Ana Castro & Cosette Castro
Brasília – O Brasil não é um país para fracos.
E segue sendo um lugar onde o envelhecimento é visto como um problema e como não parte do processo natural da vida.
É difícil pensar em um futuro de envelhecimento populacional com qualidade de vida quando enfrentamos tantos problemas estruturais.
Entre eles, a realidade de estarmos entre os países do mundo com maior número de adolescentes grávidas na adolescência.
As mais afetadas são as meninas negras e pardas, que correspondem a sete em cada 10 mães adolescentes, segundo levantamento da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP.
O estudo aponta que mães adolescentes ganham em média 30% menos (em comparação às que não têm filhos) quando chegam ao mercado de trabalho.
Esse número é maior nas regiões Norte e Nordeste, áreas em que o
desnível salarial chega a 34%.
Os salários menores são consequência da redução da escolaridade. De acordo com o levantamento, mães adolescentes têm 12% menos chances de entrar no mercado formal.
Ou seja, elas terão de enfrentar a vida com mais problemas sócio-econômicos e culturais. E isso vai impactar diretamente na qualidade de vida adulta e no envelhecimento dessas meninas.
Estudo da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) aponta que a taxa de gestação entre adolescentes está muito acima de países considerados bons exemplos. Algo reforçado por pesquisas do Banco Mundial.
Segundo o levantamento, em 2019 o Brasil possuía uma taxa de mães adolescentes (de 15 a 19 anos) de 48 a cada mil nascimentos.
Nos Estados Unidos, essa taxa era de 20 a cada mil. Já em países europeus havia uma média de oito a cada mil, de acordo com o Banco Mundial.
Vale observar que o estudo não inclui meninas entre 10 e 14 anos, muitas delas vítimas de abuso sexual. Caso incluísse, os números seriam ainda mais assustadores.
Apesar disso, a maior parte das famílias brasileiras, baseada em valores morais e/ou religiosos, segue vivendo como avestruz.
Elas não orientam sexualmente seus meninos e meninas. Outras, terceirizam para a escola essa responsabilidade.
O governo federal por sua vez, ignora essa realidade e faz, de forma conservadora e irresponsável, campanha aberta contra a conscientização sexual de meninos e meninas nas escolas públicas.
É contra, por exemplo, mostrar documentários como “Meninas”, realizado há 15 anos, que possibilita o debate e a atua na prevenção de novos casos.
Enquanto esta tragédia anunciada ocorre principalmente nas regiões e bairros mais pobres do país, cruzamos a casa dos 600 mil mortos (oficiais) por Covid-19.
Para ” comemorar”, o governo federal anunciou o corte de 92% do orçamento em ciência e pesquisa no país.
Como pensar o futuro sem ciência, sem saúde e sem qualidade de vida entre jovens, adultos e pessoas idosas?
Pensando a realidade nacional e nas dificuldades de envelhecer no Brasil,
o Fórum em Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa do Distrito Federal realizou a sua II Conferência Livre.
Realizada totalmente online nos dias 07 e 08, teve como tema o “Envelhecimento no DF Hoje”.
A Conferência Livre 2021 aprovou moção de que velhice não é doença. Com isso, rejeita a classificação da Organização Mundial da Saúde (OMS) que deve entrar em vigor em 2022.
O Fórum demanda ao GDF a garantia da acessibilidade, de serviços de saúde para pessoas idosas e a efetivação da Lei 6926/2021.
A Lei, aprovada este ano em parceria com o Coletivo Filhas da Mãe, dispõe sobre tratamento de pessoas com Alzheimer e outras demência e também sobre prevenção para cuidadoras e familiares.
Entre outras propostas do Fórum, está a formação de cuidadoras, assim como a criação de espaços de esporte e lazer e projetos culturais para e com a população idosa.
O Coletivo Filhas da Mãe esteve presente na II Conferência Livre.
Lá, sugeriu que seja proposta, no âmbito federal, lei sobre cuidadoras familiares que garanta o direito à aposentadoria àquelas pessoas que cuidam e/ou cuidaram de seus familiares, deixando de lado trabalho, estudo e projetos pessoais.