Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press.

O PT precisa retomar os valores que o criaram, diz Chico Leite

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Depois de 11 anos filiado ao PT, o deputado Chico Leite vai completar o quarto mandato na Câmara Legislativa na Rede Sustentabilidade, partido de Marina Silva.
Na nova legenda, o ex-petista agora terá condições de construir uma candidatura ao Senado ou ao Palácio do Buriti, em 2018, a depender do cenário político. No PT, o distrital que é procurador de Justiça do DF nunca teve as portas abertas para concorrer a cargos majoritários.
Em entrevista exclusiva ao Correio e ao blog CB.Poder, Chico Leite explica os motivos que o levaram a deixar o partido da presidente Dilma Rousseff.
Por que deixou o PT?

A minha impressão é de que estava tentando entrar no PT há mais de 10 anos e não conseguia.

Por quê? Não se sentia à vontade no partido?

Pelo mesmo motivo que eu sempre quis entrar, por causa dos princpioios que a militancia defende. Ao longo desses anos, a direção foi se afastando desses princípios.

Você se sentia constrangido pelo petrolão?

Na verdade, éticas e honestas são as pessoas e não os partidos e as instituições.

O PT já é reincidente. Primeiro o mensalão. Agora a Lava-Jato…

A gente não pode dizer que todo católico é pedófilo por causa dos cardeais pedófilos, nem todo evangélico é estelionatário porque de vez em quando há notícia de um pastor que usa a fé para se locupletar, mas eu sinto ao longo desses anos que a direção especialmente aqui vai se afastando cada vez mais dos princípios que fundamentaram a criação do PT, que são os princípios que a militância defende. Isso é que constrange.

São os princípios éticos?

Todos aqueles que são afrontados em notícias de jornais, ao longo desses anos.

Acha que o governo Agnelo acabou com as finanças do DF como diz o governador Rollemberg?

Eu fui ao Ministério Pùblico de Contas para deslindar esse embate sobre as contas públicas do DF e a resposta que recebi à indagação é que, de fato, nós temos dívidas feitas no governo passado sem registro de casa de mais de R$ 1 bilhão. Isso denota uma irresponsabilidade fiscal. Só não acho que nós podemos resolver apenas procurando culpados. Temos de ter criatividade para sair dessa crise. Os equívocos cometidos pelos governantes passados serão apurados pelo Ministério Público, Tribunal de Contas e a população já deu uma resposta nas urnas.

O governo está patinando nas finanças sem criatividade?

Nós precisamos ter mais transparência com os gastos. Não há República no Estado de Direito sem transparência. Falta transparência e exemplos. A sociedade só vai aceitar ajudar se tiver clareza dos números e se entender que o governo está dando um sacrifício para poder pedir a população que o faça.

Mas o corte nos salários do governador, vice, secretários e a reforma administrativa a ser anunciada não são suficientes?

Esses cortes são simbólicos. Se olhar as paraestatais e estatais você vai notar que pode estar sobrando dinheiro porque um diretor por exemplo e são oito e mais o presidente ganham R$ 46 mil por mês. Há alguns requisitados que custam à Terracap R$ 100 mil por mês. Acho que era uma oportunidade para o governo cortar as gorduras das estatais, preservar os efetivos, valorizando o servidor, profissionalizando o serviço público. Então o corte deveria ser muito mais de 20%. Esse corte poderia ser real.

Por que a Rede?

Vou para a Rede pelo que representa de nova proposta. Rede não quer só combater as contradições do capitalismo. Ela compreende a doença do capitalismo que é o patrimonialismo, compreende a doença do socialismo que é o corporativismo e quer dar um salto para defender os direitos de terceiro geração na tentativa de mostrar alternativas à crise civilizatória.

Rollemberg sempre demonstrou interesse nesse partido. Na rede, você vai para a base de Rollemberg?

Meu compromisso é com a população. Tanto Marina quanto Rollemberg sabem disso. Naquilo que eu puder contribuir, vou estar junto. Mas naquilo contrariar o que sempre defendi eu vou critiicar, tentar apresentar alternativas e votar contra porque não ajuda quem bajula, quem se submete. Ajuda quem critica e aponta alternativas.

