A cerimônia de diplomação dos eleitos do Distrito Federal, na noite de terça-feira, foi uma amostra do acirramento ideológico que deve marcar a próxima legislatura, tanto na Câmara Legislativa como no Congresso Nacional. A deputada federal Erika Kokay (PT), principal representante da esquerda na capital federal, recebeu seu diploma ao som de fortes vaias, gritos de “Fora PT”, e da música Bella Ciao tocada em um trompete. A rixa dos esquerdistas com os representantes da bancada conservadora, que foi intensa durante a eleição, sobretudo a nacional, segue firme mandato adentro. Em São Paulo, a cerimônia
Eleita para seu quinto mandato, Erika Kokay conta que nunca tinha ouvido vaias orquestradas em uma cerimônia de diplomação antes. “Estamos vivendo uma ruptura democrática, e elas não nos deixam esquecer disso. Esse é o símbolo da intolerância com a diferença”, disse a deputada federal. Ela lembrou que, em 2002, quando o então governador Joaquim Roriz foi reeleito, os petistas questionavam a legitimidade da eleição e optaram por não ir à diplomação. Os deputados do partido, posteriormente, foram ao TRE para buscar os documentos. “Em vez de vaiar, a gente optou por não ir à cerimônia. Foi uma posição política”, conta.de diplomação também foi tumultuada por uma confusão que começou quando integrantes de uma bancada coletiva eleita pelo PSol tentaram subir ao palco.
A aprovação do projeto do Executivo que reduz de 35% para 29% o ICMS do cigarro, aprovado em dois turnos na segunda-feira, criou uma polêmica com a equipe da futura administração. O governador eleito do DF, Ibaneis Rocha (MDB), havia pedido que o atual chefe do Palácio do Buriti, Rodrigo Rollemberg (PSB), enviasse à Câmara Legislativa, ainda neste ano, um projeto de lei prevendo a redução de alíquota de IPVA. Rollemberg se recusou a apresentar a proposição, com o argumento de que não havia estudos para embasar a medida e de que a legislação proíbe redução de tributos em ano eleitoral. Mas o projeto que baixa de 35% para 29% o ICMS do cigarro foi enviado pelo próprio Buriti no último dia 16 de maio — justamente em ano eleitoral. Aliados de Ibaneis ironizaram a contradição.
O governo argumenta que, no caso do ICMS do cigarro, a redução havia sido muito brusca, trazendo uma forte perda de arrecadação. Em setembro de 2015, o GDF propôs aumentar de 25% para 29% o imposto sobre produtos ligados ao fumo, mas distritais, principalmente os da bancada evangélica, atuaram para ampliar esse percentual para 35%. O governo alega que, no caso da alteração do ICMS do cigarro, há estudos para embasar a medida. Segundo técnicos do Buriti, a receita com o tributo sobre o fumo caiu 25% no ano passado, porque a majoração estaria provocando a migração das vendas de cigarro do DF para Goiás.
A Praça dos Três Poderes era, ontem à tarde, um retrato dessa divisão ideológica. Manifestantes favoráveis e contrários à soltura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniram em frente ao STF, depois que o ministro Marco Aurélio Mello proferiu uma liminar que poderia levar à saída de Lula da cadeia. Entre eles, estava a deputada federal eleita Bia Kicis (PRP), a maior aliada do presidente eleito, Jair Bolsonaro, no DF. Em vídeos, ela defendeu o impeachment do ministro da Corte e a revogação da PEC da Bengala. Bia lembrou, entretanto, que o andamento dessas medidas depende do futuro presidente do Senado. “Se não for o Renan, se for alguém menos corrupto, que não deva favores à Justiça, a gente pode conseguir o impeachment do ministro Marco Aurélio”, declarou no vídeo. “Só lembrando: a partir de 1º de janeiro, Bolsonaro será chefe de Poder e poderá pedir a intervenção militar no STF”, disse, nas redes sociais.
O futuro secretário de Educação, Rafael Parente, se encontrou ontem com o senador Cristovam Buarque (PPS). Entre cafés e uma longa prosa, eles falaram sobre o projeto chamado Escola Ideal, idealizado pelo parlamentar. “Foi muito bom, ele tem muito a me ensinar como político, como ex-governador e como uma pessoa que é referência para a educação no Brasil”, disse Parente. Cristovam também contou ao futuro secretário o que fez de errado à frente do Ministério da Educação e também em sua trajetória política. “Achei uma atitude de muita humildade. Ele vai ser um mentor para mim, ainda preciso de muita quilometragem e o Cristovam tem essa experiência”, acrescentou Rafael.
Recém-eleito para seu primeiro mandato, o deputado distrital Eduardo Pedrosa, atualmente no PTC, recebeu convites para migrar para o PSL, o PTB, o PSC, o MDB, o Avante e o PP. A legenda do parlamentar não alcançou os votos mínimos estabelecidos pela cláusula de barreira e, com isso, Pedrosa tem direito a escolher uma nova legenda. O PTC estuda uma fusão com o Avante e a permanência na sigla do vice-governador não está descartada. O distrital, entretanto, só vai bater o martelo depois da eleição para a presidência da Câmara.
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