Cuidadoras, Feminino Plural

Publicado em Envelhecimento

Ana Castro & Cosette Castro

Brasília – Estamos todos envelhecendo, embora boa parte da população ainda caia no canto da sereia dos milagres temporários que permitem esconder por um tempo a idade.

Até 2030 estaremos entre os cinco países com maior percentual de população acima dos 60 anos. Atualmente são 29 milhões de pessoas acima de 60 anos  vivendo no Brasil.

Se incluirmos as pessoas com  50 anos ou mais, esse número chega a 55 milhões. Ou seja, 1 em cada 4 brasileiras e brasileiros já se encontra em processo de envelhecimento adiantado.

A realidade das pessoas idosas ainda deixa a desejar pelo baixo valor das aposentadorias de quem se aposenta por tempo de serviço ou pela idade. E por falta de políticas públicas. Quando essas políticas existem, como o Estatuto do Idoso,  ainda carecem de implementação.

No caso dos pacientes com demência, conseguimos – junto com o Fórum em Defesa da Pessoa Idosa/DF –  apresentar e aprovar a Lei distrital   6926/2021.

Mas ainda esperamos a derrubada de vetos do Governador Ibaneis  pelos deputados distritais. Assim, o  Distrito Federal poderá se  tornar também referência nacional em tratamento para doentes e em pesquisa e prevenção para cuidadores e demais familiares.  Isto é, a família será pensada como um todo, garantindo a saúde física e mental das cuidadoras.

No Congresso Nacional existe iniciativa do Senador Paulo Paim de um projeto nacional sobre demência e Alzheimer.

O projeto, que recebeu aportes do Senador Romário, ainda deixa a desejar, principalmente porque se restringe a tratar da doença, mas quase não toca no tema prevenção. Além disso, há pouquíssimo espaço ao cuidado de quem cuida. Independente se são cuidadoras familiares, informais (amigas e vizinhas) ou profissionais. Ou os demais familiares.

O Coletivo Filhas da Mãe participa junto com a Federação Nacional de Alzheimer (FEBRAZ) de um abaixo-assinado pedindo que o projeto de lei do Senado seja retirado. A proposta é que a sociedade seja escutada através de audiência pública. Lá diferentes grupos poderão apresentar propostas ao projeto de lei.

Ou seja, propomos que ao invés de ser um projeto de gabinete para sociedade, seja um projeto que escute e incorpore as reivindicações sociais.

Também sugerimos que o Brasil siga o exemplo do Congresso argentino que recentemente considerou o cuidado materno como uma forma de trabalho. Afinal, milhares de mulheres de baixa renda ficaram em casa cuidando dos filhos e da família e até agora não tinham direito à aposentadoria.

Sugerimos seguir o exemplo do Congresso do país vizinho expandindo os benefícios sociais no Brasil também para as cuidadoras familiares e informais. Para que possam se aposentar e ter qualidade de vida ao envelhecer.

Durante a pandemia,  houve um aumento da violência contra idosos no Distrito Federal, particularmente contra mulheres. Elas sofrem violência física, psicológica, financeira ( empréstimos para familiares, saques forçados, etc), violência sexual (pasmem!), abandono e negligência.

Os números mostram que 62,1%  dos casos de violência são contra mulheres e esse percentual aumenta com mulheres entre 60 e 79 anos, chegando a 69%. Os agressores são familiares,  majoritariamente homens, onde os filhos são responsáveis por  57,5% dos casos, seguidos dos netos.

Diferente do imaginário popular, cuidadoras profissionais são responsáveis por apenas 1% dos casos de violência no Distrito Federal.

Queremos reforçar que o cuidado não tem gênero.

Ainda assim, os números da desigualdade não mentem. Segundo o IBGE (2019),  no Brasil 96% da atividade do cuidado no Brasil é realizada por mulheres, sendo 82% delas cuidadoras familiares que trabalham de forma gratuita e invisível, sem perspectiva futura.

Convidamos os homens a se unirem à atividade de cuidado, que pode ser direto (cuidado de crianças, idosos, pessoas com deficiência, pessoas enfermas ou animais) ou indireto (cuidado da casa, alimentação, saúde da família, acompanhamento escolar, administração de compras, viagens e festejos, etc).

Mais do que se unirem, precisamos que os homens participem ativamente do cuidado cotidiano. Propomos que os homens deixem de ser exceção e que o cuidado passe a fazer parte do aprendizado infantil dos meninos.

Enquanto isso não ocorre, seguiremos usando o termo cuidadoras, no feminino,  para homenagear a essa maioria que trabalha diariamente  de forma invisível e sem remuneração.

Em tempo: Apoiamos a derrubada do veto presidencial que proíbe a distribuição gratuita de absorventes à adolescentes da rede pública e mulheres que vivem em situação de vulnerabilidade social. Algo em torno de 5,6 milhões de brasileiras.  Só quem nunca passou até uma semana sangrando 24 horas por dia todos os meses da sua vida poderia não ser solidário com essas pessoas.

 

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