Leonardo Cavalcanti // Durante a cerimônia de transmissão de comandos no Exército, o tema da reforma da Previdência Social dominou as rodas. Apesar dos discursos mais amenos por parte dos comandantes e dos ministros militares, parte da caserna está incomodada com o avanço das discussões.
A questão é que representantes do governo federal, como o vice-presidente Hamilton Mourão, declararam que as Forças Armadas, ressalvadas peculiaridades, estão preparadas para dar uma cota no esforço de recuperação das contas públicas.
Mourão sugeriu até mesmo um tempo de contribuição, antes da ida para a reserva, de 30 para 35 anos. Nos bastidores, porém, o tema é tratado com irritação pelos comandados, principalmente pela falta de unidade nas respostas.
Entre os ministros criticados de forma reservada estão Onix Lorenzoni, da Casa Civil — que participou do evento no Clube do Exército —, e o próprio Paulo Guedes, da Economia. Guedes, como se sabe, é o principal defensor de um amplo projeto, que, sim, inclua as Forças Armadas. Seria uma forma de evitar futuros desgastes com as categorias de servidores civis, uma espécie de blindagem antecipada.
Mas tal conversa não colou ainda entre todos os oficiais. “Essa dupla não deve durar muito, a pressão é muito grande dos militares mais próximos a Bolsonaro”, disse um oficial, antes de ser interpelado por outro: “Onix pode até cair rapidamente, o problema é que, se Guedes sair, o governo fica extremanente manco”. A réplica chegou de imediato: “Sempre há um Henrique Meirelles (hoje na secretaria de Fazenda do governo de São Paulo) para ser convocado”.