Crise na saúde pública é agravada pelo negacionismo

Publicado em Eixo Capital

Eixo Capital // Por Ana Maria Campos

 

Ed Alves/CB/D.A Press

Um ano depois do início da pandemia, o Distrito Federal chega ao seu pior momento. Uma fila de pacientes graves espera vaga em UTI, mas nesta sexta-feira (26/2) apenas uma estava disponível. Muitas perguntas se impõem: foi um erro desmobilizar leitos de UTI? As pessoas subestimaram o novo coronavírus que agora surge com outras caras, com contágio mais fácil e possivelmente mais letal? Políticos em festa, como a comemoração da eleição do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e aglomerações de torcidas na celebração da vitória do Flamengo no Campeonato Brasileiro — só para citar dois exemplos — contribuem para o agravamento da situação? Sem contar que temos um presidente da República que não usa máscara, critica o equipamento de segurança adotado do mundo inteiro, deixa de comprar vacinas e ainda defende adoção de medicamentos sem eficácia comprovada.

 

Para inglês ver

O decreto de restrições à disseminação da covid-19 é recheado de anglicismos, aquelas palavras que adotamos do inglês, a começar por lockdown que poderia ser trocado por medidas de confinamento. No decreto, aparecem delivery, drive-thru, take-out, foodtrucks…

 

A pergunta que não quer calar….

Cadê as vacinas?

 

Na UTI

Na noite de ontem, havia 181 adultos e duas crianças internadas em UTIs de hospitais particulares. Na rede pública, eram 255, sendo um pediátrico, segundo dados da Secretaria de Saúde do DF.

 

Só rezando

Muita gente reclamou de o decreto do governador Ibaneis Rocha (MDB) do lockdown permitir cultos em igrejas. Foi uma forma de contemplar a base evangélica que reclamou muito na primeira paralisação das atividades no início da pandemia. Igrejas abertas são uma coisa. Aglomeração é outra bem diferente.

 

Visitantes proibidos no Congresso

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), assinou um ato proibindo o acesso de visitantes nas dependências do Senado. A Câmara dos Deputados seguiu o procedimento. Mas com uma diferença: não é o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), negacionista, quem assina. A proibição é estabelecida por portaria do primeiro-secretário, deputado Luciano Bivar (PSL-PE), responsável pelas deliberações relacionadas à gestão administrativa.

 

7.500 doentes

Em um ano, quase 300 mil casos de covid-19. Boletim da Secretaria de Saúde do DF registrava ontem 294.911 casos de contaminação pelo novo coronavírus. Foram mais 1.129 confirmações em relação ao dia anterior. Entre os que testaram positivo, 282.531 (95,8%) estão recuperados e 4.819 (1,6%) não resistiram. Significa que temos 7.561 notificações de pacientes com covid-19 no momento, sem contar os assintomáticos, que possivelmente nem sabem que foram infectados. Se 10% precisar de internação, são 750 pacientes. Ocorre que o DF tem, ao todo, 330 leitos de UTI destinados ao tratamento da covid-19 na rede pública e 216 na privada.

 

Só papos

“O povo não consegue mais ficar dentro de casa. O povo quer trabalhar. Esses que fecham tudo e destroem empregos estão na contramão daquilo que o povo quer”

Jair Bolsonaro, presidente

 

“O Brasil está muito próximo de viver uma tragédia assustadora! Governadores e prefeitos estão tentando proteger a população com medidas restritivas, como toque de recolher e lockdown. E Bolsonaro, criminosamente, promove aglomerações em municípios com graves índices de covid-19”

Ciro Gomes (PDT), ex-ministro e ex-governador