Exames Podem Prever o Alzheimer?

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Ana Castro, Cosette Castro & Convidados

Brasília – Nosso convidado do mês é o professor Otavio Nóbrega. O diretor científico da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia do Distrito Federal (SBGG/DF) comenta  sobre o uso de  biomarcadores e como podem ajudar no diagnóstico de pacientes com demências, entre elas o Alzheimer.

Otávio Nóbrega – Uma dúvida frequente dos familiares de uma pessoa acometida por doença de Alzheimer consiste na possibilidade de ele(a) própria(a) desenvolver a doença. Por outro lado, não raramente, os meios de comunicação dão conta dos progressos em testes sendo desenvolvidos para a detecção precoce da doença, anos antes dos primeiros sintomas, fazendo uso de biomarcadores para esta finalidade.

Biomarcadores são medidas do que está acontecendo dentro do corpo vivo, mostradas pelos resultados de exames laboratoriais ou de imagem. Os biomarcadores podem ajudar médicos a diagnosticar doenças, a encontrar riscos para a saúde de uma pessoa, a monitorar respostas ao tratamento e a ver como a condição de saúde muda com o tempo. Por exemplo, um nível elevado de colesterol no sangue é um biomarcador para o risco de ataque cardíaco no futuro.

Entretanto o uso de biomarcadores no contexto do Alzheimer em consultório médico ainda é limitado, sendo usados basicamente para descartar outras causas de demências, com pouco poder para identificar o Alzheimer em si com precisão. Os biomarcadores mais amplamente estudados avaliam as mudanças no tamanho e na função do cérebro e de suas partes, bem como os níveis de certas proteínas observadas em varreduras cerebrais assim como no líquido cefalorraquidiano e no sangue.

No que diz respeito aos exames de imagem, iniciamos pela tomografia computadorizada (TC) que é um tipo de raio-X que usa radiação para produzir imagens que permitem medir o tamanho do cérebro e identificar tumores, acidente vascular cerebral, traumatismos ou outras causas potenciais de demência, ajudando no diagnóstico diferencial.

Já a ressonância magnética (RM) usa campos magnéticos e ondas de rádio para produzir imagens detalhadas do tamanho e da forma do cérebro, sendo mais sensível que a TC. A Ressonância Magnética  também identifica outras causas de demência, e é mais adequada para mostrar que áreas do cérebro atrofiaram ou encolheram ao longo do tempo. No entanto,  não pode ser usada por quem tem metal em seu corpo, como um marca-passo.

Outra técnica, a tomografia por emissão de pósitrons (PET), usa pequenas quantidades de uma substância radioativa, chamada traçador, para medir a capacidade de diferentes regiões do cérebro usarem glicose (energia), sendo um teste mais comum em pesquisas sobre demência, usado com menos frequência em ambientes clínicos.

Todos os exames citados acima são úteis para auxiliar no diagnóstico do Alzheimer, ou seja, quando a pessoa já manifesta a doença.

Na atualidade, tais exames não são informativos o bastante para identificar as pessoas em risco de desenvolver demência no futuro enquanto ainda sadias. Submeter-se a estes testes não trará qualquer benefício à pessoa quando nos referimos à detecção precoce do Alzheimer.

O diagnóstico da doença persiste, até o momento, sendo um exercício essencialmente clínico, ou seja, alicerçado em entrevistas médicas minuciosas e detalhadas acerca da história do paciente, das circunstâncias de aparecimento dos sintomas e da progressão da doença e comportamento da pessoa, entre outros fatores. E os exames laboratoriais, quando solicitados, devem ser escolhidos com parcimônia e apenas para amparar a percepção do médico.

Os pesquisadores estudam biomarcadores para ajudar a detectar precocemente as mudanças cerebrais nas pessoas com pouca ou nenhuma mudança óbvia na memória ou no pensamento, para identificar as pessoas em maior risco de Alzheimer e assim permitir que tenham oportunidade para programar sua vida em termos familiares, financeiros e legais.

Contudo identificar essas mudanças não é tarefa fácil, e tampouco está disponível por exames realmente informativos hoje. É importante que isso seja dito e enfatizado para que ninguém tenha que se submeter a rotina de exames caros e que pouco vão contribuir para a conduta clínica que um médico poderá propor para um paciente reduzir seu risco individual de desenvolver Alzheimer.

Estou convicto de que exames poderão no futuro prever o desenvolvimento do Alzheimer, mas, por  hora, o foco deve estar na prevenção pelo comportamento.

Adotar um estilo de vida saudável com atividade física regular e dieta equilibrada ainda são as melhores atitudes  para estender o tempo de vida útil do cérebro, especialmente quando conciliadas a estímulos saudáveis como leitura prazerosa, estudo produtivo, lazer relaxante e sono restaurador.

Cosette Castro

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