Celina Leão: “No Senado, o PP fará a defesa do Fundo Constitucional”

Compartilhe

ANA MARIA CAMPOS

Numa viagem para Miami, onde acompanha a formatura da filha, a vice-governadora Celina Leão (PP) foi muito cobrada pela ausência em Brasília nesta semana quando a Câmara dos Deputados aprovou o arcabouço fiscal, com mudanças que alteram o cálculo de atualização do Fundo Constitucional do DF.

É que o presidente da Câmara, Arthur Lira (AL), e o relator do novo marco fiscal, Cláudio Cajado (BA), são do PP, partido de Celina. Mas a vice-governadora afirma que sua presença física em Brasília não mudaria o cenário. Ela diz que esteve todo o tempo em contato direto com Arthur Lira e com Cajado. Mas não conseguiu convencê-los a mudar de posição.

“O presidente da Câmara sempre tem as missões como presidente da Câmara. E o relator entendeu que estava cumprindo critérios. O que eu discordo. Acho que o Fundo Constitucional é uma exceção. Você não tem que tratar exceção como critério. Esse sempre foi meu argumento com os dois”, ressalta Celina, em entrevista ao Correio.

Celina também responsabiliza o governo federal pela aprovação do arcabouço fiscal, com as alterações de atualização do Fundo Constitucional: “Essa é uma decisão que foi tomada no governo do PT, por mais que seja um presidente (da Câmara) do Progressista, o governo é do PT. E isso fica na história tanto que o PT votou fechado no projeto”.

Celina buscou apoio do presidente nacional do PP, Ciro Nogueira, e garante que no Senado o partido vai defender o Fundo Constitucional.

A sua ausência nesta semana foi sentida por políticos que atuaram para tentar evitar as mudanças na atualização do Fundo Constitucional. Sua presença teria mudado o resultado?

Eu não acredito que teria mudado o resultado porque mesmo ausente fisicamente eu estava sempre conversando com os deputados, falando com os líderes, em contato com o presidente Arthur pelo telefone. Portanto, eu não me afastei dessa articulação, desse contato com esses atores em nenhum momento. Acredito que essa discussão é ampla ainda. Temos o Senado ainda para discutir. Acredito que podemos reverter no Senado.

O relator do arcabouço fiscal, Cláudio Cajado, é do seu partido. E o presidente da Câmara, Arthur Lira, que comandou a votação do arcabouço fiscal, é seu super aliado. Como foi seu contato com eles nesse processo?

Falei com o Arthur várias vezes por dia e com o relator também várias vezes por dia. Poderia ser qualquer outro relator. O presidente da Câmara sempre tem as missões como presidente da Câmara. E o relator entendeu que estava cumprindo critérios. O que eu discordo. Acho que o Fundo Constitucional é uma exceção. Você não tem que tratar exceção como critério. Esse sempre foi meu argumento com os dois.

Acredita que a perda será de R$ 87 bilhões em 10 anos, como mostra um estudo da Secretaria de Planejamento?

Foi o cálculo feito pela secretaria. Existe uma divergência na forma do cálculo de colocar a previsão de uma economia em crescimento como foi nos últimos anos e da possibilidade de uma economia estagnada que foi feita pela consultoria da Câmara. Agora eu acho até curioso que o novo governo já comece com a previsão de uma economia encolhida ou estagnada. Então, eu acho que a fórmula do cálculo não foi a correta da consultoria. Pode haver divergência entre a nossa, mas com certeza nós teremos perdas e as perdas serão grandes.

O relator, Cláudio Cajado, garante que não haverá perdas porque a correção do Fundo Constitucional será de até 2,5%, mais IPCA. Qual a sua opinião?

Eu divirjo da opinião do relator, Cajado. O Fundo Constitucional é consagrado. É um tema que não tem que se mexer na Câmara Federal. Nós conquistamos ao longo do tempo, mesmo com várias divergências. Não é a primeira vez que se fala sobre Fundo Constitucional e sempre conseguimos manter isso. Também não há que se falar que um governo não opine ou não tenha força para orientar os líderes e tomar uma decisão. Essa é uma decisão que foi tomada no governo do PT, por mais que seja um presidente (da Câmara) do Progressista, o governo é do PT. E isso fica na história tanto que o PT votou fechado no projeto.

