ANA MARIA CAMPOS
Os investigadores da Operação Drácon acreditam ter encontrado no telefone celular do deputado Cristiano Araújo (PSD) parte da contabilidade da propina cobrada de empresas de saúde para aprovação de emenda parlamentar que destinou R$ 30 milhões a prestadoras de serviço de UTIs. Os números estão detalhados no telefone do distrital, apreendido na primeira etapa da Operação Drácon, realizada em 23 de agosto, quando houve busca e apreensão na casa e gabinetes dos investigados.
Em anotações, Cristiano registrou, sob o título “UTI 315” valores que seriam cobrados, relacionados a iniciais dos supostos beneficiários do suborno.
O documento foi incluído na denúncia ajuizada hoje (21/11) pela vice-procuradora-geral de Justiça do DF, Selma Sauerbronn, contra os deputados Celina Leão (PPS), Bispo Renato (PR), Júlio César (PRB), Raimundo Ribeiro (PPS) e Cristiano. Também foram denunciados o ex-secretário-geral da Mesa Diretora da Câmara Legislativa Valério Neves, o ex-presidente do Fundo de Saúde Ricardo Cardoso e o ex-secretário-executivo da 3ª Secretaria Alexandre Braga. Todos deverão responder por corrupção passiva.
Pela contabilidade, de 11 de fevereiro, segundo o Ministério Público do Distrito Federal (MPDFT), o rateio parcial da propina seria de pelo menos R$ 50 mil para a deputada Celina Leão (CL), R$ 50 mil para Bispo Renato (BR), R$ 50 mil para Júlio César (JC), R$ 20 mil para Valério Neves (V) e outros R$ 25 mil para Ricardo dos Santos (RS). O saldo remanescente de R$ 80 mil seria destinado aos demais integrantes do grupo. Há ainda as iniciais SJ e FT. Os investigadores ainda apuram quem seriam esses personagens.
Num dos registros, no bloco de notas do Iphone, Cristiano também faz anotações sobre valores com respectivas destinações. Ao lado de UTI, aparece o registro de R$ 3 milhões. Ao tema publicidade, ele associa o montante de R$ 105 mil.
A investigação do Ministério Público apontou que Cristiano Araújo era o intermediário da propina com empresas da área de saúde. O montante acertado seria de 10% pelo valor liberado, cuja previsão era de R$ 30 milhões.
Veja as imagens das anotações, periciadas pela Polícia Civil do DF:
Em nota, o deputado Cristiano Araújo nega as acusações. “Nego as acusações que me são imputadas pelo Ministério Público. A denúncia é totalmente infundada e será contestada na Justiça, de acordo com o devido rito legal, estabelecido pela Constituição. Cabe lembrar, neste momento de grave crise vivida pelo país, que uma denúncia não significa condenação e sim o início de um processo que deve respeitar todas as etapas estabelecidas em lei, inclusive a de ampla defesa. Não tenho ingerência sobre as emendas dos demais deputados. E reforço que estou à disposição das autoridades e da imprensa para prestar esclarecimentos, como já fiz sempre que solicitado”.