O direito ao lazer

Compartilhe

Ana Castro & Cosette Castro

Brasília – Lazer é necessário em todas as fases da vida. Para pessoas com demências e cuidadoras. Hoje trataremos do lazer para pacientes.

Em tempos de pandemia, que atividades lúdicas podem ser acessíveis às pessoas com Alzheimer ou outras demências?

Atualmente não conhecemos nada específico para atender idosos com demência. Nem mesmo para pessoas com demência precoce, que aparece por volta dos 40 anos.

Para crianças com alguma deficiência física, encontramos  atividades, em geral, promovidas por iniciativa de grupos de pais. Outras vezes com apoio público. Mas para idosos com restrições que já não conseguem usar as áreas de exercícios reservadas a eles nos parques, falta oferta. Seja pela falta de locais perto de suas casas,  pela dificuldade de transporte ou ainda  pouca acessibilidade dos espaços públicos e mesmo privados.

Para cuidadoras familiares e informais (amigas e vizinhas), manter algum programa cultural para idosos com demência é um desafio. Atualmente existem sessões de cinema matutinas para mães e bebês. E outras exclusivas para crianças autistas, com luzes e som baixos, por exemplo. E quem assiste, não se surpreende com eventuais choros, gritos ou idas ao banheiro.

Levar uma pessoa, mesmo no início da demência, para assistir um filme é complexo.  Começando pelo medo do escuro, passando pela quantidade de escadas para chegar ao assento  e finalizando com o apavorante  volume das caixas de som para quem vive com demência.  A maioria  das cuidadoras desiste nas primeiras experiências.

O mesmo vale  para teatro,  planetário, concertos ou espetáculos de circo. Os lugares para cadeirantes são, em geral, mal colocados. E as idas ao banheiro,  complicadas. Sem contar as filas para comprar lanches ou bebidas.

Parques, que seriam locais de relaxamento para pacientes e cuidadoras, dificilmente tem acessibilidade e exigem transporte próprio para chegar ao local. De novo, os banheiros são um capítulo a parte. O que desestimula os passeios.

Por conta da estrutura, os shoppings acabam se tornando local de passeio, em especial para quem tem problemas de marcha ou usa cadeira de rodas. Em geral oferecem banheiros com acessibilidade. Mas atenção. O ruido constante  dos shoppings podem causar cansaço,  incômodo e irritação nos pacientes com demências. Além disso, em tempos de pandemia, o ideal é evitar locais fechados.

Entre as possibilidades de lazer, estão os projetos do SESC, que tem oferecido atividades virtuais para pessoas idosas. Além de exercícios, os SESC  de todo país estão  oferecendo durante  a semana atividades on line de música, teatro e filmes para assistir em casa.

Em Brasília, o espaço Longeviver, que oferecia atividades presenciais para idosos antes do Covid-19, atualmente  está realizando rodas on line de canto, inclusive para idosos com demência.

Os Centros Dia públicos, previstos na Lei Distrital dos Idosos (Lei 03822), estão fechados durante a pandemia. São 48 unidades no Distrito Federal. Mas mesmo quando funcionam, não oferecem projetos específicos para pessoas com demência. Já os Centros Dia privados já eram  inacessíveis para a maior parte das famílias desde a época pre-pandemia e, em geral, realizavam atividades apenas para pacientes em estágio inicial de demência.

Em tempos de pandemia, o lazer fica mais restrito. Mas não impossível. Pode acontecer com uma pequena volta na quadra, ao pegar sol todos os dias,  sentando em um banco para observar as crianças na praça  perto de casa. Ou estimulando a pessoa idosa com jogos (damas, jogos fáceis de cartas, dominó),  livros de colorir para pintar junto e uso de fotos para estimular a memória (que pode se transformar em um quebra-cabeça).

É bem possível que a distração dure apenas 10 minutos. Não se preocupe. Faz parte do quadro das demências: é difícil para a pessoa enferma manter a atenção por muito tempo ou lembrar, por exemplo, os próximos passos de um jogo.

Quando se é cuidador, ligamos o radar para locais que ofereçam bons momentos de distração e estímulo aos nossos familiares doentes.  Uma ideia simples, para quem tem carro,  é dar uma volta  para olhar o movimento na cidade, sentir o vento no rosto ou, no caso de Brasília,  dar uma volta até o  lago Paranoá, mesmo sem descer.

E você, quais  as suas sugestões de lazer nesse período de pandemia?

Conte para nós se o seu familiar já está vacinado/a e o quais as suas sugestões de lazer. Publicaremos as melhores ideias que levem em conta o  isolamento social,  o  uso de máscaras, álcool gel e o distanciamento quando precisar sair.

Você pode mandar sugestões aqui mesmo no  Blog. Depois do texto, basta rolar a página até o final, passar os anúncios, até chegar no  espaço “Deixe sua Resposta”. Também pode enviar sua mensagem para nossa página no Instagram (@blocofilhasdamãe) ou na página do Facebook (filhas da mãe coletivo).

Cosette Castro

Posts recentes

Entre Veredas Interiores e Exteriores

Cosette Castro & José Leme Galvão Jr. Brasília – Na próxima segunda-feira, 25/11, completará um…

15 horas atrás

Em Defesa de uma Sociedade do Cuidado

Cosette Castro Brasília - A semana passada foi intensa em todos os sentidos. Hoje destacamos…

4 dias atrás

O Indizível em Ainda Estou Aqui

Cosette Castro Brasília - Às vezes, quando ficamos sem palavras frente a uma situação ou…

1 semana atrás

O Dinheiro Público e o Corte de Gastos Sociais

Cosette Castro & Vicente Faleiros Brasília - A disputa pelo dinheiro público do orçamento da…

2 semanas atrás

O Quarto ao Lado de Todos Nós

Cosette Castro Brasília - Em tempos de negação constante da morte, o filme O Quarto…

2 semanas atrás

O Brasil e a Herança Africana

Cosette Castro Brasília - Este foi um fim de semana especial. Começou o novembro negro…

3 semanas atrás