Esse pacote fiscal, com aumento de impostos e venda de terrenos… Está disposto a votar a favor?

Nós ainda estamos fazendo um exame de todas as medidas. Nós achamos que as piores medidas são aumento da passagem de ônibus, a elevação do preço do restaurante comunitário e a ameaça de calote nos servidores públicos. São medidas que contrariam tudo o que defendemos e atingem direitos e atingem a população mais humilde.

Mas tem dinheiro para pagar os salários?

O governo precisa encontrar formas criativas e legais, de criar receita. Criação de uma loteria, precisamos de operar corte nas gorduras.

Tirar dinheiro do fundo de previdência para pagar salários é um risco?

Estamos analisando e vamos consultar aqueles que são os mais atingidos, que são os servidores. Essa é a previdência deles. Vamos consultar para ver se eles aceitam isso.

Algumas pessoas acham que é a sua hora de disputar a cargo majoritário. Essa é a sua pretensão?

Eu entro na Rede para contribuir porque a minha impressão é que eu atrapalhava algo na direção do PT porque não me deixavam ser candidato ao Senado. Tentei duas vezes ser candidato ao Senado. Eles não viam conveniência.

E na Rede?

Fui pré-candidato ao Senado duas vezes. Agora minha disposição é ser candidato.

Havia uma negociação de que fosse vice de Rollemberg. Pode ser retomada?

Ninguém é candidato a vice. A gente é sempre candidato a titular de algum cargo. Mas eu entro para contribuir com qualquer tarefa. Cheguei num ponto da minha vida que tenho disposição de enfrentar os desafios. Se esse conjunto de forças compreender que eu deva enfrentar esse desafio, eu enfrento.

Teve uma boa relação com Agnelo?

Eu passei quatro anos excluído de todas as decisões. Eu ainda tentei aqui e ali dar alguma contribuição, fazer alguma crítica. Mas a impressão que tenho é de que nunca fui ouvido. Ou porque eles julgavam que era incapaz ou incoveniente.

O PT está em decadência, chegou no seu pior momento?

O PT precisa retomar os valores que o criaram. A militância persiste com esses valores. É aguerrida, é honesta, mas o partido se desviou.

A miltância do PT não vai se sentir traída?

Trai a militância quem se afasta dos princípios. Eu estou tomando um novo caminho, da nova política, exatamente em razão dos princípios que a militância defende e de que a direção do PT se afastou ao longo desses anos.

Você vai sozinho ou vai levar seu grupo com você?

Eu faço política sempre debatendo, ouvindo, mas essa decisão, embora seja política, ela é minha, é pessoal, embora seja resultado de todo um histórico político.

Aceitaria um cargo no Executivo?

Não. Estou convencido já há alguns anos que quem é eleito no Legislativo precisa cumprir um mandato até o final.

Concorda com as críticas de que Rollemberg toma decisões sozinho sem consultar os aliados?

O governo tem atuado muito sozinho. O governo precisa consultar seus aliados sobre as decisões para depois poder cobrar que fique a seu lado em momentos difíceis. Ele não divide a decisão, toma sozinha e depois quer dividir com os aliados as consequências.

Acha o atual um governo melhor do que foi o anterior?

O governador é uma pessoa de bem. É uma pessoa da nossa cidade. Isso me leva a ter muita esperança, mas até agora como governo tem errado na política porque tem debatido pouco e errado na administração pela inexperiência e pela falta de criatividade para construir alternativas para a crise. Vai chegar uma hora que a população vai perguntar: qual é a alternativa? Se o governo não conseguir responder, vai ficar difícil.

É um alívio sair do PT?

Eu tenho um sentimento muito bom em relação à militância. Nos últimos meses, antes de tomar a decisão, pensei muito na militância. Eu me sinto agradecido. Pude durante todos esses anos trocar experiências com quem pode construir e defender valores. Por essa ótica, olhando pelo ângulo da militancia, eu fico até triste, mas eu percebi que na vida, às vezes, a gente precisa mudar a forma para continuar no mesmo conteúdo.

Votaria de novo no Lula?

Minha candidata é a Marina Silva.