“Não tem eficácia nenhuma”, diz promotor do DF sobre uso de tornozeleira eletrônica

Compartilhe
À QUEIMA-ROUPA

Cláudio Portela, Promotor de Justiça, ex-corregedor nacional do Ministério Público

Como tem funcionado as audiências de custódia no DF?

O primeiro ponto é que a audiência de custódia tem a finalidade de verificar as circunstâncias em que se deu a prisão. Com essa febre desse monitoramento eletrônico, popularmente conhecido como tornozeleira eletrônica, os juízes passaram a soltar desde autores de furtos a autor de roubo. É raro verificar a conversão de prisão em flagrante em preventiva. Só se for reincidente.

São registrados muitos casos de reincidência?

Tenho um caso de três roubos praticados pela mesma pessoa. Praticou o primeiro roubo, deram a liberdade provisória. No segundo, deram a tornozeleira eletrônica. Cinco dias depois, ele pratica um outro roubo e aí, sim, é que prende.

A tornozeleira impede que um criminoso pratique um crime?

Não tem eficácia nenhuma. O artigo 318 do Código de Processo Penal diz, no parágrafo sexto, que será colocada quando for suficiente. Mas, para assaltante, não é suficiente. Vai se fixar os locais onde o criminoso não pode ir e os locais onde deve estar em determinado período. Mas no resto do tempo ele pode assaltar em qualquer canto, até porque não se rouba no mesmo lugar duas vezes.

Quais os casos em que se deveria usar a tornozeleira?

Em casos de crime sem violência ou grave ameaça. Aí você retira roubo, homicídio, estupro, ameaça, coação. As hipóteses de violência doméstica que não estejam com risco à integridade da mulher. São os casos os do colarinho-branco porque, apesar da gravidade em abstrato por conta do desvio de dinheiro, mas o cidadão não é violento.

Quando se quer matar, não adianta esse monitoramento?

Não adianta. Aliás, tivemos um caso recente em Santa Maria, em que o cidadão com tornozeleira matou a mulher.

Por causa da adoção das tornozeleiras, os juízes estão liberando mais?

Sim. Sob o argumento de que é suficiente para prevenção, estão colocando mais gente que não deveria estar na rua. São os assaltantes. Não concordo com isso. Lugar de assaltante é no presídio.

Com a Lei de Abuso de Autoridade, essa situação vai piorar?

É possível. Com o receio do promotor de pedir a prisão e do juiz de conceder, isso vai aumentar. Principalmente, a depender de quem for o cliente. Se o criminoso for alguém com condição de contratar advogados e buscar retaliar o trabalho da polícia, do Ministério Público e do Judiciário, fica mais complicado.

Ana Maria Campos

Editora de política do Distrito Federal e titular da coluna Eixo Capital no Correio Braziliense.

Posts recentes

  • Eixo Capital

Coronel da PM do DF minimizou risco em reunião antes do 8/1

Coluna Eixo Capital, publicada em 21 de novembro de 2024, por Pablo Giovanni (interino) Um…

23 horas atrás
  • Eixo Capital

Coronel minimizou risco em reunião antes do 8/1

Coluna Eixo Capital publicada em 21 de novembro de 2024, por Pablo Giovanni  Um áudio…

1 dia atrás
  • CB.Poder

Bug em app foi decisivo para PF obter detalhes do plano de golpe

Da Coluna Eixo Capital, por Pablo Giovanni (interino) Um relatório da Polícia Federal, que levou…

2 dias atrás
  • CB.Poder

Moraes ameaça multar presidente da CPI do 8/1 em R$ 50 mil

Texto de Pablo Giovanni publicado na coluna Eixo Capital nesta terça-feira (19/11) — O ministro…

3 dias atrás
  • CB.Poder

PF acessa celular de homem-bomba e apreende telefone de ex-companheira

Coluna publicada neste domingo (17/11) por Ana Maria Campos e Pablo Giovanni — A Polícia…

5 dias atrás
  • CB.Poder
  • Eixo Capital
  • Eleições
  • Notícias

Por determinação da Comissão Eleitoral da OAB-DF, Cleber Lopes se retrata, mas mantém promessa de isentar a anuidade de jovens advogados

ANA MARIA CAMPOS O colegiado da Comissão Eleitoral da OAB se reuniu na noite desta…

6 dias atrás