Arthur Lira estava cumprindo uma missão delegada pelo governo Lula?

Delegada pelo governo federal.

A sua candidatura ao Palácio do Buriti em 2026 é um caminho real. Se houver perdas, será um problema para você administrar caso seja eleita. Isso a preocupa?

Acredito que todo gestor tem que lidar com perdas e cenários. Nós temos gestores que pegaram estados quebrados e conseguiram reverter isso. Não tenho dúvida da capacidade do nosso governo de administrar isso não só agora, mas no futuro. É claro que quem é penalizada é a população do Distrito Federal. Se minimiza a possibilidade de investimentos, de contratação de novos concursados, de reajustes salariais. Isso impacta o Governo do Distrito Federal inteiro, mas a população principalmente. Ao lidar com as contas públicas, você não pode gastar o que não tem. Quem será penalizado com essa diminuição dos recursos é a população do Distrito Federal. Tem que se gastar menos e com mais eficácia. Eu acho que esse é o desafio.

E uma eventual redução dos recursos pode ser creditada ao PP, seu partido. Como justificar isso ao morador do DF?

Não acredito que será creditado ao PP. Acredito que será creditado a esse novo governo. Ocasionalmente, o presidente da Câmara era o Arthur Lira que é do PP. Mas o projeto teve 382 votos. Então todos os líderes acordaram, todos os líderes votaram e num governo que é do PT. Isso precisa ficar bem claro. Inclusive hoje (24) o presidente do partido, Ciro Nogueira, disse que no Senado o Progressista fará a defesa do nosso Fundo Constitucional, mostrando uma diferença clara dentro do próprio partido. Ou seja, não é partidário. O Arthur está numa função política, que ele tem que realmente pautar o que é de importância para o governo e o Cajado é o relator que não conseguiu compreender a importância do que nós estamos discutindo, da excepcionalidade do Fundo. Mas, no Senado, pode ter certeza, como o Ciro já colocou hoje, o nosso partido fará a defesa do Fundo Constitucional. Nosso partido sabe do nosso projeto político e com certeza temos total apoio, o que não impede de haver divergências políticas como estamos tendo nesse momento.

Ana Maria Campos

Editora de política do Distrito Federal e titular da coluna Eixo Capital no Correio Braziliense.

Publicado por
Ana Maria Campos
Tags: arcabouço fiscal Arthur Lira celina leão Claudio Cajado Fundo Constitucional do DF pp vice-governadora

Posts recentes

  • Eixo Capital

Coronel da PM do DF minimizou risco em reunião antes do 8/1

Coluna Eixo Capital, publicada em 21 de novembro de 2024, por Pablo Giovanni (interino) Um…

7 horas atrás
  • Eixo Capital

Coronel minimizou risco em reunião antes do 8/1

Coluna Eixo Capital publicada em 21 de novembro de 2024, por Pablo Giovanni  Um áudio…

13 horas atrás
  • CB.Poder

Bug em app foi decisivo para PF obter detalhes do plano de golpe

Da Coluna Eixo Capital, por Pablo Giovanni (interino) Um relatório da Polícia Federal, que levou…

1 dia atrás
  • CB.Poder

Moraes ameaça multar presidente da CPI do 8/1 em R$ 50 mil

Texto de Pablo Giovanni publicado na coluna Eixo Capital nesta terça-feira (19/11) — O ministro…

2 dias atrás
  • CB.Poder

PF acessa celular de homem-bomba e apreende telefone de ex-companheira

Coluna publicada neste domingo (17/11) por Ana Maria Campos e Pablo Giovanni — A Polícia…

4 dias atrás
  • CB.Poder
  • Eixo Capital
  • Eleições
  • Notícias

Por determinação da Comissão Eleitoral da OAB-DF, Cleber Lopes se retrata, mas mantém promessa de isentar a anuidade de jovens advogados

ANA MARIA CAMPOS O colegiado da Comissão Eleitoral da OAB se reuniu na noite desta…

5 dias atrás