Ana Castro & Cosette Castro
Brasília – A minha mãe em um asilo? Nunca! Como abandonar meu pai com estranhos? Esses são alguns dos questionamentos que fazemos diante de um tema complexo como a institucionalização de idosos com demência.
A possibilidade envolve curiosidade (como seria se…), assim como repulsa, culpa e medo. Mas dependendo das condições do familiar, pode ser inevitável. Seja pelo suporte necessário à pessoa doente, seja pelas condições da moradia. Ou (também) pela saúde física e mental da cuidadora.
É difícil na nossa cultura admitir a necessidade de colocar a mãe, o pai ou outro familiar com demência em instituições para idosos. É difícil admitir nossa fragilidade e que não damos mais conta de tanta dor e desafios.
Esse é um universo desconhecido até que uma demência se instale na família. Ainda nos referimos a essas instituições como asilos, como no tempo antigo. Atualmente são conhecidas pela sigla ILPI – Instituição de Longa Permanência para Idosos.
É preciso reunir coragem para visitar uma ou várias instituições. Mesmo uma simples visita pode não ser fácil. No dia agendado, tem quem se esqueça, adie ou encontre desculpas para desistir.
Tem quem perca o sono e sequer consiga compartilhar a ideia com a família e amigos. Além disso, cada passo até chegar a uma decisão envolve imenso desgaste emocional .
Uma das dificuldades é encontrar uma instituição do nosso agrado. Desejamos que elas sejam perfeitas, no mínimo quase iguais a nossa casa. Isso é possível?
Na nossa imaginação são casas acolhedoras, cercadas de verde, equipe alegre com atividades lúdicas e exercícios várias vezes ao dia. Quase um SPA. Na maioria das ILPIs, há idosos demais e espaço de menos com pouco verde. Em geral, são quartos acanhados, sem privacidade, pois poucos podem pagar quartos individuais.
Há olhares perdidos de um lado e equipes insuficientes do outro. E para nossa surpresa, não há médicos nem enfermeiras 24 h.
Muitos desistem na primeira visita. Seja pela expectativa criada, seja lista de desejos não realizados, que pode incluir, por exemplo, desde preços mais acessíveis até lençóis novos na cama. Ou também por extrapolar o orçamento familiar . No Brasil, há poucas ILPIs públicas. No Distrito Federal, nenhuma.
Cuidadoras familiares que ajustam as máscaras de ” está tudo bem” ou “eu dou conta” e mantém a pessoa enferma em casa, seguem brigando com a família, com a equipe de saúde, com o mundo e até com Deus. No privado, engolem o choro, tentam esconder a depressão e a tristeza por não serem mais reconhecidas.
Apesar do avanço das demências, que exige tratamento multidisciplinar e contínuo, fica a dúvida: ele ou ela estaria realmente melhor com a família? Até que ponto é possível “estar melhor” quando a responsável pelo cuidado está exausta, adoecida física e emocionalmente, desagregada e sem tempo para sequer olhar para si? Como cuidar bem de outra pessoa se não há espaço para o autocuidado?
A razão tem pouco espaço no debate sobre a institucionalização de um familiar. Muitas vezes, irmãos que discordam pouco ajudam no dia-a-dia do cuidado e nos crescentes gastos mensais.
A decisão pode se arrastar por meses sem solução ou com soluções parciais. Entre elas a contratação de cuidadoras profissionais. Ou ainda, para quem possui plano de saúde, a contratação de home care, cujos profissionais fazem rodízios semanais e dificilmente estabelecem vínculo com os enfermos.
Existe solução fácil? Não. Cada caso é um caso. Além da culpa e do medo, existe falta de vínculo e confiança na instituição, algo que é construído aos poucos entre gestores, técnicos e familiares e entre pacientes e equipe da ILPI.
Se for possível, para evitar sofrimento, o ideal é baixar o nível das expectativas, garantindo sim, um acompanhamento especializado que ofereça dignidade e qualidade de vida as nossas queridas e queridos.
Questões Financeiras
Outra questão importante é que a maioria da população não pode pagar uma ILPI. Existe um orçamento familiar e falta de condições financeiras para pagar. Atualmente no Brasil, apenas 1% dos idosos estão em uma instituição. Não é por acaso que 87% das famílias recorre às cuidadoras familiares ou cuidadoras informais, como amigas e vizinhas, que ajudam em geral sem receber qualquer remuneração.
Enquanto isso, o Estado faz de conta que não tem responsabilidade nenhuma sobre a pandemia e os riscos para as famílias e sobre as cuidadoras (familiares, informais ou profissionais). E muito menos sobre idosos e pessoas enfermas, entre elas aquelas com demências, como o Alzheimer.
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