Ana Castro & Cosette Castro
Brasília – No domingo, dia 19, o mundo comemorou os 100 anos do nascimento de Paulo Freire, patrono da educação brasileira.
E o Brasil não ficou para trás. Nas ruas, nas universidades, nos canais de televisão e outras mídias, em plataformas como o Google, em diferentes instituições sociais, através de lives e camisetas a população homenageou um dos principais pensadores do século XX, cuja obra é considerada patrimônio da humanidade pela Unesco.
Em uma das comemorações do centenário de Paulo Freire, quem ganha presente são os leitores: 17 livros do pensador pernambucano gratuitos para download.
Enquanto isso, esta semana seguimos com o Projeto Histórias da Memória. Desta vez quem escreve é Cosette Castro, contando a última experiência de viagem com sua mãe, Carmem, também chamada de Carmencita.
Cosette Castro – “Em dezembro de 2017 cheguei mais cedo ao Rio Grande do Sul para passar uns dias com minha mãe, que estava entrando na fase intermediária do Alzheimer.
Combinei com ela de viajarmos só nós duas pela Serra gaúcha e ficar uns dias em Nova Petrópolis, onde mora um casal de amigos, cuja amizade dura mais de 30 anos.
Aluguei um carro e lá fomos nós. Mãe e filha, naquela que seria nossa última viagem a passeio juntas. Fomos subindo a serra devagar, parando, olhando a paisagem. Almoçamos no templo budista de Três Irmãos, com minha mãe alternando momentos de bom e mau humor.
Em Nova Petrópolis havia reservado uma linda cabana em um local quase fora da cidade, com piscina, muito verde, comida saudável e uma pequena biblioteca para os hóspedes aficionados por livros.
Até aquele momento eu ainda não tinha noção do impacto das mudanças – ainda que temporárias e por uma boa causa – na vida de pacientes com demências.
Ao não reconhecer sua casa, trocada por um local estranho, e ter alterada a rotinha diária, Carmencita regrediu instantaneamente. Ela se perdia na pequena cabana de sala/cozinha, quarto e banheiro. Perguntava várias vezes ao dia onde era o banheiro. E todas as manhãs perguntava onde nós estávamos.
O café da manhã, que ficava a 30 metros de distância, também era um local desconhecido para minha mãe. E ela, que adorava viajar, passear, entrar em lojas, descobrir restaurantes, estava com medo, arredia e perdida.
Apesar de ser um passeio lindo e de estar perto de amigos, sentia minha mãe cada vez mais distante. Decidi reduzir os dias de viagem e voltamos para sua casa em Porto Alegre.
Depois das festas de Natal e Ano Novo, próximo da data de voltar a Brasília, estávamos caminhando pelo bairro e lembrei a ela que eu tinha de voltar pra casa.
Pela primeira vez, minha mãe me disse que queria ir junto comigo.
Era o momento que eu esperava. Organizei tudo, inclusive a seleção de cuidadoras, voltei para Porto Alegre, e trouxe minha mãe para Brasília.
Ela já tinha entrado na segunda fase do Alzheimer e nunca pediu pra voltar para o Sul. Carmencita faleceu em janeiro de 2021 já na fase avançada da doença”.
Nesta terça-feira, 21 de setembro, é o dia mundial do Alzheimer. Acompanhe e multiplique a agenda de atividades nacionais e regionais sobre a doença. Ajude a quebrar o silêncio.
Em tempo: O Correio Braziliense, parceiro do Coletivo Filhas da Mãe, neste domingo contribuiu com informações importantes sobre a doença.
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