ANA MARIA CAMPOS
A 4ª fase da Operação Falso Negativo, deflagrada nesta manhã (03/03), apura o suposto favorecimento de uma empresa de um grande amigo do ex-secretário de Saúde Francisco Araújo na compra considerada superfaturada de 48 mil testes rápidos de covid-19, em maio do ano passado.
Segundo a investigação, o então secretário de Saúde Francisco Araújo é amigo de Fábio Gonçalves Campos, que teria intermediado a contratação de uma empresa que forneceu testes de covid-19 ao GDF a preços superfaturados.
Campos e a mulher, Renata Mesquita D’Aguiar, estão entre os alvos desta nova etapa da Falso Negativo. Os investigadores cumprem mandado de busca e apreensão, autorizado pela Justiça, na residência do casal, na Asa Sul.
O investigado era, à época, secretário parlamentar do deputado federal João Carlos Bacelar (PL-BA) e foi exonerado um dia após a deflagração da segunda etapa da Operação Falso Negativo, em agosto do ano passado, quando a cúpula da Secretaria de Saúde, inclusive o então titular da pasta, Francisco Araújo, teve a prisão preventiva decretada.
Araújo foi padrinho do casamento de Fábio e Renata, numa cerimônia realizada em julho de 2019, no Rio de Janeiro. Segundo a investigação apontou, várias autoridades do DF estiveram na festa.
Fábio Gonçalves Campos teria operado de forma oculta uma das empresas contratadas pela Secretaria de Saúde na dispensa de licitação, a Matias Machado da Silva ME. Na investigação, os promotores do Gaeco obtiveram conversas mantidas pelo WhatsApp, em que Fábio deixou claro ao proprietário da empresa Matias Machado (que tem o mesmo nome) que não poderia aparecer formalmente na contratação do DF, justamente por não poder revelar sua relação com Francisco Araújo.
O contrato para fornecimento de 48 mil kits foi dividido entre a Matias Machado e outras três empresas, Belcher, Brasil Laudos e W.S. do Prado, cada uma responsável por fornecer 12 mil testes.
Ocorre que o Gaeco encontrou indícios de que as propostas dessas empresas foram produzidas pela mesma pessoa. Além da formatação idêntica dos documentos e texto semelhante, os dados bancários de duas empresas eram os mesmos.
Segundo a investigação, os testes foram superfaturados — comprados por até R$ 187 cada — e são de qualidade duvidosa. Os mesmos kits teriam sido adquiridos pela própria Secretaria de Saúde do DF por R$ 73.
Essa diferença, segundo a investigação, provocou um prejuízo de mais de R$ 5 milhões na aquisição de 48 mil testes para detecção qualitativa específica de IgG e IgM da covid-19.
A Operação Falso Negativo, coordenada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO) do Ministério Público do Distrito Federal, cumpre nesta manhã (03/03) 15 mandados de busca e apreensão no Distrito Federal e em várias cidades do Estado da Bahia.
A execução da Operação conta com o apoio do GAECO/BA, de policiais civis do Departamento de Combate à Corrupção da Polícia Civil do DF (DECOR/PCDF) e da Polícia Civil de Bahia.
COLABORAÇÃO
Em nota, a Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) afirma que tem colaborado com as investigações, fornecendo todos os documentos necessários para a apuração dos fatos relativos à operação Falso Negativo, desde a sua fase inicial.
“A atual gestão tem tomado todas as medidas para esclarecer dúvidas, acatar recomendações e aprimorar os mecanismos de transparência dos atos e ações da pasta junto à sociedade”, diz a nota.