Sim! Manicômios ainda existem

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Ana Castro, Cosette Castro & Convidad@s

Brasília – Esta semana trouxemos uma surpresa para você.

Abrimos o Blog para um convidado querido, o psicólogo e professor Thiago Petra, da ONG Inverso e do Bloco do RivoTrio, o maior bloco da saúde mental de Brasília. Nosso parceiro escreveu sobre a luta antimanicomial, cujo dia nacional é 18 de maio.

Thiago Petra Campos – O Dia Nacional da Luta Antimanicomial foi construído por uma mobilização nacional na área da saúde mental na busca pela ruptura e pela transformação estrutural dos serviços psiquiátricos.

Até então, esses serviços eram marcados pela segregação e violência: com superlotação dos hospitais, cronificação das doenças e alto índice de mortalidade entre os pacientes.

O Movimento da Luta Antimanicomial esteve ligado à Reforma Sanitária Brasileira, da qual resultou a criação do Sistema Único de Saúde (SUS) há 30 anos. E começou a partir da experiência de desinstitucionalização da Psiquiatria desenvolvida na Itália.

O modelo italiano foi referendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como o modelo de política pública em saúde mental a partir da eliminação gradual da internação psiquiátrica como forma de exclusão. Ou seja, substituindo a internação dos pacientes por uma rede de serviços territoriais para estimular o pertencimento e a participação da pessoa na comunidade.

A reforma em saúde mental e a luta antimanicomial têm sua base de ação no campo social comunitário. Mas também se trata de uma reforma no campo do conhecimento. Uma transformação no campo do saber, principalmente de quem detém o poder do diagnóstico e da medicação, de quem nomeia o que é sanidade ou loucura.

A reforma em saúde mental traz uma questão mais profunda: a necessidade de mudança nas relações de afeto e nas condições de vida presente. Dessa forma o posicionamento contra os manicômios é transversal. Está relacionado às questões de raça, etnia, gênero, sexo, espiritualidade e classe. E questiona as relações de poder que tornam a vida precária.

Não estamos falando apenas de direitos, mas também de dignidade. Não só de liberdade, mas de libertação, de uma ação contínua de autonomia da pessoa e sua coletividade. Não falamos apenas de igualdade, mas de equidade, onde se compreende e respeita as diferenças.

Precisamos ainda enfrentar o processo de medicalização da sociedade, onde “tudo se resolve” com remédios, assim como outras práticas manicomiais cotidianas, que são as atuais clínicas de reabilitação e as comunidades terapêuticas: espaços de julgamento moral e punição daqueles que na verdade precisam de ajuda.

Estamos falando de um projeto político e socioeconômico que diz respeito a todos nós, ainda que não pareça. Significa saber: onde e como as pessoas estão morando? Como elas estão se alimentando? Como produzem renda? Elas têm acesso à saúde em sua integralidade? Têm oferta de trabalho, lazer, entretenimento e cultura?

Estamos em um contexto sério, complexo e não podemos aceitar pronunciamentos e medidas simplistas, que soam como deboche, ainda mais nesse cenário pandêmico. Não podemos ficar apenas no registro da resistência, é urgente buscar avanços frente ao atual retrocesso, principalmente na área da saúde mental. Sim! Manicômios ainda existem.

A rede de atenção psicossocial do SUS precisa ser ampliada e fortalecida. Ela oferece diversos serviços de proteção social e de cuidado que são espaços de vínculo e acolhimento para a coletividade. Um espaço para falar e experenciar as dores e conflitos.

É tempo de maior responsabilidade ética de convivência com o outro. A vida se dá na relação com os outros, o que exige compreensão mútua.

A Luta Antimanicomial é assim uma ação contínua da escuta ampliada de vozes invisibilizadas. É um elogio às diversas possibilidades de existência que sustentam o encantamento com a vida.

Cosette Castro

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