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Valdir Oliveira Foto: Toninho Tavares/Agência Brasília. Sebrae-DF

Valdir Oliveira: “Não podemos cair na armadilha da guerra entre a vida e a economia”

Publicado em CB.Poder

ANA MARIA CAMPOS – da coluna Eixo Capital

Pequenas e micro empresas vão sobreviver ao coronavírus?

Muitas não. Já estão indo a óbito como seres humanos acometidos por esse inimigo oculto em forma de vírus. Para os enfermos, o Estado luta com todas as forças para sua recuperação, procurando estruturar o sistema de saúde e com medidas de prevenção. No entanto, para nossas empresas, o Governo Federal demora com as medidas, acelerando a tragédia do óbito empresarial sem que essas empresas tenham direito a tentativa de recuperação, levando consigo os empregos e a vida de famílias que dependem desse pequeno negócio. Sem uma atuação urgente do Governo Federal, teremos uma carnificina empresarial que deixará um rastro de desemprego e sequelas sociais irreversíveis para nossa sociedadeValdir Oliveira: “ Não podemos cair na armadilha da guerra entre a Vida e a Economia.

Os países que conseguiram controlar a pandemia foram rigorosos no isolamento social. Como compatibilizar essa medida com a saúde do setor produtivo?

Não podemos cair na armadilha da guerra entre a Vida e a Economia. Essa disputa não existe e jamais deveria ser incentivada. A compreensão das medidas e consequências desse vírus deve ser conduzida pela ciência, a medicina deve orientar as decisões de proteção à vida. A economia precisará de ações que minimizem os efeitos dessas medidas, que devem ser cirúrgicas e paralelas às ações de confinamento que paralisam a atividade econômica. Não podemos opinar sobre o que não temos competência, muito menos multiplicar fake news de quem não mede as consequências de suas palavras, de suas teses, muitas vezes ideologizando e politizando uma crise que pode colocar em risco a própria vida de quem preconiza soluções milagrosas do que não conhece ou de entes queridos ou até mesmo de desconhecidos que nunca serão ouvidos por aqueles que serão manipulados por essa rede de ódio que tomou conta do País. Precisamos de liquidez para as empresas e para as pessoas. Garantir um subsídio, seja em forma de crédito ou de subvenção, mas só a injeção de recursos salvará a economia. Essa medida de liquidez que o Governo Federal precisa implementar tem que ser simples e urgente, sob pena de termos o remédio e perdermos o paciente por incompetência daqueles que são os responsáveis pela administração da medicação.

Se não é possível abrir as portas, qual é a demanda desse setor?

Recursos financeiros. Dinheiro na mão das pessoas e das empresas. Há mais de um mês que essa crise se instalou no Brasil, e há muito mais tempo ela vem se desenvolvendo no mundo. O Governo Federal demorou a compreender a crise e suas consequências e está demorando na implementação das ações necessárias para o socorro das pessoas e das empresas. Está na hora do liberalismo dar lugar à intervenção do Estado no socorro das pessoas e das empresas. O Governo Federal precisa dos que conhecem a máquina pública, dos que estão acostumados a fazer as políticas públicas sociais funcionarem para socorrermos o País. As soluções não são de mercado. As soluções para essa crise são sociais e precisam de urgência em suas implementações. Sem faturamento, as empresas precisam de alternativas de recursos para girar o seu custo fixo no período da crise. Algumas empresas terão o crédito como alternativa, mas muitas pequenas precisam de subvenção para sobreviver, porque o crédito não será o remédio para recuperar a sustentabilidade de suas operações. Para as empresas que tem capital e patrimônio, uma reengenharia financeira trará o financiamento de seu custo fixo, mas as empresas pequenas, que formam a esmagadora maioria do conjunto empresarial, que não possuem capital nem patrimônio, precisarão de subvenção, uma política de renda mínima empresarial, que garantirá a sua sobrevivência nesse momento de portas fechadas.

Acha que o DF corre o risco de não honrar os salários dos servidores pela queda na arrecadação?

O Governo do Distrito Federal tem conduzido a crise de forma exemplar. O Governador Ibaneis não tem politizado a crise, tem conduzido suas ações de forma cirúrgica, priorizando a proteção à vida das pessoas, ouvindo o setor produtivo em suas demandas e procurando soluções que possam minimizar as consequências das medidas de quarentena. Mas é impossível que o impacto na suspensão da atividade econômica não reflita na queda da arrecadação tributária. Precisamos torcer para que a crise na saúde seja logo controlada, para que a vida retome a normalidade e que isso possa evitar interrupções de pagamentos de salários de servidores e outras despesas do Governo. O que é importante é entendermos que não pode existir disputa entre a vida e a economia. Quanto mais cedo resolvermos o controle dessa pandemia, mais cedo retornaremos a vida e a atividade econômica. Acelerar medidas que atrapalhem o controle da pandemia, significa atrasar a volta à atividade econômica e prejudicar ainda mais a proteção aos empregos e a sustentabilidade das empresas. Não podemos permitir que a economia domine a pauta da crise. A vida deve ser o foco principal.

Acredita que o mundo nunca mais será o mesmo, como dizem algumas pessoas?

Sem dúvida. O mundo passa por transformações profundas que refletem nas pessoas e no mercado. Hábitos pessoais e de consumo estão mudando e se consolidando e teremos uma nova vida quando tudo isso passar.

Você olha o futuro com otimismo ou pessimismo?

Com otimismo sempre. As mudanças trazem oportunidades de melhoria nas pessoas e nas empresas. Essa crise fará despertar o lado humano e trará uma reflexão sobre valores que estão esquecidos. A crise reforçará para uns e ensinará a outros que o melhor remédio é a solidariedade. E para as empresas, a transformação digital trará novas portas para o desenvolvimento de negócios, com possibilidade de crescimento e prosperidade para os que enxergarem esse novo mercado (nem tão novo assim) e se adaptarem às novas regras que ele ditará.

O que cabe a cada cidadão na superação dessa crise sanitária e econômica?

Ser solidário, entender que ninguém pode viver sozinho com seus ideais e suas crenças. Compreender que ninguém é dono da verdade em nenhuma pauta, e que o ódio nunca foi e nunca será um bom conselheiro.

E aos governos?

Proteger a vida das pessoas. Governo que não protege o cidadão, não serve pra ser Governo.