ANA MARIA CAMPOS
Famosa pelas falhas e pela manipulação na investigação do triplo homicídio da 113 Sul, a delegada aposentada Martha Vargas Borraz acaba de sofrer nova condenação criminal. Na sentença, da 3ª Vara Criminal de Brasília, também estão em questão informações forjadas, desta vez, para justificar uma apuração relacionada a outro crime de repercussão: os assassinatos de seis adolescentes de Luziânia, praticados por um serial killer.
Segundo a denúncia do Núcleo de Controle da Atividade Policial (NCAP) do Ministério Público do DF, em busca de notoriedade, Martha Vargas apresentou uma justificativa fake para receber diárias e suprimento de fundos com o objetivo de cobrir despesas fora de Brasília.
Na justificativa ao DAG da Polícia Civil, ela alegou que iria à cidade de Presidente Juscelino (MG) para cumprir um mandado de prisão preventiva expedido pela Justiça. Mas, na verdade, ela esteve na Bahia, com uma equipe da 1ª DP em busca do assassinato do “Crime de Luziânia”.
Nessa diligência, ela viajou ao lado da vidente Rosa Maria Jaques que a estaria ajudando a encontrar o criminoso, como ocorreu na investigação da 113 Sul. Martha Vargas foi condenada a dois anos e meio de prisão por uso de documento falso. A sentença é de 21 de setembro.
Órgão da Justiça que nem existe
Esse episódio veio à tona durante as investigações do NCAP sobre a atuação de Martha Vagas na solução dos assassinatos do ex-ministro José Guilherme Vilela, da mulher dele, Maria Carvalho Mendes Vilela, e da governanta do apartamento, Francisca Nascimento da Silva, ocorridos em agosto de 2009.
Em depoimentos de policiais civis, os promotores de Justiça constataram a irregularidade. Martha Vargas não tinha competência legal para investigar um crime ocorrido em Luziânia e ainda teria forjado a documentação para justificar a diligência. No pedido de liberação de diárias, ela apontou que cumpriria uma decisão do “Tribunal do Júri de Brasília e Delitos de Trânsito”, quando esse órgão sequer existe na Justiça do DF.
Mácula à Polícia Civil
A juíza Maria Augusta de Albuquerque Melo Diniz, da 3ª Vara Criminal de Brasília, apontou, na sentença, que a participação de uma vidente nas investigações conduzidas pela delegada Martha Vargas agravaram a situação da policial civil e ainda maculam o nome da Polícia Civil do DF.
Na avaliação de promotores que investigaram a conduta da delegada na época do crime da 113 Sul, ela buscava notoriedade porque queria chegar ao cargo de diretora-geral da Polícia Civil.
Vidente que vê espíritos
No curso do processo, a vidente Rosa Maria Jaques contou que conheceu a delegada Martha Vargas durante as investigações do triplo homicídio da 113 Sul. No depoimento, a médium disse que viu uma foto de José Guilherme Vilela e o morto piscou para ela. Em seguida, uma luz indicou que o ex-ministro queria falar.
Processos prontos para julgamento em segunda instância
No caso da 113 Sul, Martha Vargas foi condenada na esfera penal a 16 anos de prisão por falsidade ideológica, fraude processual e tortura, e também por improbidade administrativa. A delegada teria manipulado provas no inquérito da 113 Sul, plantando uma chave do apartamento onde houve os assassinatos, para incriminar pessoas que não tinham nada a ver com o crime.
Os dois processos estão prontos para entrar em pauta na segunda instância. Caso a 2ª Turma Criminal mantenha a condenação, Martha Vargas deverá cumprir imediatamente a pena de prisão. No processo julgado agora pela 3ª Vara Criminal, Martha Vargas negou irregularidades e que estivesse atrás do assassino dos meninos desaparecidos em Luziânia. Na ocasião, ela ressaltou, o crime nem era conhecido.
A delegada aposentada também sustentou que mudou o roteiro original autorizado no pedido porque se deparou com uma situação criminosa durante a viagem. Tudo teria sido feito com a anuência da direção-geral.