ANA MARIA CAMPOS
Alex Galvão, presidente do Sindicato dos Policiais Civis do DF (Sinpol-DF), falou ao Correio sobre a demanda da categoria por um plano de saúde próprio
Há uma articulação no Congresso para aprovar a criação de um plano de saúde para policiais civis. Como está essa negociação?
Sim. Estamos buscando dialogar com os parlamentares do Distrito Federal para criar um fundo que garanta assistência à saúde dos policiais civis, física e mental. Assim como a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros, a nossa categoria também necessita desse amparo, inclusive para garantir a melhor prestação de serviço para a população. Apresentamos ao relator, o deputado federal Luís Miranda (DEM-DF), uma emenda à Medida Provisória em tramitação 971/2020 em que propõe a criação de uma assistência integral à Saúde do Policial Civil do DF.
Acredita que o Congresso vai aprovar essa proposta, em meio a uma crise econômica grave?
Sim. Essa proposta não gera, inicialmente, impacto financeiro aos cofres públicos. Mas sabemos que, conforme ele seja regulamentado em toda a sua amplitude, será preciso rever os investimentos feitos na saúde dos policiais, que hoje é zero. Precisamos sair desse estado e a pandemia do novo coronavírus evidenciou isso ainda mais.
Policiais civis queixam-se de, principalmente nesses tempos de pandemia, ter de pagar tratamentos de saúde do próprio bolso. O sindicato acompanha isso?
Recebemos queixas diariamente e acompanhamos todas. Somente na última semana, morreram quatro policiais civis aposentados que não tinham planos de saúde. Sabemos o quanto é difícil, principalmente para os idosos, arcar com esses gastos no nosso país. E não ter esse suporte, que deveria ser dado pelo Estado, faz com que percamos cada vez mais colegas, ativos e inativos.
Como tem sido a proteção de policiais civis na pandemia, para evitar contaminações?
Foram tomadas diversas medidas para tentar diminuir as exposições dos policiais civis na sua rotina de trabalho. Mas, temos relatos de delegacias que até hoje não possuem barreiras de distanciamento no atendimento à população. E a natureza do trabalho, em si, também tem diversas atividades, como as operações, que fazem com que a nossa categoria esteja sempre exposta ao risco de se contaminar. Assumimos esse risco, mas ele poderia ser bem menor do que é hoje. Conseguimos que colegas mais vulneráveis, como policiais gestantes ou com comorbidades, por exemplo, estivessem em teletrabalho. Mas, a exposição, em geral, ainda é preocupante.
Temos notícias de muitos casos de depressão na categoria. A pandemia agravou muito esse quadro?
Lidar com as piores faces da sociedade, por si só, já afeta a saúde mental dos policiais civis. E a depressão é um dos efeitos colaterais mais frequentes. Na pandemia, isso só se agravou. O distanciamento social, muitas vezes até do nosso círculo familiar mais íntimo e outras questões, nos colocam em maior vulnerabilidade. E não ter nenhum tipo de assistência faz com que vivamos uma outra pandemia dentro da Polícia Civil do DF. E é isso que estamos lutando para mudar.