Ana Castro & Cosette Castro
Brasília – Temos escrito com frequência sobre a pandemia do Covid-19, vírus que já matou mais de 375 mil brasileiras e brasileiros por falta de vacinas e pela falta de uma política nacional de vacinação rápida e eficaz.
O que não temos escrito (muito) é que, mesmo durante a pandemia do Covid-19, temos de ficar alertas para outro tipo de pandemia, silenciosa. Ela atinge as famílias do mundo inteiro a cada três segundos. Sim, a cada três segundos uma pessoa é diagnosticada com demência.
As demências são tema deste blog, mas é a primeira vez que a tratamos como a próxima pandemia.
A mais conhecida é o Alzheimer, presente em 70% dos casos diagnosticados. Mas existem outras, como por exemplo, Demência Vascular, Corpos de Lewi, Demência Frontotemporal e Demência com Parkinson que também mudam totalmente o destino das famílias envolvidas, principalmente das cuidadoras familiares. Uma situação que pode se estender por 20 anos ou mais.
No dia em que comemoramos online o aniversário de Brasília e seus 61 anos, vale recordar que a Capital Federal agora é uma senhora que participa do grupo 60+. E com ela, aproveitamos para lembrar que a população brasileira está envelhecendo e precisa de cuidados, particularmente no que diz respeito ao Alzheimer e as demências.
Não se trata apenas de contar que o Brasil é o país que envelhece mais rápido no mundo, como já escrevemos em texto anteror. Trata-se de lembrar que o país e boa parte de seus cidadãos e cidadãs seguem se olhando no espelho como se fossem jovens.
Esse negacionismo, divulgado pela publicidade e pelos conteúdos que aparecem nas mídias analógicas e digitais, é reforçado pelo Estado. Seja pela falta de políticas públicas voltadas para as pessoas idosas e pela falta de políticas nacionais de cuidado, voltadas para pessoas que necessitam ser cuidadas, mas também direcionadas a quem cuida.
No Brasil, existem 29,9 milhões de pessoas idosas (IBGE, 2019), representando 13% da população e este número vai crescer muito nos próximos anos. Em 2060, a população brasileira terá ¼ de pessoas com 60+, segundo o IBGE. É muita gente. Precisamos urgente de políticas públicas de cuidado e políticas públicas que atendam as demandas deste público, porque o Alzheimer e demais demências crescem em proporção muito maior.
O mercado já está de olho nos 60+. Surgem novos sites, fóruns e congressos que tratam de envelhecimento. E cresce o chamado mercado prateado, aquele voltado a quem está saudável e pode seguir produzindo e consumindo.
Por outro lado, faltam campanhas nacionais de esclarecimento sobre o que são as demências e como se manifestam nas fases iniciais. E sobram familiares, amigas e vizinhas que são pegas desprevenidas, sem qualquer conhecimento prévio sobre demências, enquanto seus entes queridos começam a dar os primeiros sinais da doença.
No dia do aniversário de Brasília, sugerimos um presente especial a sua população 60+: a realização de um Censo do Idoso pelo governo do DF.
Sobre os Idosos do GDF
Os idosos são um grupo social que em 2018 representavam 10,5% da população do DF. Entre esse grupo, que não para de crescer, 59,7% têm entre 60 a 69 anos e 57,9% são mulheres. Embora a Companhia de Planejamento (Codeplan) tenha realizado a pesquisa Retratos Sociais sobre a população idosa no DF há três anos, tratou-se de um mapeamento inicial.
O Coletivo Filhas da Mãe está propondo um Censo que servirá para mapear onde residem as pessoas idosas que estão saudáveis e as que estão enfermas, não apenas no que diz respeito a problemas mais conhecidos, como os visuais, auditivos e de mobilidade. Queremos saber onde vive a população com demências e outras doenças incapacitantes. E a partir daí propor medidas de prevenção e políticas públicas para o DF.
Este Censo irá além de mapear pessoas com demências e outras doenças incapacitantes, sem cura. Servirá para conhecer que tipo de necessidades especiais as pessoas idosas têm e que tipos de assistência de saúde necessitam. Também contribuirá para saber se possuem cuidadoras familiares, informais (amigas ou vizinhas) – cujo cuidado é até agora gratuito e invisível -, cuidadoras profissisonais ou empresas que terceirizam o cuidado. Ou ainda se residem em Instituições de Longa Permanência para Idosos ILPIS).
O censo também poderá apontar aonde são necessários centros dia públicos para atender a demanda de pessoas idosas com independência e semi-independência, desafogando as cuidadoras familiares, que vivem com sobrecarga física e mental. Ou revelar a possibilidade de projetos de cuidadoras informais (vizinhas), para acompanhamento desta população nos bairros que necessitem, oferecendo apoio às equipes de saúde.
Neste blog acreditamos no cuidado como um direito humano, como o fez Laura Pautassi em 2018. Com essa afirmação, a pesquisadora argentina colocou na agenda pública a possibilidade de pensar o cuidado como um direito que inclui cuidar, ser cuidada e se autocuidar.
O cuidado como direito humano, pode não curar as demências, mas permite qualidade de vida aos enfermos e também contribui para a saúde física e mental das cuidadoras. No DF, o desenvolvimento urgente de políticas públicas de prevenção e de cuidado seria um grande presente da Capital Federal para seus idosos e também para a população que se encaminha para os 60+.
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