Por Ana Maria Campos – À queima-roupa – Deputado distrital Fábio Félix (PSol), integrante da CPI dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa
Por que a CPI dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa não chegou no ex-presidente Jair Bolsonaro?
Elementos não faltaram para responsabilizar Bolsonaro pela mentoria intelectual dos ataques golpistas. Isso ficou claro durante a oitiva de diversos depoentes, entre os quais financiadores e manifestantes golpistas. Em nosso relatório paralelo, apresentamos o indiciamento não somente de Bolsonaro, como do andar de cima do golpismo. Infelizmente o relatório final da CPI poupou autoridades e preferiu focar em manifestantes já presos pela operação Lesa Pátria.
Generais atingidos pela Operação Tempus Veritatis também não foram incluídos no relatório final da CPI. A investigação da Câmara Legislativa apontou essa conspiração para o golpe?
Para que o 8 de janeiro acontecesse, foi fundamental a garantia conferida pela cúpula ao acampamento golpista no SMU (Setor Militar Urbano). Isso apareceu nas investigações da CPI, como um jogo de empurra-empurra de responsabilidades, entre as Forças Armadas e a Polícia Militar. Apareceram também, por exemplo, no depoimento prestado pelo general Augusto Heleno, que usou a tribuna do Parlamento para defender o golpe militar que instaurou a ditadura em 1964. Essa cumplicidade e, às vezes, participação ativa de parte do oficialato das Forças Armadas com as pretensões antidemocráticas do ex-presidente sempre estiveram nítidas.
Como vê hoje o envolvimento do ex-ministro da Justiça Anderson Torres?
Há indícios fortes do envolvimento direto do ex-ministro da Justiça na trama golpista. As investigações mostram que esse envolvimento vai muito além da minuta de golpe de Estado encontrada na casa dele. Anderson Torres era voz ativa no núcleo de operações que conspirava contra o processo eleitoral, e um articulador fundamental com os setores da segurança pública local que compartilhavam dessas pretensões. A participação de Torres na live de ataque às urnas em julho de 2022, sua ida aos Estados Unidos na véspera do 8 de janeiro e o sumiço de seu celular não me parecem ocasionais.
E dos oficiais da Polícia Militar que estão sendo julgados no STF?
Houve uma série de condutas omissivas a fim de permitir que o golpe de Estado se concretizasse. A tese de “apagão na segurança” não se sustenta, e as investigações mostram o engajamento ativo desses oficiais, desde o afastamento coordenado de oficiais relevantes, até a manutenção de sobreaviso, e não de prontidão. É urgente uma investigação detalhada da atuação de cada uma dessas autoridades.
Acha que ainda há muita coisa para vir à tona?
As evidências que são de domínio público hoje são assustadoras e nos fazem ver a gravidade do que enfrentamos ao longo do ano passado. Mas é preciso avançar mais: de onde veio o dinheiro, R$ 100 mil, que Mauro Cid e seu auxiliar destinaram aos acampamentos golpistas? Principalmente sobre os financiadores, ainda devem aparecer mais provas da conspiração golpista. O golpe televisionado pela gravação liberada hoje (ontem) pode ser apenas o início das provas que devem ser reveladas.