Ana Castro & Cosette Castro
Brasília – Frequentemente, familiares e amigas nos enviam links sobre curas milagrosas com óleo de coco, cúrcuma, entre outros produtos, naturais ou não.
Também recebemos links de notícias que anunciam, para um ou dois anos, a cura do Alzheimer, a mais conhecida das demências. É o caso da publicação recente sobre uma possível vacina para evitar a doença.
A busca pela cura do Alzheimer não é nova, assim como a espera de um milagre pelos familiares de quem foi diagnosticado. Uma procura rápida no Google apontou 8 milhões e 510 mil resultados na busca “cura para o Alzheimer” apenas em Português.
Mais uma busca no Google, desta vez voltando cinco anos no tempo, e acumulamos “notícias novas e promessas de possíveis curas” quase todos os anos.
Em 2016, por exemplo, empresas como IstoÉ, Agência Estado, UOL, Veja e SuperAbril divulgaram amplamente o anúncio das indústrias farmacêuticas sobre o êxito de suas pesquisas antes de chegar à fase de testes com humanos nos Estados Unidos. Não deu certo.
Isso se repetiu em 2019, 2020 e em 2021. As publicações têm como fonte a indústria farmacêutica dos EUA que desenvolve pesquisas em parceria com universidades dentro do próprio país ou em consórcio com outros países. Há também anúncios de possíveis curas oriundas de outras universidades, como britânicas e colombianas .
No que diz respeito às pesquisas realizadas nos Estados Unidos, desde 2003 o FDA, a agência reguladora de medicamentos nos Estados Unidos, não aprova nenhum produto novo. Ou seja, há 18 anos não surgem novos resultados, apesar dos investimentos bilionários em pesquisas sobre Alzheimer e outras demências.
Essas pesquisas, em geral, sequer chegam à fase de testes com humanos. Mas cada vez que os meios de comunicação divulgam na internet produtos ainda não comprovados, renasce a esperança. E rapidamente se multiplicam o compartilhamento de links pelas redes sociais digitais, como se a divulgação ajudasse (imaginariamente) na cura dos pacientes. Os médicos são bombardeados para que adotem a novidade.
Na prática, aumenta a ansiedade de cuidadoras familiares pela busca de soluções que resolva o sofrimento diário dos pacientes e também da família, amigos e vizinhos frente a uma doença neurodegenerativa sem cura. Que adoece toda a família e traz tristeza, raiva e medo.
Por outro lado, o Alzheimer nos faz exercitar a paciência. Nos coloca frente a frente aos limites da vida. E mostra, diariamente, que não temos o controle de tudo e nem conseguiremos salvar nossos entes queridos.
Na área do cérebro tudo é bem mais demorado do que desejaríamos. Como se não bastasse, os títulos das matérias exageram um pouco. Até pra chamar a atenção para a leitura.
Não devemos perder a esperança, mas é preciso manter os pés no chão e lidar com a realidade cotidiana. Até agora, apesar dos esforços da ciência e dos cientistas, não há resultados nem milagres.
Vejamos o exemplo da divulgação de uma possível vacina contra o Alzheimer. Segundo a notícia, a pesquisa que teve algum sucesso em ratos, vai demorar dois anos para começar a ser testada em humanos. Só após a pandemia do Covid-19.
A rapidez da descoberta das vacinas contra Covid-19 não pode servir de parâmetro, uma vez que a ciência está bem mais adiantada no que se refere ao conhecimento sobre o vírus e suas variantes.
A pesquisa com idosos é delicada e aquelas que envolvem pacientes com demências, ainda mais. Demoram pelo menos quatro a cinco anos antes de chegarem ao mercado com preços nem sempre acessíveis à população.
Enquanto isso, o que fazer?
No que diz respeito ao Alzheimer, pedir aos profissionais especializados que nos informem e atualizem sobre a doença. Seguir sites confiáveis como os da Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz) e suas regionais, e da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG).
No que diz respeito a cada uma de nós, priorizar o cuidado pessoal (autocuidado). Ao fazer isso, também promovemos o cuidado familiar. Aprender sobre alimentação saudável, consumindo verduras, legumes e frutas. Evitar produtos industrializados e frituras. Controlar o sal. Realizar exercícios físicos semanalmente. Dar uma volta e tomar sol, com máscara e distanciamento. Meditar, pois ajuda a dormir melhor e a estar mais centrada. Atitudes que não dependem de milagres.
Em tempo: Se você é profissional da saúde e trabalha com diagnóstico de Alzheimer e outras demências, participe do questionário vital para clínicos que servirá de base para o Relatório Mundial sobre Alzheimer – 2021 (link aqui) até o dia 09 de abril. A ciência está trabalhando. Perder a esperança, jamais!
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