beijavam e não largavam a boneca.
Já o padrasto da Ana, que também teve demência, ficava tranquilo com um cachorro de pelúcia macio. Alguns pacientes aceitam melhor bichos de pelúcia e em outros, a terapia da boneca simplesmente não funciona. É preciso ter uma memória feliz da relação, seja com crianças ou animais.
Há todo um ritual para introduzir a boneca em pacientes em estágio intermediário ou avançado.
É importante que a boneca seja o mais parecida possível com um bebê e deve ser entregue nas mãos da paciente, não em caixas. As caixas podem lembrar um caixão e gerar sofrimento e mais angústia.
As bonecas devem estar de olhos abertos, porque aquelas de olhos fechados podem parecer mortas, remetendo a experiências tristes dos pacientes. Tampouco presenteie bonecas com cara de choro.
Caso a paciente aceite, inclua pequenos pentes ou escovas para pentear o bebê e fitas para o cabelo. Mas nada que deixe os pacientes mais cansados.
Há quem discorde deste tipo de terapia. Nós, do Coletivo Filhas da Mãe, acreditamos no poder das bonecas e bichos de pelúcia.
Há quem considere esta terapia um tipo de infantilização do paciente. Esta é uma racionalização que não cabe mais entre pacientes com demências. Eles vivem em um outro mundo, cada vez mais desconectados de suas memórias.
Se a terapia das bonecas e dos bichos de pelúcia contribui para melhorar a qualidade de vida dos pacientes, que seja bem-vinda.
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