Homenagem a Trump causa bate-boca na Câmara Legislativa do DF

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Carlos Silva

A sessão ordinária da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) desta terça-feira (11/11) foi palco de um debate acalorado entre parlamentares sobre a concessão do título de Cidadão Honorário de Brasília ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O projeto de decreto Legislativo 313/2025, de autoria do deputado Joaquim Roriz Neto (PL), foi o centro de um bate-boca que terminou com a retirada da proposta da ordem do dia para votação em momento futuro.

Na justificativa do projeto o autor fundamentou a homenagem na “destacada trajetória em defesa dos valores conservadores” de Trump, descrevendo-o como a “principal voz do conservadorismo de valores na política internacional” e um “baluarte” contra a “agenda woke”. A justificativa também afirma que a “grande maioria” da população do DF comunga desses valores, citando as vitórias eleitorais da senadora Damares Alves (Republicanos-DF), da deputada federal Bia Kicis (PL-DF) e do governador Ibaneis Rocha (MDB) como provas desse alinhamento.

A reação da oposição foi imediata e veemente. O deputado Fábio Felix (Psol) foi um dos primeiros a usar a palavra para atacar a proposta. Em seu discurso, ele contestou a ideia de que Trump represente os valores da cidade.”Vocês podem estar achando que é uma brincadeira ou uma piada de mau-gosto, mas não. (…) é o mesmo presidente que, neste momento, está taxando os produtos brasileiros em 100%. Que está atacando instituições nacionais diretamente. Na prática, quem está saindo no prejuízo é a população brasileira. Tenho um sentimento horroroso só de pensar nessa aprovação. (…) isso é uma lástima. É de envergonhar a população do DF”, cravou.

O debate se intensificou com a fala do deputado Gabriel Magno (PT), que questionou frontalmente os requisitos legais para a concessão do título, em especial o que exige “idoneidade moral e reputação ilibada” do homenageado. “Donald J. Trump não cumpre os requisitos, porque não residiu aqui e não tem reputação ilibada. Ele é o primeiro presidente da história dos EUA julgado e condenado criminalmente, além de responder a três processos criminais. A legislação do país, diferente da nossa, não o torna inelegível, mas o torna condenado. Nós vamos dar o título para essa figura?”, pontuou.

O deputado distrital Chico Vigilante (PT) também rebateu. “Me apontem um motivo para votar a favor o título de cidadão honorário para o Trump. Um sujeito que atenta contra a democracia no nosso país e no continente, que cria confusão em toda parte do mundo, que quer mandar no mundo todo”, afirma. “Para mim, o Trump é a Besta Fera. Ele tem nojo do nosso país”, afirmou o petista.

Apoiadores

Do lado dos governistas, a defesa do projeto foi centrada não na figura de Trump, mas em ataques ao presidente do Brasil, Lula (PT). O deputado Roosevelt Vilela (PL) saiu em defesa da proposta, citando posicionamentos do presidente Lula diante da recente operação policial nos complexos da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro, contra o Comando Vermelho.

“Pior que votar a proposta de título de cidadão honorário para um presidente estrangeiro, é termos o representante do nosso país declarando que traficante é vítima de viciado; ou que vai prender o cara que roubou um celularzinho para tomar uma cerveja. Não faltam exemplos e vídeos desses ladrõezinhos matando pessoas. (…) Esse título é não para o Trump, enquanto pessoa física, mas pelo que ele representa para o país e o mundo”, frisou.

O autor do projeto, deputado Joaquim Roriz Neto (PL), rebateu as críticas, classificando-as como fruto de uma incompreensão sobre o que representaria a homenagem. “Quando damos o título, por vezes, consideramos o que a figura representa. Trump, querendo ou não, representa um movimento de direita e o conservadorismo. Há muitos deputados aqui nessa casa que acreditam nos mesmos princípios que o Partido Republicano, dos EUA, representa. (…) Da mesma forma que é respeitado votar (a concessão) para figuras de esquerda, precisamos também respeitar para figuras de direita “, disse.

Com o clima pesado e a certeza de uma votação acirrada, que poderia resultar em derrota para a base governista dependendo do quórum, o autor do projeto optou por uma manobra estratégica. Após consultas rápidas com líderes partidários, Roriz Neto solicitou a retirada do PDL da ordem do dia. O objetivo, segundo assessores, é recolher o projeto para reapresentá-lo em um momento politicamente mais favorável, possivelmente com um plenário mais cheio e aliados presentes para assegurar a aprovação.

A decisão encerrou, por ora, a polêmica, mas deixa claro que o tema deve retornar ao centro do debate na Câmara Legislativa no futuro.

Ana Maria Campos

Editora de política do Distrito Federal e titular da coluna Eixo Capital no Correio Braziliense.

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